sexta-feira, 29 de julho de 2011

Teatro para bebês

O Grupo Sobrevento realiza o Primeiro Teatro: Ciclo Internacional de Teatro para Bebês, nos CCBBs Rio de Janeiro e Brasília. A programação traz algumas das mais destacadas companhias e artistas, de três países europeus, que se dedicam ao teatro para a primeira infância (Laurent Dupont, da Cia. Acta – França, Cia. La Casa Incierta – Espanha, Antonio Catalano – Itália) em apresentações, palestras e oficinas.

Mostra Primeiro Teatro
26 Jul a 21 Ago
Local: Ver Programação | SCES, Trecho 2, lote 22
Horário: Quinta e sexta, às 15h e 17h | Sábado e domingo, às 11h e 15h


PROGRAMAÇÃO

Espetáculos:
Entrada franca.
No espetáculo Bailarina, entrada mediante retirada de senhas uma hora antes do início do espetáculo. Nos demais espetáculos, entrada mediante agendamento pelo telefone: 3108-7600.
Teatro II | Sujeito a lotação do teatro.

De 28 a 31 de julho – quinta a domingo – 11h e 15h
Bailarina | Grupo Sobrevento (Brasil)

De 4 a 07 de agosto – quinta e sexta - 15h e 17h / sábado e domingo – 11h e 15h
Meu Jardim | Grupo Sobrevento (Brasil)

De 11 a 14 de agosto – quinta e sexta - 15h e 17h / sábado e domingo – 11h e 15h
Geometria dos Sonhos | Cia. La Casa Incierta (Espanha)

De 18 a 21 de agosto – quinta e sexta - 15h e 17h / sábado e domingo – 11h e 15h
Espetáculo Tic Tac Tic Tac | Antonio Catalano (Itália)


Palestra:
Dia 16 de agosto | terça-feira, às 20h | Auditório
Palestra: I Ciclo Internacional de Teatro para Bebês - Com Laurent Dupont (França)

Oficina:
Inscrições: online, pelo site do Grupo Sobrevento, clicando AQUI.
De 17 a 19 de agosto | Quarta a sexta-feira, de 18h às 21h | Pavilhão de Vidro
Teatro para a Primeira Infância - Com Laurent Dupont (França)

rodrigo.c.miranda@gmail.com

A síndrome da pressa


“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. (José Saramago).

J. Augusto V. Camera
RIONET
A partir dos anos 90, a determinação política da nossa elite de alinhamento incondicional à política neoliberal americana provocou profundas mudanças estruturais no mercado de trabalho brasileiro.
Novos conceitos de gerenciar em face dos trabalhadores foram difundidos e implantados. Incrementou-se intensa pressão psicológica sobre o trabalho. Constantes ameaças de demissão e aviltamento do ganho do trabalho era a tônica.
Os profissionais foram submetidos a uma concepção que mais adiante resultaria em problemas psíquicos e de saúde. A doutrina neoliberal definia cuidadosamente condutas politicamente corretas a serem acatadas pelo trabalhador de modo a se extrair o máximo do indivíduo pelo menor custo. O desemprego estrutural funcionava como um catalisador.
Muitos lembram como eram valorizados o empregado ou servidor público que trabalhava além do horário sem receber pela hora extra, como indisfarçada forma de se driblar a lei e reduzir mais a remuneração.
No Banco Central, entre outras perguntas estampadas na avaliação do concursado em estágio probatório uma delas inquiria se o servidor se dispunha de bom grado a ficar depois da hora, trabalhando e sem receber pelo tempo extra. E tudo era urgente. Era a gênese da neurose institucionalizada.
Na iniciativa privada, o empregado que, exaurido, não mais correspondesse em decorrência da precarização da saúde era trocado por um dos milhares de desempregados disponíveis, como se fora a peça defeituosa dessa diabólica engrenagem. O desemprego e a estagnação da economia eram um farto combustível para essa máquina cruel.
Diante das considerações expostas, selecionou-se um texto sobre qualidade de vida oriunda de uma reportagem assistida no Jornal Hoje da Rede Globo, que descrevo a seguir para que as pessoas tenham consciência dos efeitos danosos causados através dos equívocos e desatinos da era Collor/FHC.

Eis o texto:


Você é daqueles que assume vários compromissos ao mesmo tempo com frequência? Sente-se culpado se não está produzindo? Costuma interromper a fala das outras pessoas? É impaciente? Faz as refeições correndo ou tem sono agitado? Está sempre em estado de alerta? Reserva tempo para lazer e tem contato com a natureza? Aproveita a companhia da família sem pressa e sem estresse?
Caso responda “sim” às primeiras perguntas, deverá pensar mais na qualidade de vida.
Sigmund Freud descreveu já no início do século XX os sintomas da neurose da ansiedade, denominada hoje pela Associação Brasileira de Psiquiatria como transtorno da ansiedade generalizada, conhecida entre os gestores de Recursos Humanos como a síndrome da pressa.
Geralmente é identificada em pessoas que trabalham em regime de pressão, assumem inúmeros compromissos, têm muitas tarefas e tentam executá-las o mais rápido possível.
Não é muito difícil encontrar alguém assim num mundo que é controlado pelo tempo, pelas metas e pelos resultados. Um ambiente de trabalho desequilibrado é propício para que os colaboradores desenvolvam esse distúrbio.
Se essa correria toda for constante será extremamente prejudicial à saúde física e mental. O estresse que tal comportamento gera é elevado. Médicos alertam para o risco de infarto, de surgir úlceras e gastrites, de depressão, além de prejudicar as relações sociais e afetivas. Sabe-se que funcionário doente é sinônimo de produção comprometida.
Quando o trabalho é cercado de pressão pelo cumprimento de metas, mais produção e cobrança pela superação dos limites, alguns funcionários podem até corresponder, num primeiro momento. Afinal, é preciso se destacar.
Sidney Zenobio, gestor de RH da Gnetwork ressalta que “até certo ponto, é positivo, mas não em demasia”. Não demora a comprometer a qualidade do desempenho. “O profissional fica com dificuldade de se concentrar e a criatividade é afetada em decorrência do imediatismo na hora de resolver os problemas”, lembra.
Christian Barbosa, especialista em gerenciamento de tempo e produtividade, explica que é comum haver inversão de valores sobre o que é de fato urgente e importante.
Saber priorizar tarefas e ter um planejamento consistente sobre as metas são fundamentais para que haja um bom resultado. Com isso, muitas “urgências” podem ser evitadas. Uma pesquisa realizada pela Triad PS no ano passado, com 1600 pessoas, revelou que 33% delas gastam até duas horas do expediente com ações improdutivas, tais como e-mails particulares, redes sociais, compras pela internet etc.
O especialista assinala que muitas vezes a pessoa desenvolve a síndrome da pressa porque lá trás ela gerencia mal o tempo dela. A pesquisa mostrou que 80% dos brasileiros enrolam entre 30 minutos e três horas por dia, na média. No final do dia, acabou o tempo, e a pessoa descobre que ainda tem milhares de coisas a fazer.
Pronto – entra no modo “pressa”, atropela todos, gera urgências para todo mundo e, não raro, faz hora extra ou trabalha no final de semana. Noutra ponta está aquele que soube priorizar o que de fato era importante, assumiu o controle do tempo, cumpriu as tarefas e terminou o expediente dentro do horário.
Saber controlar a ansiedade e desacelerar é um desafio para o bem da própria saúde. Muitas vezes, o portador do transtorno da ansiedade generalizada não tem noção do comportamento nocivo. Para Sidney Zenobio, da Gnetwork, “quem não lida bem com o tempo sofre mais”.
Mudar esse tipo de comportamento não é fácil. Requer determinação, assim como acontece com quem quer emagrecer ou parar de fumar.
Christian Barbosa aponta que há sistemas que facilitam o gerenciamento do tempo, como planilhas ou programas desenvolvidos por consultorias. Na verdade, bastaria um simples caderno para anotações.
Mesmo assim, 70% das pessoas que começam um processo de reorganização do tempo desistem em três semanas. É comum que as pessoas com a síndrome digam que um sistema, uma planilha para colocar tudo que precisam fazer, as fará gastar mais tempo que executar direto as tarefas. “É justo o contrário – planejamento ajuda a ter mais tempo para fazer o que se quer de verdade”, afirma Barbosa.
Não existe receita pronta para resolver o problema. “Cada um precisa analisar, ver o que está errado e se existe algo em excesso ou faltando para alcançar o equilíbrio”, recomenda Zenobio.
“Temos que parar e entender que: o problema não é que as pessoas não tenham tempo. Elas o têm de sobra, mas usam mal. Fazer a gestão e aprender a gerenciar o tempo é urgente”, salienta Barbosa.

J. Augusto V. Camera é Advogado Especialista e Analista na Adrja

quinta-feira, 28 de julho de 2011

CHANGES



Por Rosi Moura
Rionet
Tudo começou com uma pergunta inocente, como começam tantas histórias simples ou complicadas, engraçadas ou trágicas. O curioso foi ter se dado lá na sala da casa mineira, na cidadezinha pequena, com um casal de amigos, em torno de umas boas pizzas. Ríamos muito de uns toques nos celulares deles, quando o dono do brinquedo berrante perguntou o de vocês tem bluetooth? Pausa. Risadaria. Não sabíamos. Aliás, mal sabíamos o que era aquilo. Um botãozinho, uma facilidade? Uma flor? Olha que uma das garnisés, lá no quintal, tá botando ovo azul!

Três idades estavam ali reunidas: uma anciã, dois adultos e dois jovens. Sem maiores surpresas, as novidades partiam dos mais novos naquela noite extremamente fria, perfeita para o vinho tinto. A senhora, do alto de seus oitentinhas, olhou firme e recomendou que não permitíssemos aquele negócio de um mexer no blutuf do outro. Dobraram os risos, entre tentativas de explicar e entender a coisa. Tudo esclarecido, começaram as providências. Aperta a sua tecla, quer qual música?, cê tá sem memória.

Antigamente, estar sem memória era caso sério e preocupante. Ali era questão de escolher quais mensagens deletar (verbo razoavelmente jovem). E seguiu-se um tal de vira o aparelho pra cá, procura a melhor posição, olhar maroto de um lado, gargalhada de outro e pronto. Em menos de vinte minutos tínhamos os toques galhofeiros (e até minha adorada Clair de Lune) em nossos telefones móveis. Bluetooth não é botão de flor nem dente azul, é onda de rádio de curto alcance. É tecnologia, é empresa, é marca. Registrada.


Isso integra a vida dos idiomas. Todos. Expressões são cunhadas de súbito, velhos vocábulos ganham diferentes sentidos. Às vezes, mudam os objetos sem alterações nos nomes. Antena era uma coisa grande e feia no telhado e outra pequena e chifruda em cima da televisão, desafiando qualquer decoração interior. Agora é uma coisa diminuta, invisível, no interior de celulares e afins. Afim podia ser junto, com afinidade, ou separado, explicando motivo. Agora temos o estar a fim, ou seja, querendo alguma coisa.

O Português do Brasil é uma alegria, ainda é doce como soube a Eça de Queiroz. Continua com seu gerúndio meio fora do eixo, em estilo anglo-saxão, continua abraçando estrangeirismos com a mesma cordialidade com que abraçamos turistas, continua muito vivo. E não é o único que padece de interferências. É apenas o idioma que entendemos melhor. Ou o que não entendemos melhor. Lógico, o repertório do falante nativo garante menor dificuldade de compreensão. Se hoje eu disser isso é uma brasa, mora?, os adolescentes vão estranhar e rir, mas pensarão em algo quente. Alguns talvez saibam dessa e outras expressões cunhadas pela antiga “jovem guarda”, do tipo essa garota é papo firme. Gíria morta de um rei que continua bem vivo e ativo. Acontece.

Às vezes, também acontece a permanência de significante, apesar de transformação completa do significado. Me ocorre, neste instante, que Marta Rocha era nome de Miss Brasil. Agora é nome da Chefe da Polícia Civil.

Rosimere Fonseca de Moura, servidora aposentada, é professora de Português, escritora e poetisa, autora do livro Modos e Marés.(rosimere.moura@bcb.gov.br)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

JOGO DE CENA

Nesta quarta, a partir das 20:00, teremos mais um Jogo de Cena no Teatro da Caixa. Para quem não conhece, o Jogo de Cena é um espetáculo já tradicional aqui de Brasília, onde são apresentados trechos de peças de teatro, de shows musicais e outras expressões artísticas. Neste Jogo de Cena em especial, minha esposa Wal Andrade é a artista convidada, e estará pintando um quadro durante as duas horas que durar o show.

Vejam o programa completo em
http://www.jogodecena.com.br/site/jogodecena/programa/

alexandre.lobão

terça-feira, 26 de julho de 2011

Vaga lembrança

Roberto de Carvalho Vivas
Servidor aposentado – Rio de Janeiro - robertovivas@bcb.gov.br

RIONET


Ninguém pode duvidar que o dicionário perdeu a identificação de “pai dos burros” para o Google, que ensina muito mais que sinônimos. E com tanta informação lá guardada, todos temos agora um espaço vago na memória, com uma única mensagem pulsando “Esqueça! Tem no Google”!
Até há bem pouco tempo, entre nossos parentes, amigos ou colegas, havia sempre um cara erudito, de memória privilegiada, que respondia a tudo “de cabeça”, sem qualquer consulta. Geralmente era identificado – ou apelidado – como Professor Pardal ou coisa parecida. Nas épocas de prova, era difícil encontrar lugares vagos ao seu lado na sala. Aqui no BC, não raro, eram fonte de consultas dos demais: “Qual é mesmo a circular que trata disso”?... À pergunta do “como conseguia”, ele brincava “Antes de dormir, leio sempre uma resolução e uma circular do BC”.
Hoje não há mais necessidade de demonstrarmos nossa ignorância, ou a preguiça. Tudo fica disponível, em segundos, a partir de um celular, iPad, iPhone, notebook, etc.: resoluções e circulares do BC, números de telefones, trajeto de ruas, afluentes da margem esquerda do rio Amazonas, receita do bolo da vovó, como fazer barquinhos de papel ou a divertida cama de gato de barbante.
Para aqueles que tem mais de 50 anos, isso é um alívio. Chega justamente na hora em que os episódios de exercício de memória começam a nos deixar encalacrados. E como sempre há espertos para tudo, na rua - nas imediações do BC mesmo – devemos ficar atentos com a frase “Ôôôô, quanto teeempo!”, se partir de alguém que portar uma pasta grande. É que já há uma técnica de venda com abordagem de pessoas cuja aparência denotam pouca memória ou muita idade. E depois da pergunta inicial, o objetivo de parar-nos é conseguido, com nossos neurônios procurando a identificação da pessoa. Vem então um chororô “Estou em dificuldades e vendendo umas coisinhas. Não quer ajudar o antigo amigo”?
Melhor forma de um bom uso dessa memória, seria imaginarmos o que Google não pode guardar. As fases da cama de gato de barbante – cujo nome nunca entendi – estão lá, mas não o sentimento gostoso das risadas ou mesmo da irritação dos filhos pequenos, diante do erro na brincadeira. Também os movimentos das mãos para formar a sombra de bichos na parede estão lá, mas não que a brincadeira ocorria diante da vela acesa trepidando, ante a falta de luz, e que a chama tornava o ambiente meio fantasmagórico, o que causava um certo medo nas crianças. E a lembrança do cheiro e do sabor gostoso do bolo quentinho da receita da vovó, recém-saído do forno?... Não tem no Google!
Dizem sabiamente os vascaínos “o sentimento não pode parar”! E é ele que a web nunca vai guardar. Cabe-nos ocupar o espaço liberado pelas modernidades, preservando e repassando para filhos, netos e coleguinhas deles os prazeres e as sensações maravilhosas do convívio familiar saudável e constante, seja através de uma brincadeira tradicional, seja de um momento de oração, seja assistindo um filme, etc., etc. Pela preservação da “vaga lembrança”, porque o resto tem no Google!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Colunista da RIONET tem texto escolhido



O texto "Dois amigos" de, Mario Marcio Damasco, colunista da Rionet, foi escolhido para fazer parte do livro “68 - A geração que queria mudar o mundo – relatos”. A publicação é fruto do esforço coletivo em favor da luta contra o esquecimento daquele que foi um dos períodos mais deploráveis da história brasileira e insere-se no projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Prestaram depoimentos nomes como o de Milton Coelho da Graça, Arthur Poerner, Maria Lucia Dahl, Norma Bengell e João Otávio Goulart Brizola.

"Além de mim, apenas dois outros colegas se interessavam, de longe, pelo assunto. Lá uma vez ou outra conversávamos a respeito. Influenciados pelos pais, eles acreditavam, sem embasamento ou convicção, nas boas intenções da recém instalada “revolução”.

Desde o início e com maior intensidade em 1965, tentei alertar-lhes para a truculência de um movimento que “regulamentava’’, através da força, a violência das suas atitudes. Contudo, eles se recusavam a acreditar.

Nesse ano, três acontecimentos foram sintomáticos.

Em uma noite, esses dois amigos me acompanharam até colégio. Fazíamos “hora” na entrada, quando vimos chegar, de braços dados, o diretor e a sua esposa. “Cantando pneus”, surgiu, no início da rua, um jipe recheado de policiais. Separaram, com brutalidade, o casal. Algemaram o homem e jogaram-no dentro do jipe. Meus dois amigos não me encararam, apenas se entreolharam em silêncio. O diretor, homem estimado e reconhecido na cidade e que pertencia a um partido de esquerda, foi preso e destituído do cargo, sob a alegação de ser um perigoso “comunista comedor de criancinha”.

Sob nossas vistas, a caminhonete do DOPS, parou em frente ao sindicato dos metalúrgicos. Os policiais invadiram o prédio e quebraram tudo à procura do presidente, que não se encontrava. Após alguns minutos, calmamente, surgiu o presidente do sindicato. Foi preso e algemado como um perigoso “agente vermelho”. Ele não fazia parte do nosso convívio, mas, sabíamos que era um correto e pacato cidadão. Quem sabe, apolítico? Novamente, os dois não tiveram condições de me encarar.

Salão de sinuca no centro de Friburgo. Um desses meus amigos ganhou uma disputa a dinheiro de um policial do Dops de revólver à mostra. O sujeito não se conformou. A confusão se estabeleceu. O policial empunhando a arma, acintosamente, ameaçou a todos. Sem outro jeito, fomos embora. O meu amigo desabafou:

- “Depois dessa maldita revolução, qualquer policial de merda virou autoridade!”.

Aprovados no vestibular no início de 1966, os dois amigos mudaram-se para Niterói.

No primeiro final de semana de abril de 2007 estavam em Friburgo. Na noite de sábado, a turma estava reunida. Percebendo que eles apresentavam escoriações pelo corpo, não resisti e perguntei o que aconteceu.

- “Esses são os ”prêmios” oferecidos pelos militares pela nossa participação nos protesto pela invasão do restaurante do “calabouço” e pela morte do Edson Luis, aquele estudante de 17 anos...”, responderam.

E depois, me olhando no fundo dos olhos, completaram:

“Tomamos muita porrada, mas enfrentamos aqueles brucutus. Estamos de alma lavada! Faltou você! Mesmo apanhando, você ia se realizar! Igual a gente!”.”

sexta-feira, 22 de julho de 2011

LANÇAMENTO DE LIVRO



A Livraria LDM e a Escrituras Editora
convidam para o lançamento do livro


Sangue
Novo




21 poetas baianos do século XXI

Organizado por José Inácio Vieira de Melo



Sábado, 23 de julho, das 10h às 14h, na Livraria LDM.
(Rua Direita da Piedade, 22. Próximo ao Banco do Brasil e à Secretaria de Segurança Pública)

Outras informações:
71 21018007
eventos@livrariamulticampi.com.br



Sangue Novo é um projeto encabeçado pelo poeta José Inácio Vieira de Melo com o intuito de divulgar novos autores, entrevistando-os e publicando alguns de seus poemas, a serem reunidos, posteriormente, num único livro. Aqui podemos acompanhar as atualizações dos blogs de alguns desses poetas, além de postagens relacionadas à poesia.

“No tempo e pelos tempos, os poetas têm conduzido o fogo sagrado da linguagem que inaugura o ser. No tempo e pelos tempos, os poetas passam, de mãos em mãos, de geração a geração, a tocha da chama da poesia. Essa renovação acontece com a chegada dos novos vates, aqueles que crescem experimentando o borbulhar da criação através do signo verbal, através da palavra que transforma seu próprio sentido e os sentidos de quem a absorve. A coletânea “Sangue novo – 21 poetas baianos do século XXI” cumpre a missão de manter a chama acesa. Não por um dever cívico, mas porque cada um dos poetas tem em si a poesia como um imperativo existencial. Claro que o estradar destes artistas da palavra está apenas começando, mas todos já estão no caminho, todos já estão embrenhados no labirinto da linguagem. Cada qual, à sua maneira, trilhando as searas que mais lhe apetecem e, aos poucos, descobrindo como palmilhar por essas veredas de encantos e de estranhamentos. Desejo, para os 21 condores, condutores da chama da poesia, que seus versos ganhem asas e que suas vozes ecoem na amplitude de cada leitor”.



JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

Relação dos 21 poetas:

Alexandre Coutinho
André Guerra
Bernardo Almeida
Caio Rudá de Oliveira
Clarissa Macedo
Daniel Farias
Edson Oliveira
Érica Azevedo
Fabrício de Queiroz
Gabriela Lopes
Georgio Rios
Gibran Sousa
Gildeone dos Santos Oliveira
Janara Soares
Lidiane Nunes
Priscila Fernandes
Ricardo Thadeu
Saulo Moreira
Vânia Melo
Vanny Araújo
Vitor Nascimento Sá

danielfarias.art.br
(11) 8154-5266 - tim (71) 8843-4248 - oi



quinta-feira, 21 de julho de 2011

ELOGIE DO JEITO CERTO



rodrigo.paula
Recentemente um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta que você é!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!” ... e outros elogios à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou na tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”, “Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!” ... e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram obrigadas a cumprir a tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência. As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa.
As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente”. As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado.
Nós sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “médios” obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas. No entanto, isso não é tudo.
Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado. Nossos filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com medo... você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram... você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”.
Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real. Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda você é amor”, “acho você muito esperto meu filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente. Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil. Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante.
Seus textos encontram-se no site http://www.marcosmeier.com.br/

LANÇAMENTO DE LIVRO






A SYNERGIA EDITORA E
PAULO CÉSAR RIBEIRO LIMA

têm o prazer de convidar para o
lançamento do livro







PRÉ-SAL

O NOVO MARCO LEGAL E A
CAPITALIZAÇÃO DA PETROBRAS

11/08

Horário 19h30min

LOCAL Brasília
Restaurante Carpe Diem 104 Sul
Local: SCLS, 104 Bl. D Loja 01


Paulo Cesar Ribeiro Lima, Mestre e PhD, foi servidor do BC no período de 06/2002 a 05/2004 e trabalha atualmente como Consultor Legislativo na Câmara dos Deputados.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Primeira Noite Em Paris


A primeira noite em Paris a gente nunca esquece. Lembro-me bem, foi no dia 2 de agosto de 1985, uma sexta-feira. Mas até chegar aquela sexta, houve outras sextas de muita ansiedade. Naquela época não era tão fácil viajar quanto é hoje. Não havia internet para fazer reservas de hotéis com antecedência, não havia e-mail para resolver pendências durante a viagem e, principalmente, não havia cartão de crédito para esticar o orçamento numa emergência. De parecido, somente o preço da passagem: mil dólares, há 26 anos.
Eu nunca tinha saído do Nordeste, nunca tinha andado de metrô e mal sabia conjugar o verbo to be. O cenário era cinza. Mas a vontade de viajar era tanta que eu só enxergava azul, vermelho e branco. A primeira providência foi comprar um livro das edições de ouro, “Aprenda francês em 30 dias”. Como só havia três semanas até a viagem, priorizei três seções: “no aeroporto”, “na estação de trem” e “na padaria”. Deixei de lado “no restaurante” e “no hotel”. A verba era muito curta, a conta não fecharia, eu não poderia ir a restaurantes nem me hospedar em hotéis.
O plano era ficar vários meses na Europa, até o dinheiro acabar ou o frio chegar, o que ocorresse primeiro. Naquelas circunstâncias, ainda mais, as duas necessidades básicas de um nordestino em terra estrangeira eram comer e dormir. Comer não me preocupava muito, bastaria escolher uma das duas opções: almoço ou jantar. Um bom café da manhã eliminaria o almoço. Em dias em que não houvesse hospedagem, o café não estivesse já no preço, seria o almoço a principal refeição do dia. Dado o aperto no orçamento, não poderia me hospedar todos os dias nem mesmo em albergues. Teria de alternar: noites em albergues, noites em estações de trem. Sim, tinha ouvido dizer que era muito comum mochileiros dormirem nas estações. Um dos problemas é que eu não me enquadrava nem mesmo na categoria dos mochileiros. Mas só fui descobrir isso lá. Um mochileiro, por definição, usa mochila. Não levei uma mochila nem propriamente uma mala. Levei uma espécie de sacola grande com duas alças. Duas pessoas a carregariam melhor. Tive ajuda logo no primeiro dia, vocês verão.
Um amigo, ao saber do meu plano, tentou me convencer a desistir dele. Vendo que não iria ter êxito, restou-lhe tentar me ajudar de outra forma. “Tenho uma amiga, casada com um francês, que mora em Paris. Ela é gente boa”, disse ele. Pensei: resolvido o problema da hospedagem. Havia outro problema a ser resolvido antes de partir, um doméstico: como explicar aos meus pais que eu iria viajar à França com pouco dinheiro, sem nunca ter saído do Nordeste, sem saber falar quase nada. Mas antes de contar o plano, comprei a passagem. Do contrário, correria o risco de eles me convencerem a desistir da viagem. “Mãe, a senhora não se preocupe. Tenho um amigo que tem uma amiga casada com um francês. Eles moram em Paris. Meu amigo já telefonou para eles. Vou ficar hospedado lá. É só nos primeiros dias. Depois, fico em hotéis. É tranquilo”. Ela virou-se para o meu pai e disse: “Antonio, convença esse menino a desistir disso, tá vendo que não vai dar certo?!”. Meu pai também não aprovava a ideia, mas ele não queria admitir: “Lenita, deixa o menino ir, vai ser bom pra ele, sair de casa, aprender”, disse meu pai, sem convicção.
Passou-se outra sexta-feira de muita ansiedade e chegou o dia do voo Air France Recife-Paris. Naquela época, tudo só se resolvia por Recife. Hoje, os portugueses da TAP trouxeram a ponte aérea Fortaleza-Lisboa; e os espanhóis da Ibéria, a ponte aérea Fortaleza-Madri. A expectativa era grande na chegada ao aeroporto Charles de Gaulle. Afinal, eu estava desempregado, levava pouco dinheiro e não tinha reserva de hotel, apenas o endereço da brasileira. Houvesse um Sarkozy em 1985 e eu teria sido deportado no primeiro voo. Mas o presidente era François Mitterrand, que nem exigia visto dos brasileiros. Grande Mitterrand. Seu representante na alfândega carimbou meu passaporte sem puxar conversa. Ainda bem. Logo no aeroporto, o livro “Aprenda francês em 30 dias” não surtia o efeito desejado. Eu tinha decorado umas frases; o problema era a pronúncia, que não se encaixava direito.
Como não sabia andar de metrô, fui de ônibus até o centro da cidade luz. De lá, consegui chegar a uma praça que ficava perto do apartamento da amiga do amigo, a brasileira casada com o francês. Eu carregava com dificuldade o sacolão e, na mão esquerda, levava o endereço da minha primeira hospedagem. Por sorte, a colônia portuguesa em Paris era grande nos anos 80. Um senhor veio me ajudar, um português. Ele me levou até o apartamento do casal e tocou o interfone. A brasileira atendeu, disse “pode subir”. No elevador, havia uma senhora com um cachorro. Ela não foi muito simpática. Pelo tamanho do sacolão, deve ter pensado “veio para ficar, é mais um imigrante”.
A brasileira, um pouco desconcertada, me recebeu bem. “Meu marido está no trabalho, vai demorar um pouco”, explicou. Ela tinha saudades do Brasil. Conversamos, contei as novidades. Era o governo Sarney, o assunto foi inflação. Enquanto o marido não chegava, aproveitei e pedi uma aula de como andar de metrô. Horas depois, já tarde, chegou o marido. Era bem mais velho do que ela. Começaram a conversar e, embora eu não entendesse quase nada do que diziam, percebia que o francês não via com muita simpatia a ideia de eu me hospedar lá por uns dias. Vá lá, que fosse uma noite apenas, a mais difícil de todas, a primeira e já estaria de bom tamanho.
Ela traduziu para mim: “Olha, não vai dar certo você dormir aqui, é agosto, um cunhado vem passar férias com a gente. Mas meu marido vai lhe indicar um hotel bom e barato”. O plano B era um albergue; e o C, uma estação de trem. Mudei de assunto: “Estou pensando em conhecer também Bruxelas, fica perto, queria visitar o principal ponto turístico de lá, a estátua do menino fazendo xixi, o Manneken Pis”. O francês emendou: “O trem sai da Gare du Nord. Levo você até a estação de metrô mais próxima”. Depois explicou que o bom de Bruxelas era mesmo só a Grand Place. Não deu tempo para mais nada. Ele foi logo pegando numa das alças do sacolão. “Vamos, antes que fique mais tarde”, apressou. No trajeto até a entrada da estação do metrô, ele segurava numa alça; e eu, na outra. Não houve diálogo. Nem poderia. Apontou para a boca do metrô e lá me deixou.
Já era noite quando cheguei à estação de trem. Procurei os mochileiros, queria me juntar com eles. Alguns já se preparavam para dormir na estação. Fui ficando. Amanhã procuro um albergue, pensei. A conversa parecia animada. No grupo, entre outros, havia uma moça da Dinamarca, um rapaz da Suécia, uma belga e um espanhol. Na verdade, ele não se considerava espanhol, era da Catalunha. Fui então apresentado ao sleeping bag. Pois é, todos usavam um saco de dormir. Eu tinha levado um colchonete com um lençol. E vocês precisavam ver o tamanho da pochete. Tudo ia bem até por volta das duas da manhã. Quando já estávamos acomodados, dormindo, chegaram uns seguranças da estação. Disseram que a gente não poderia dormir lá dentro. O jeito foi sair. E fui seguindo o grupo. O albergue iria ficar mesmo para a noite seguinte. Todos se deitaram na calçada, em frente à estação Gare du Nord. E lá dormimos. Pelo menos, tentamos.
De manhã bem cedo, com o sol no rosto, me despedi dos mochileiros e fui à padaria mais próxima. Depois do croissant, procurei um telefone, precisava ligar para minha mãe e contar como tinha sido minha primeira noite em Paris. Não tinha dormido bem, por óbvio, mas se eu contasse como tinha sido aquela noite, quem passaria a não dormir bem seria ela.
– A senhora se lembra do apartamento da amiga do amigo, a brasileira casada com o francês? Não quis incomodar o pessoal, achei melhor dormir num hotel.
– Meu filho, a viagem foi boa? Você dormiu bem ontem?
– Sim, muito bem. O hotel é perto da Torre Eiffel. Da janela do quarto, dá pra ver a torre. À noite, toda iluminada, ela fica muito bonita.
– Não deixe de mandar notícias!
– Fique tranquila, não se preocupe. Vou mandar um postal da torre. Um beijo na senhora e no pai.
Ainda pensei em dizer que eu tinha me hospedado no Ritz, mas ela não iria acreditar.

acoelhof – Fortaleza (acoelhof@gmail.com)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Meu filho, você não merece nada


Por Eliane Brum - Época



Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.


ELIANE BRUM Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo). E-mail: elianebrum@uol.com.br Twitter: @brumelianebrum




terça-feira, 12 de julho de 2011

Droga 'disfarçada' já movimenta bilhões e preocupa os EUA



By Ben Paynter

Businessweek

É tarde de uma sexta-feira de abril e Wesley Upchurch, o jovem de 24 anos que é o proprietário da Pandora Potpourri chegou à sua fábrica para encaminhar algumas encomendas de última hora para o fim de semana. A fábrica é uma garagem sem identificação, vizinha de uma oficina mecânica em Columbia, no Estado americano do Missouri. O que Upchurch e seu único funcionário contratado em período integral Jay Harness, 21 anos, estão fazendo é questionável, pelo menos no ponto de vista dos dois.
O produto acabado parece maconha comprimida e é vendida a US$ 13 no atacado, em embrulhos de três gramas. Seu principal ingrediente é um cannabinoide sintético que imita o tetraidrocanabinol (THC), o princípio ativo da maconha.
O espaço de trabalho consiste de uma mesa comprida e dobrável, com uma pilha de plantas, uma balança eletrônica do tamanho de uma calculadora de bolso, uma pilha de papel-alumínio rosa-choque e um selador a quente. Cada pacote leva a marca Bombay Breeze e é decorado com uma logomarca psicodélica de um elefante de história em quadrinhos meditando entre rolos de fumaça e estrelas.



Upchurch coordena os trabalhos enquanto Harness pesa porções da folhagem prensada, empacota e desliza a ponta do embrulho para a máquina de selagem a quente para criar uma embalagem hermética. Ele finaliza cerca de uma dúzia delas em 10 minutos, chegando ao número que eles vão precisar para atender os pedidos: dois carregamentos de mais de 1.000 pacotes cada. Upchurch aponta para uma ressalva na parte de baixo de cada pacote, à direita, onde se lê em letras maiúsculas: "INADEQUADO PARA CONSUMO". Upchurch diz: "Isso é para desencorajar o abuso".
Apesar de seus protestos, o produto da Pandora está sendo consumido - fumado em cachimbos d'água e resenhado em sites como o YouTube - por sua capacidade de alterar a mente. Assim como muitos outros, Upchurch está reembalando produtos químicos medicinais para serem vendidos no mercado varejista, frequentemente com palavras engenhosas de duplo sentido nas marcas. Ele diz que vende cerca de 41.000 pacotes por mês, entregando-os diretamente para 50 lojas espalhadas pelo país, e envia o resto para cinco outros atacadistas, alguns dos quais usam os produtos da Pandora para criar suas próprias marcas. Upchurch diz que sua companhia terá uma receita de US$ 2,5 milhões e lucro de US$ 500.000 este ano, dependendo do que as leis federais e estaduais permitirem.
"Incensos" como o de Upchurch, juntamente com "sais de banho" e até mesmo "desinfetantes de vasos sanitários" vêm pipocando em postos de gasolina, lojas de conveniência, "coffee shops" que não vendem muito café, e sex shops.
Os canabinóides sintéticos são os mais comuns entre uma variedade crescente de drogas que reproduzem efeitos de substâncias ilegais, a maioria cultivada, mas são baseadas em compostos manufaturados e muitas vezes legais.
Em poucos anos uma complicada rede de fornecimento global, possibilitada pela internet, surgiu para produzir, embalar e despachar uma variedade cada vez maior de narcóticos. Ela está abocanhando uma parcela cada vez maior do mercado de drogas recreativas, estimado por Jeffrey A. Miron da Universidade Harvard e do Cato Institute, em US$ 121 bilhões na América do Norte.



Scott Collier, do órgão do governo americano responsável pelo combate às drogas (DEA, na sigla em inglês) em St. Louis, estima que há hoje pelo menos 1.000 fabricantes de drogas sintéticas nos Estados Unidos. Este número diz respeito apenas àqueles que possuem marcas reconhecidas. "Acrescente as pessoas que estão usando a internet como ponto de fornecimento e fabricando nos porões, e esse número aumenta consideravelmente", afirma ele. Muitas drogas sintéticas são fáceis de serem produzidas; vídeos detalhando o processo, com 10 minutos de duração, podem ser vistos no YouTube.
Embora não monitorado nos EUA até poucos anos atrás, o mercado do tipo de "incenso" vendido por Upchurch gera hoje perto de US$ 5 bilhões por ano, segundo Rick Broider, presidente da North American Herbal Incense Association (Nahita), que representa mais de 650 fabricantes, atacadistas e varejistas. Broider diz que seu número é baseado nas estatísticas de vendas fornecidas pelos membros.
Daniel Francis, diretor executivo da Retail Compliance Association, outra organização setorial, fundada para ajudar a informar e proteger os direitos dos comerciantes, diz que contratou um analista independente que chegou a um número parecido.
Segundo a entidade que reúne as câmaras de deputados estaduais, pelo menos 32 Estados americanos promulgaram leis proibindo vários tipos de canabinóides sintéticos. Outros 18 aguardam legislações que aumentem as penalidades.
A maconha sintética ganhou notoriedade pela primeira vez na União Europeia em 2006; pelo menos 21 países membros informaram sua presença em 2009. (Enquanto os EUA e muitos outros países começaram a declarar ilegais esses produtos, pelo menos um, a Nova Zelândia, seguiu o caminho inverso. Em março, o governo anunciou um plano para legalizar a venda de produtos com os analgésicos JWH-018 e JWH-073 para qualquer pessoa com mais de 18 anos.)
As drogas sintéticas também não estão limitadas apenas à reprodução dos efeitos da maconha. Os chamados sais de banho ou desinfetantes de vasos sanitários são, na verdade, a segunda onda das drogas sintéticas: alternativas químicas que simulam os efeitos de substâncias mais pesadas - algumas orgânicas, outras não - como as metanfetaminas, a cocaína, o esctasy, o ácido lisérgico (LSD), a fenciclidina (PCP) e até mesmo coquetéis que misturam todas essas substâncias.



Pelo menos 38 estados americanos já baniram ou aguardam legislações para proibir alguns catinonas sintéticos, que reproduzem os efeitos de algumas drogas como as metanfetaminas.
A sociedade pode estar apenas começando a entender as implicações de uma nova categoria de drogas que promete paraísos artificiais como os produtos orgânicos, sem os incômodos do cultivo, que podem ser transportados em pequenos tijolos, e não em pacotes, que cães amestrados não podem, ou ainda não sabem, como identificar, e que não deixam resquícios nos testes antidrogas. Tudo indica que as réplicas sintéticas de drogas cultivadas, sejam elas legais ou não, chegaram para ficar.
Conforme afirma Collier, "a corrida começou".
Paul Cary, director do Laboratório de Toxicologia e Monitoramento de Drogas da Universidade de Missouri Health Care em Columbia, Missouri, trabalha como consultor especializado da associação nacional dos juizados que cuidam de casos de uso de droga (National Association of Drug Court Professionals). Testes de urina que detectam alguns compostos de JWH foram desenvolvidos no fim de 2010, mas segundo ele esses testes ainda são caros e estão disponíveis apenas em um pequeno número de laboratórios especializados no país.
Jeremy Morris, um respeitado cientista forense do Kansas, pega sua amostra de pesquisa - um torrão de maconha e um pacote de incenso de marca Bayou Blaster - e a coloca em uma mesa ao lado de um microscópio.
O Kansas foi o primeiro Estado americano a proibir os canabinóides sintéticos, graças em grande parte ao trabalho de Morris e de sua equipe de químicos. Ele não cai na história do "incenso". "Está bem claro que as pessoas que estão vendendo esse produtos encontraram uma maneira legal de se transformarem em traficantes", afirma ele.
A erva claramente é maconha. É de um verde acastanhado, com um aroma doce e penetrante. E é "peluda", coberta com os chamados pelos cistolíticos. "A maioria das plantas não possui esse tipo de pelagem, a não ser o ópio", afirma Morris. Nas ruas, o perfil físico é suficiente para a polícia confiscar o material e incriminar as pessoas por posse de entorpecentes.
Em seguida, Morris despeja uma amostra de incenso. A erva é indiscernível e não há um cheiro revelador. "O cheiro é de incenso", diz ele. E com tantos ingredientes em potencial, os cães treinados para cheirar drogas não conseguem fazer seu trabalho.
Morris coloca a amostra sob o microscópio, que revela uma série de gotas de cor âmbar incrustradas dentro de folhas comprimidas. "Agora, você pode cortar a grama do quintal e fazer um produto que deixará você alucinado", afirma Morris. "A planta é apenas o veículo onde eles colocam os cristais." Assim, quando a polícia confisca um pacote suspeito, ele precisa passar por um teste.
No fim de 2009, a polícia do Kansas começou a receber relatos de funcionários de escolas de segundo grau, de que jovens estavam fumando incenso. Em vez de confiscar o material ou tentar fechar as lojas que estavam vendendo a droga, Morris solicitou a oficiais disfarçados que fossem até essas lojas e comprassem mais. Assim como Upchurch quando estava estabelecendo sua fábrica, Morris analisou os produtos químicos que aparecem nas marcas populares. (Upchurch não é químico; é um ex-web designer, mas pagou a um laboratório privado para fazer os testes que lhe permitiram elaborar suas receitas iniciais.)
Em seu laboratório, Morris identificou três ingredientes que provavelmente estão em todas as misturas - JWH-018, JWH-073 e HU-210 - e propôs ao Estado do Kansas que as proibisse. Em março de 2010 o estado colocou todas as três na ilegalidade. Outros Estados fizeram o mesmo. A Louisiana chegou a proibir o uso da planta Damiana, um arbusto originário da América Central que tem um aroma parecido com camomila. A proibição atual do DEA cobre cinco canabinóides, além de qualquer "análogo", pequenas manipulações de estruturas moleculares que basicamente atuam como a molécula original.
Upchurch compra muitos de seus "aditivos especiais" na China e tanto ele como Morris usam o diretório internacional de exportação Alibaba.com para averiguar quais estão disponíveis. Busque na internet "buy JWH" e você encontrará pelo menos 3.800 laboratórios chineses à espera de encomendas.
Para aqueles que fumam incenso, a designação errada dos produtos e a reformulação podem ser perigosas. "Todas essas coisas atuam em várias partes do cérebro, chamadas células receptoras", diz Morris. "Pense nisso como um sistema de fechadura. As células receptoras são a fechadura e a droga, a chave. Quando a chave entra na fechadura, abre as propriedades psicoativas da célula receptora."
Após testes mais de 100 pacotes de fornecedores diferentes, Morris percebeu uma tendência perturbadora: não existe uma tendência. O tipo e quantidade dos agentes que alteram a percepção mental em muitas misturas podem variar não só entre as marcas, como também entre os pacotes da mesma mercadoria. Ele encontrou processadores que usam canabinóides sintéticos diferentes que podem ser de duas a 500 vezes mais forte que o THC.
Os efeitos colaterais vêm aumentando junto com os lucros. A associação americana de que reúne os centros de controle de substâncias tóxicas documentou apenas 14 comunicados sobre os efeitos danosos do incenso em 2009. Esse número saltou para 2.874 em 2010. No fim de maio deste ano, o registro chegava a 2.324, a caminho para dobrar o número do ano passado. Hospitais relatam que fumar incenso pode provocar agitação, aceleração dos batimentos cardíacos, vômito, alucinações intensas e convulsões.
"A maconha pode deixar você calmo e relaxado, mas isso parece provocar ansiedade", afirma o Dr. Anthony J. Scalzo, diretor médico do centro de control e de tóxico do Missouri, que identificou o primeiro surto de visitas a prontos-socorros no fim de 2009. "As pessoas pensam que se você pode comprar legalmente, deve ser seguro. Mas elas não sabem com o que estão lidando."
Muitos estimulantes são reembalados como "sais de banho" - aquelas pequenas cápsulas de gelo solúveis. Mas em vez de serem vendidos em perfumarias e farmácias, eles são vendidos em pequenos pacotes em lojinhas com nomes como Sexperience, Ivory Wave e Vanilla Sky, por até US$ 50 a unidade. Em vez de colocá-los em uma banheira, para tomar banho, os usuários os esmagam para depois cheirá-los, fumá-los ou engoli-los. O uso dos sais de banho teve um repique parecido: os centros de controle de substâncias tóxicas receberam 302 telefonemas em 2010 e 2.507 até o fim de maio neste ano. Segundo Mark Ryan, diretor do centro de Louisiana, esses sais de banho podem provocar paranoia, ansiedade extrema, alucinações, agressividade, pensamentos suicidas, dores no peito e até mesmo "delírios de excitação", o chamado efeito Super-Homem, onde o usuário fica tão agitado e desligado da realidade que continua enlouquecido mesmo depois de levar um tiro.
Inicialmente a DEA apontou a Spice e a K2 (numa referência ao pico K2, o segundo mais alto do mundo), como as duas principais marcas de incenso que mais vêm sendo usadas. A Spice é europeia; em 2009 a alfândega e polícia de fronteira aboliram sua importação. A K2 é americana, fabricada originalmente por Jonathan Clark Sloan, que administra a Bouncing Bear Botanicals, uma vendedora de plantas exóticas e extratos naturais que opera a partir de um depósito em Oskaloosa, Kansas.
As autoridades caíram sobre Sloan, mas não sobre o K2. Em de fevereiro de 2010, a polícia do Kansas e o órgão federal que regulamento alimentos e medicamentos (FDA) invadiram as dependências da Bouncing Bear. Sloan sofreu 20 acusações na corte de justiça estadual, incluindo cultivo ilegal e distribuição de várias substâncias controladas - estimulantes como mescalina, bufotenina, dimetiltriptamina e amida de ácido lisérgico, que supostamente estavam sendo colhidos de uma série de cactos, sapos, cascas de árvores e sementes de rosa gymnocarpa do Havaí, respectivamente.
Em maio, a Retail Compliance Association (RCA) optou por solicitar a congressistas que considerem um sistema de licenciamento federal para ajudar a monitorar os fabricantes e distribuidores em operação e os produtos químicos e dosagens que eles estão usando. Ao contrário de Upchurch, a RCA diz que os produtos provavelmente serão consumidos. "Não há dúvidas de que as pessoas estão comprando esses produtos e usando-os para fins não indicados. Elas estão fazendo o que querem com eles", diz Francis, diretor da RCA.
Upchurch adotou suas próprias restrições. No verso de cada pacote há mais dois avisos: um afirma claramente que não há nele nenhuma substância proibida pelo governo federal. O outro declara que os pacotes não podem ser vendidos para menores de 19 anos. Ele também diz que testa seus produtos duas vezes durante o processo de fabricação para garantir a qualidade.
A atenção com a produção e rotulagem não parecem garantir o cumprimento da lei. Nesta primavera americana, Morris surgiu com uma nova abordagem ao combate às drogas. Em vez de tentar eliminar os ingredientes problemáticos um a um, ele fez uma petição bem sucedida ao poder legislativo do Kansas, para a proibição de sete classes de produtos químicos mais comumente associadas aos canabinóides. Quando a lei entrou em vigor no fim de março, ela proibiu centenas de compostos ao mesmo tempo. Outros oito Estados, incluindo o Missouri, adotaram medidas parecidas. Kansas e quatro outros Estados também aplicaram a tática aos sais de banho, proibindo uma grande classe de estimulantes que inclui a mefedrona e a metilenodioxipirovalerona.
Essas medidas poderão se transformar num modelo para uma ação nacional mais ampla: o Congresso está considerando uma proibição à classe dos canabinóides sintéticos. Ela também se aplicaria à próxima geração de linhas de produtos, como os canabinóides sintéticos em cápsulas chamados "fertilizantes de plantas", supostamente para o uso em plantas domésticas.
A lei do Missouri que proíbe totalmente os canabinóides sintéticos entrará em vigor em agosto. Para a Pandora Potpourri isso significará algumas mudança nos negócios. Na fabriqueta de Upchurch há uma prateleira cheia de caixas grandes a abertas com tipos diferentes de ervas. Como as leis estaduais não são as mesmas e podem mudar rapidamente, ele deixou de criar grandes lotes sob medida para cada região, e passou a criar pré-misturas de ingredientes tratados para atender aos padrões dos vários Estados.



"Quando os compostos ficam fora da lei, nós os removemos e substituímos por alternativas apropriadas", diz ele. "Em geral isso varia de lote para lote, com base no destino." (Tradução de Mário Zamarian)



segunda-feira, 11 de julho de 2011

DOUTOR É QUEM FAZ DOUTORADO



Por Março Antônio Ribeiro Tura

No momento em que nós do Ministério Público da União nos preparamos para atuar contra diversas instituições de ensino superior por conta do número mínimo de mestres e doutores, eis que surge (das cinzas) a velha arenga de que o formado em Direito é Doutor.
A história, que, como boa mentira, muda a todo instante seus elementos, volta à moda. Agora não como resultado de ato de Dona Maria, a Pia, mas como consequência do decreto de D. Pedro I.
Fui advogado durante muitos anos antes de ingressar no Ministério Público. Há quase vinte anos sou Professor de Direito. E desde sempre vejo "docentes" e "profissionais" venderem essa balela para os pobres coitados dos alunos. Quando coordenador de Curso tive o desprazer de chamar a atenção de (in) docentes que mentiam aos alunos dessa maneira. Eu lhes disse, inclusive, que, em vez de espalharem mentiras ouvidas de outros, melhor seria ensinarem seus alunos a escreverem, mas que essa minha esperança não se concretizaria porque nem mesmo eles sabiam escrever.
Pois bem!
Naquela época, a história que se contava era a seguinte: Dona Maria, a Pia, havia "baixado um alvará" pelo qual os advogados portugueses teriam de ser tratados como doutores nas Cortes Brasileiras. Então, por uma "lógica" das mais obtusas, todos os bacharéis do Brasil, magicamente, passaram a ser Doutores. Não é necessária muita inteligência para perceber os erros desse raciocínio. Mas como muita gente pode pensar como um ex-aluno meu, melhor desenvolver o pensamento (dizia meu jovem aluno: "o senhor é Advogado; pra que fazer Doutorado de novo, professor?").
1) Desde já saibamos que Dona Maria, de Pia nada tinha. Era Louca mesmo! E assim era chamada pelo Povo: Dona Maria, a Louca!
2) Em seguida, tenhamos claro que o tão falado alvará jamais existiu. Em 2000, o Senado Federal presenteou-me com mídias digitais contendo a coleção completa dos atos normativos desde a Colônia (mais de quinhentos anos de história normativa). Não se encontra nada sobre advogados, bacharéis, dona Maria, etc. Para quem quiser, a consulta hoje pode ser feita pela Internet.
3) Mas digamos que o tal alvará existisse e que dona Maria não fosse tão louca assim e que o povo fosse simplesmente maledicente. Prestem atenção no que era divulgado: os advogados portugueses deveriam ser tratados como doutores perante as Cortes Brasileiras. Advogados e não quaisquer bacharéis. Portugueses e não quaisquer nacionais. Nas Cortes Brasileiras e só! Se você, portanto, fosse um advogado português em Portugal não seria tratado assim. Se fosse um bacharel (advogado não inscrito no setor competente), ou fosse um juiz ou membro do Ministério Público você não poderia ser tratado assim. E não seria mesmo. Pois os membros da Magistratura e do Ministério Público tinham e têm o tratamento de Excelência (o que muita gente não consegue aprender de jeito nenhum). Os delegados e advogados públicos e privados têm o tratamento de Senhoria. E bacharel, por seu turno, é bacharel; e ponto final!
4) Continuemos. Leiam a Constituição de 1824 e verão que não há "alvará" como ato normativo. E ainda que houvesse, não teria sentido que alguém, com suas capacidades mentais reduzidas (a Pia Senhora), pudesse editar ato jurídico válido. Para piorar: ainda que existisse, com os limites postos ou não, com o advento da República cairiam todos os modos de tratamento em desacordo com o princípio republicano da vedação do privilégio de casta. Na República vale o mérito. E assim ocorreu com muitos tratamentos de natureza nobiliárquica sem qualquer valor a não ser o valor pessoal (como o brasão de nobreza de minha família italiana que guardo por mero capricho porque nada vale além de um cafezinho e isto se somarmos mais dois reais).
A coisa foi tão longe à época que fiz questão de provocar meus adversários insistentemente até que a Ordem dos Advogados do Brasil se pronunciou diversas vezes sobre o tema e encerrou o assunto.
Agora retorna a historieta com ares de renovação, mas com as velhas mentiras de sempre.
Agora o ato é um "decreto". E o "culpado" é Dom Pedro I (IV em Portugal).
Mas o enredo é idêntico. E as palavras se aplicam a ele com perfeição.
Vamos enterrar tudo isso com um só golpe?!
A Lei de 11 de agosto de 1827, responsável pela criação dos cursos jurídicos no Brasil, em seu nono artigo diz com todas as letras: "Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos Cursos, com aprovação, conseguirão o grau de Bachareis formados. Haverá tambem o grau de Doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos que devem formar-se, e só os que o obtiverem poderão ser escolhidos para Lentes".
Traduzindo o óbvio. A) Conclusão do curso de cinco anos: Bacharel. B) Cumprimento dos requisitos especificados nos Estatutos: Doutor. C) Obtenção do título de Doutor: candidatura a Lente (hoje Livre-Docente, pré-requisito para ser Professor Titular). Entendamos de vez: os Estatutos são das respectivas Faculdades de Direito existentes naqueles tempos (São Paulo, Olinda e Recife). A Ordem dos Advogados do Brasil só veio a existir com seus Estatutos (que não são acadêmicos) nos anos trinta.
Senhores.
Doutor é apenas quem faz Doutorado. E isso vale também para médicos, dentistas, etc, etc.
A tradição faz com que nos chamemos de Doutores. Mas isso não torna Doutor nenhum médico, dentista, veterinário e, mui especialmente, advogados.
Falo com sossego.
Afinal, após o meu mestrado, fui aprovado mais de quatro vezes em concursos no Brasil e na Europa e defendi minha tese de Doutorado em Direito Internacional e Integração Econômica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Aliás, disse eu: tese de Doutorado! Esse nome não se aplica aos trabalhos de graduação, de especialização e de mestrado. E nenhuma peça judicial pode ser chamada de tese, com decência e honestidade.
Escrevi mais de trezentos artigos, pareceres (não simples cotas), ensaios e livros. Uma verificação no sítio eletrônico do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pode compravar o que digo. Tudo devidamente publicado no Brasil, na Dinamarca, na Alemanha, na Itália, na França, Suécia, México. Não chamo nenhum destes trabalhos de tese, a não ser minha sofrida tese de Doutorado.
Após anos como Advogado, eleito para o Instituto dos Advogados Brasileiros (poucos são), tendo ocupado comissões como a de Reforma do Poder Judiciário e de Direito Comunitário e após presidir a Associação Americana de Juristas, resolvi ingressar no Ministério Público da União para atuar especialmente junto à proteção dos Direitos Fundamentais dos Trabalhadores públicos e privados e na defesa dos interesses de toda a Sociedade. E assim o fiz: passei em quarto lugar nacional, terceiro lugar para a região Sul/Sudeste e em primeiro lugar no Estado de São Paulo. Após rápida passagem por Campinas, insisti com o Procurador-Geral em Brasília e fiz questão de vir para Mogi das Cruzes.
Em nossa Procuradoria, Doutor é só quem tem título acadêmico. Lá está estampado na parede para todos verem.
E não teve ninguém que reclamasse; porque, aliás, como disse linhas acima, foi a própria Ordem dos Advogados do Brasil quem assim determinou, conforme as decisões seguintes do Tribunal de Ética e Disciplina: Processos: E-3.652/2008; E-3.221/2005; E-2.573/02; E-2067/99; E-1.815/98.
Em resumo, dizem as decisões acima: não pode e não deve exigir o tratamento de Doutor ou apresentar-se como tal aquele que não possua titulação acadêmica para tanto.
Como eu costumo matar a cobra e matar bem matada, segue endereço oficial na Internet para consulta sobre a Lei Imperial:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_63/Lei_1827.htm
Os profissionais, sejam quais forem, têm de ser respeitados pelo que fazem de bom e não arrogar para si tratamento ao qual não façam jus. Isso vale para todos. Mas para os profissionais do Direito é mais séria a recomendação.
Afinal, cumprir a lei e concretizar o Direito é nossa função. Respeitemos a lei e o Direito, portanto; estudemos e, aí assim, exijamos o tratamento que conquistarmos.
Mas só então.
PROF. DR. MARÇO ANTÔNIO RIBEIRO TURA , 41 anos, jurista. Membro vitalício do Ministério Público da União. Doutor em Direito Internacional e Integração Econômica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Direito Público e Ciência Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor Visitante da Universidade de São Paulo. Ex-presidente da Associação Americana de Juristas, ex-titular do Instituto dos Advogados Brasileiros e ex-titular da Comissão de Reforma do Poder Judiciário da Ordem dos Advogados do Brasil.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Cinema com rapadura

Há filme novo na praça, e dos bons: meia-noite em Paris. É do chato do Woody Allen. Mas fiquem tranquilos que ele não atua, é “apenas” o diretor. O site cinema com rapadura deu nota nove.

http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/210994/meia-noite-em-paris-o-retorno-de-woody-allen-a-boa-forma/

acoelhofFortaleza