quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Uma combinação do Mal: Excesso de Informações & Pressa




Por J. Augusto V. Camera - Rionet

“O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.” (Fernando Pessoa).

Nicholas Carr, norte-americano pesquisador, jornalista e autor da obra The Shallows: What the Internet is doing to our Brains, mostra como a web afeta a mente.

O escritor detalha como o cérebro se ajusta às fontes de informação e descreve como a leitura na internet modifica a mente e melhora a capacidade de tomar decisões rápidas.
Hoje, as pessoas leem menos livros e evitam os textos longos. Isso faz com que se reduza a concentração, a introspecção e a contemplação. O uso da web torna o indivíduo capaz de localizar informações com rapidez e permite selecionar textos, porém, tudo em detrimento da forma acadêmica de análise e de interpretação.
A ausência de foco trava a memória de longo prazo e causa desconcentração. "Nós não nos envolvemos com as funções de interpretação de nossos cérebros", diz o autor. Os livros ajudam a proteger o cérebro da desatenção, ao fazer a mente focar um tema de cada vez.
As novas tecnologias, v.g., Kindle e iPad, transformam os livros. Escritores cada vez mais evitam frases de sentido complicado, redigem menos e de modo mais conciso.
Muitos acreditam que fazer diversas coisas simultaneamente incrementa a produtividade; contudo, as pesquisas demonstram o oposto. Multitarefas dificultam a concentração e a seleção, necessários para ignorarmos informações não relevantes. Pior: mesmo após a pessoa se desligar, o pensamento ainda permanece fragmentado.
Claude Shanon, autor da obra “A Mathematical Theory of Communication”, revela que informação é tudo que reduz incerteza, mas o que se vê hoje é uma explosão de dados e de fatos que, isoladamente, não possuem significado nem produzem compreensão. Por isso, funcionam como “não-informação”.
Se o indivíduo não consegue coletar e transformar os dados e os fatos em informação, de nada vale ter acesso a milhares de dados. Ao contrário, é possível que essa avalanche de “não-informação” dificulte a tarefa de transformar isso, primeiro em informação útil, e depois em conhecimento aplicado.
As crianças atuais nascem sabendo programar o forno micro-ondas e mexer nas configurações da TV. No entanto, ao crescerem, terão menor senso crítico e independência que as de outras gerações. Infelizmente, estarão acostumadas a terem tudo pronto, mastigado.
A música é capaz de induzir mudanças no cérebro. Cientistas conduziram uma pesquisa sobre um grupo de ratos com o escopo de descobrir neles os efeitos da música estilo rock. Os roedores, ao som do rock, foram ficando progressivamente desorientados. Por fim, tornaram-se incapazes de completar o labirinto.
Depois que os cientistas dissecaram os cérebros dos ratos, constatou-se que foram submetidos a mudanças estruturais anormais. Os neurônios haviam crescido de forma descontrolada em todos os sentidos. Foram verificados também aumentos consideráveis no RNA mensageiro, que está envolvido na formação da memória.
Posteriormente, outros cientistas repetiram o experimento e chegaram a conclusões parecidas. Contudo, não se pode ir adiante, pois os ratos que ouviam o rock mataram-se uns aos outros. O estudo demonstrou que se os ratos forem expostos à música desarmônica, desenvolvem danos nos nervos cerebrais e têm "degradação do comportamento".
O cérebro humano poderá mudar se crianças estiverem expostas a ruídos desarmônicos. No Brasil e nos USA 20% das crianças sofrem de alguma espécie de distúrbio mental. Pelo menos 5 milhões de crianças e adolescentes norte-americanas sofrem de distúrbio mental GRAVE.
Numa sociedade em que se prestigiam valores como rapidez e pressa, o tempo se torna artigo de luxo. Ainda assim, corremos e tiramos de nós qualquer possibilidade de ter tempo livre ou menos apressado.
É verdade que a tecnologia da informação traz benefícios. Acessar, em tempo real, informações sobre quase tudo no mundo e poder estabelecer contato direto com as fontes de informações, representa considerável mudança de paradigma. Há informação demais e tempo de menos.
Informações em quantidade sob a forma de textos, análises, interpretações superficiais, críticas, opiniões, ao invés de embasar o conhecimento e auxiliar a tomada de decisão, acaba causando a dispersão do conteúdo informacional que pode gerar conclusões mal fundamentadas e decisões equivocadas.
André Azevedo, jornalista, acredita que o excesso de informação na mídia causa um relativismo absoluto nas concepções humanas ou um “sentimento de impotência, que costuma levar o indivíduo à apatia, ao conformismo, ao cinismo ou mesmo niilismo - pois a constelação de informações inviabiliza a hierarquia de valores do receptor, impossibilitando-o de avaliar o que é de fato fundamental e o que é supérfluo”.
O canadense Carl Honoré, autor do livro Devagar, propõe a desaceleração para se viver melhor. Não quer dizer voltar ao passado ou adotar o ritmo da lesma ou do caracol, mas ter pressa quando fizer sentido.
Na cultura fast forward, ‘lento’ e ‘devagar’ são palavras banidas. Em Londres, há uma academia que oferece cursos de speed yoga! Nos USA já há funeral drive-through, em estilo McDonald’s: você para e, sem descer do carro, dá uma olhada no caixão.”
Carl Honoré era um viciado em correria. A ficha caiu quando ele foi comprar um livro com histórias de um minuto para crianças: “Achei que iria economizar tempo com meu filho de dois anos, que gosta de ouvir histórias antes de dormir, e obteria com isso mais meia hora para ler o jornal, responder e-mails etc. Só que aí me dei conta do absurdo da situação”.
Começou a pesquisar a cultura da pressa e mudou o ritmo de vida. Lembra que a primeira coisa que se faz ao acordar é olhar a hora. A partir daí, não paramos de correr contra o relógio. A doença da pressa, segundo ele, além de levar à exaustão, estimula a raiva.
Vivemos irritados e esbravejando contra o congestionamento no trânsito, a fila, o computador lento, pessoas lentas, o elevador que para em todos os andares, a dieta que ainda não deu resultado e o táxi que não chega. Tudo é “para ontem”.
Dois comportamentos estão difíceis de encontrar: fazer uma coisa de cada vez e nada fazer. Ficar à toa nos aflige. Só ouvir música, só responder e-mails ou só conversar com alguém parece ser uma perda de tempo — importa “otimizar” a vida e fazer várias coisas ao mesmo tempo, ainda que nada saia bem feito ou que não se encontre prazer em nada.
Carl Honoré escreveria um epitáfio para si quando vivia correndo e outro agora que sabe pisar no freio. O primeiro seria “Viveu e morreu com pressa”. O segundo, “O tempo foi seu aliado”.
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J. Augusto V. Camera é Advogado Especialista e Analista na Adrja

Artigo premiado


Mais um colega que foi agraciado com premiação concedida pela COFECON..... nossos parabéns, Aquino.
ffonsecant@hotmail.com

Persistência Inflacionária e Curva de Phillips Novo-Keynesiana para o Brasil

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Livro premiado - Premio Cofecon





Nossos parabéns ao Henrique


(henrique.jorge@bcb.gov.br)




segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Lembranças


Por Marcio Damasco - Rionet

No metrô, pelo celular, o passageiro ao meu lado, combina com vários de seus amigos uma sessão na sua casa de vídeos do “Jaspion”, aquele desenho de super-herói japonês que passava na TV Manchete nos anos 80.
Dias depois, a Cora Rónai contou no Globo que sugeriu a amigos que assistissem ao “Curtindo a vida adoidado” que, na lembrança dela, foi um dos filmes mais divertidos de todos os tempos. Todos adoraram a ideia, e chegaram a ficar com inveja da Heliana, que nunca havia visto o filme, pela experiência que iria viver. Passados dez minutos a Heliana perguntou:”Vocês estão gostando?”. Ligeiro murmúrio. Mais um tempo: “Vocês juram que achavam esse filme engraçado?” Resposta: “Era engraçado sim... era outra época...”
A Abril lançou anos atrás, a ´”série ouro” dos gibis do Pato Donald. Comprei o primeiro número não apenas para saber se o Donald já casou com a Margarida ou verificar se os Irmãos Metralha finalmente conseguiram arrombar a caixa-forte do Tio Patinhas. Meu interesse maior era pelas incríveis trapalhadas do Peninha que eu tanto curtia. Mas considerei a historinha fraca. A do segundo número também. Idem a do terceiro. Parei de comprar.
Quando assisti a comédia “A grande Escapada”, filme que se passa na segunda guerra, estrelado pelo Terry Thomas, sai do cinema “troncho de rir”, como diria Chico Buarque. Depois de assistir a sessão, fui à bilheteria e comprei outra entrada. Percebi da segunda vez várias cenas que me passaram despercebidas na primeira e ri mais ainda. Passei anos tentando rever o filme, até que o descobri numa madrugada de um desses canais bem mambembes. Preparei-me para assisti-lo em grande estilo, com pipoca, refrigerantes e salgadinho. O filme começou e mesmo considerando que o estava achando chato, resolvi esperar para ver se melhorava. Quando acordei o canal havia saído do ar.
Num consultório descubro uma revista de fotonovelas colorida "novinha em folha". Tento ler a história e não consigo de jeito algum. Desisto e fico pensando que na minha adolescência eu sempre “roubava” um “Sétimo Céu” da minha irmã, parra ler antes de dormir. As fotonovelas eram italianas e em preto e branco. Algumas delas reli dezenas de vezes, Fui apaixonado por uma atriz que tinha imensos olhos que deviam ser verdes. Mas, ao contrário dos filmes faroeste onde eu sou sempre o Gregory Peck, nas fotonovelas era eu mesmo o heroi que beijava a linda heroína no final.
Voltando a crônica da Cora Rónai, ela disse que há filmes nunca deveriam ser assistidos de novo. Vou mais longe. Minhas frustradas experiências ensinaram que há inúmeras outras lembranças que não devem ser revisitadas. Foram fatos deliciosos em sua época que, para não perderem o encanto, devem ficar flutuando apenas em nossa ilusão. Do contrário, estraga.


Mario Marcio Damasco, servidor aposentado, é formado em Comunicação Social - mario.marcio@bcb.gov.br

Ex-ajudante de Papai Noel e ex-guerrilheiro comandam o Ministério da Defesa



O ex-chanceler Celso Amorim e o ex-guerrilheiro José Genoino, o primeiro como ministro da Defesa e o segundo como assessor especial, são exemplos de coragem e patriotismo que servem de estímulo à tropa.



Certamente os militares devem estar muito satisfeitos, orgulhosos com a missão que têm de defender o país. O Brasil está muito bem em termo de defesa, assim como está no combate à corrupção (os corruptos estão com tanto medo da repressão contra eles, que o verbo corromper só se conjuga no passado...).

Quando Evo Morales, também conhecido como “Evo Petrobale” ou “Evo Cocale”, com seus bem nutridos soldados de 1,90m de altura, invadiram as instalações da Petrobras na Bolívia e tomaram no grito a propriedade brasileira, Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, disse a Lula que Morales estava no direito dele. Parece que Lula gostou do que ouviu e nada fez em defesa da estatal brasileira. Como “prêmio” à “coragem” de “Cocale”, Lula perdoou dívida de 52 milhões de dólares da Bolívia para com o Brasil e ainda aceitou que o invasor aumentasse o preço do gás que vende para nós.


Celso Amorim também auxiliou Lula a ajudar o bispo mulherengo Fernando Lugo a cumprir promessa de campanha pela Presidência do Paraguai. O bispo Lugo, que não levava a sério as limitações do sacerdócio e “faturou” umas devotas, engravidando várias delas, elegeu-se presidente do Paraguai prometendo obrigar o Brasil a pagar o “preço justo” da energia que o país dele nos “vende”, em decorrência da sociedade que tem na Hidrelétrica de Itaipu. Lula aceitou a imposição do companheiro guarani e o Brasil passou a pagar 300% a mais pela energia “comprada” do Paraguai.


O Paraguai é sócio do Brasil na Hidrelétrica de Itaipu. Como aquele país consome apenas 5% da energia a que tem direito na sociedade, vendia o restante ao Brasil pelo preço de custo. Fernando Lugo fez campanha e foi eleito, acusando o nosso país de ser explorador. Ele teria razão, se não fosse um pequeno detalhe: o Paraguai não gastou um único centavo com a construção da mega hidrelétrica. Tudo foi suportado pelo contribuinte brasileiro.


Para se ter uma ideia da dimensão de Itaipu, que continua sendo a maior hidrelétrica do mundo, mais de 40 mil operários participaram da obra. Foram 13 anos de construção, sendo gasto 15 vezes mais concreto do que no Eurotúnel que liga a Inglaterra à França. Aliás, 15 mil operários levaram sete anos escavando a construção do Eurotúnel, porém o volume de escavação na construção de Itaipu é 8,5 vezes maior do que o do empreendimento europeu. Itaipu é tão grande que hoje, 26 anos depois de sua construção, o Paraguai só consegue consumir 5% dos 50% da energia que lhe cabe na sociedade.


Nessa sociedade, o país vizinho só entrou com a cara. É como se um empresário convidasse um mendigo para construir um shopping no lugar onde este dormia. O mendigo teria 50% de direito na sociedade, sendo que sua quota financeira no empreendimento seria paga com o faturamento do shopping quando entrasse em funcionamento. Mutatis mutandis (feitos os ajustes necessários), foi isso o que aconteceu no referido empreendimento. O Paraguai não teria a menor condição de arcar financeiramente, pois o investimento representava várias vezes o seu PIB (Produto Interno Bruto). Então o Brasil assumiu o ônus financeiro, sendo que a parte do Paraguai ficou para ser paga com excedente da energia que lhe cabe na sociedade, e não consegue consumir.


Pelo acordo, o Brasil comprava o excedente da energia a preço de custo, sendo que a quitação da dívida do Paraguai ocorrerá no ano de 2023. A compra pelo preço de custo era justa, pois o investimento fora realizado apenas pelo contribuinte brasileiro. Não é razoável o Paraguai, que nada investiu, querer ter lucro em cima do investimento brasileiro. É muito o que aquele país já ganhou, porquanto desde a construção, no início da década de setenta, ele vem se beneficiando, pois milhares de empregos diretos e indiretos contemplaram tanto brasileiros como paraguaios, e a estes só coube o bônus; alem disso, em 2023, com a quitação da dívida na sociedade, o Paraguai será dono de 50% de um empreendimento de muitos bilhões de dólares, várias vezes superior ao seu PIB.


Por ter cedido ao capricho do presidente Paraguaio, Lula onerou o contribuinte brasileiro em 300% do valor da energia adquirida da quota do Paraguai, cujo investimento foi brasileiro. O presente de Lula foi aprovado pelo Congresso Nacional em maio desde ano. A “justificativa” para a aprovação é que o aumento do valor da energia, que representará algumas centenas de milhões de dólares a jorrar nos cofres paraguaios todos os anos, não será repassado ao consumidor, pois os recursos sairão do Tesouro Nacional. A pergunta que se faz é quem banca o Tesouro Nacional? É o Lula com suas palestras? É o Celso Amorim com suas aulas? Ou...


É o espoliado contribuinte brasileiro que trabalha mais de cinco meses por ano somente para pagar impostos e terá mais uma conta a ser suportada em razão dos caprichos megalomaníacos de uma pessoa, que nunca deu duro para estudar (há estudantes no interior da Amazônia que saem de suas casas 11 horas da noite para estudar no outro dia. Lula não precisaria fazer tal sacrifício, mas ele preferiu não estudar...), bem como se aposentou muito cedo, não sabendo como é duro trabalhar para pagar impostos.


A propósito, em apenas oito anos de mandato, Lula endividou o Brasil em um trilhão de reais (dívida pública interna), o que representa mais de seiscentos bilhões de dólares. Em 20 anos de governo, os militares endividaram o país em 100 bilhões de dólares, ou seja, em apenas oito anos, Lula endividou o Brasil seis vezes mais do que os militares endividaram em 20 anos de governo, sendo que os milicos fizeram várias obras gigantescas como, por exemplo, a Hidrelétrica de Itaipu; enquanto Lula apenas prometeu, mas não fez nenhuma obra de porte grande. A infraestrutura do país continua a mesma do século passado. E mais. Ao contrário dos governos Sarney, Collor, Itamar e FHC que passaram por situações de instabilidade econômica, sendo necessário investir em vários planos econômicos, Lula não precisou investir em nenhum plano, pois apenas continuou com o Real.


Pois é, além de Lula ter saído passeando pelo mundo, torrando o dinheiro suado do imposto do contribuinte no luxuoso Aerolula, ele fazia muita “caridade”, perdoando dívidas de países devedores do Brasil. A paixão dele era por ditadores; por exemplo, ele perdoou dívida do Gabão, governado por um ditador, acusado de possuir bilhões de dólares em paraísos fiscais. Se não bastassem a roubalheira com a corrupção interna, os gastos astronômicos com cabide de empregos e exageradas mordomias, o grande “estadista” distribuía benesses mundo a fora. Tudo, claro, custeado pelo contribuinte brasileiro.


Lula, o Papai Noel de ditadores, saiu, mas a conta ficou. A dívida interna está quase chegando a dois trilhões de reais. A externa, que disseram ter sido paga em 2005 (e muita gente acreditou...), está quase chegando a 300 bilhões de dólares. Os efeitos disso repercutem diretamente no emprego das montanhas de recursos arrecadados com os impostos. Só nos cinco primeiros meses do ano, foram arrecadados meio trilhão de reais. Grande parte desse gigantesco recurso deve ter sido utilizada para pagar juros da dívida, principalmente a interna, outra robusta parte deve ter vazado pelo ralo da corrupção, uma parte menor, mas de bom tamanho, deve ter sido utilizada para fazer publicidade, a fim de ocultar a verdadeira realidade, sobrando muito pouco como retorno à sociedade. É por isso que o Brasil está com a infraestrutura do século passado, e a educação, saúde, segurança e outros serviços públicos são prestados em condições piores as de países do Terceiro Mundo.


A propósito, no livro “Viagens com o Presidente”, editora Record, 2ª edição, p.93, está registrado para que gerações futuras saibam, já que a atual parece não querer saber, o critério utilizado pelo ex-presidente Lula para “conquistar o mundo”. O registro consigna a grande importância do atual ministro da Defesa, Celso Amorim, no magnífico trabalho desenvolvido pelo ex-presidente, que hoje ensina o que fez nas suas palestras. Vejamos o registro:


“Nas viagens internacionais, (Lula) tem outra mania. Logo no início do trajeto de volta ao Brasil, chama o ministro Celso Amorim e um oficial da Aeronáutica à sua cabine e, com a ajuda de um grande mapa-múndi, trata de ficar imaginando quais poderiam ser as próximas nações a serem visitadas. A rotina, então, é questionar Amorim sobre as características dos países apontados por ele no mapa, e ao militar pergunta a respeito de questões técnicas das rotas imaginadas, como escalas e trajetórias viáveis à aeronave.”


Como se vê, Celso Amorimo, ex-ajudante do Papai Noel de ditadores, foi muito importante no governo passado e agora o será no Governo Dilma, ainda mais contando com o assessoramento do ex-guerrilheiro José Genoino. Para quem não sabe, Genoino participou da chamada Guerrilha do Araguaia, ou melhor, ele quase participou, pois antes mesmo que fosse dado o primeiro tiro, o nosso herói desistiu da luta. Não só desistiu, como ajudou a seus companheiros a desistir.


Havia cerca de 90 guerrilheiros na Selva Amazônica. Os militares não tinham certeza da existência deles, então enviaram cerca de dez homens do serviço de inteligência para a região. Quando os guerrilheiros souberam que os milicos estavam na área, eles fizeram igual àqueles “corajosos” trezentos e poucos bandidos, armados de fuzis, que fugiram do morro igual a galinhas assustadas com medo da raposa, quando dois pequenos tanques com duas dúzias de policiais subiram o morro. Os “valentes” guerrilheiros fizeram o mesmo, tomaram doril e sumiram na densa selva, deixando para trás o acampamento e um faminto cachorro vira lata.


Genoino foi pego no meio do caminho, interrogado pelos milicos, ele disse que se chamava “Geraldo” e que era um caboclo da região. Os militares pediram para ver a mão dele e observaram que era igual a do Lula (a mão do caboclo é grossa, devido ao trabalho duro). “Geraldo” foi conduzido para o acampamento abandonado. Lá chegando foi “dedurado” pelo vira lata que foi para cima dele abanando o rabo e fazendo ruídos característicos de cães que pedem desesperadamente comida. Com a certeza de que “Geraldo” não era Geraldo, os militares disseram que se ele não colaborasse, seus “documentos” seriam extraídos com o próprio facão (ele portava um facão na cintura, quando foi pego) e serviriam de fonte de proteína para o animal faminto.


Apavorado com o “argumento” dos militares, Genoino abriu o verbo. Informou o nome falso que cada guerrilheiro usava, posição que ocupava na guerrilha etc. Além disso, tirou foto e fez declaração a seus companheiros para que se entregassem. O material foi confeccionado em panfletos e jogado de helicópteros no meio da selva. A estratégia funcionou, a maioria se entregou e quem não seguiu o conselho de Genoino virou presunto.


Portanto, Genoino tem todos os requisitos para o importante cargo que exerce, inclusive foi condecorado em maio deste ano com a “Medalha da Vitória”. Ele faz jus à condecoração, pois é um vitorioso, ponha vitorioso nisso...


Com efeito, a experiência e o elevado espírito nacionalista do ex-chanceler Celso Amorim e mais a coragem do ex-guerrilheiro José Genoino, os brasileiros podem ficar tranquilos: a defesa do país está em boas mãos; boas, não, ótimas...




Manoel Pastana


Procurador da República e autor do livro autobiográfico De Faxineiro a Procurador da República


www.manoelpastana.com.br


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Keynes e o "quatrilho"


Por Claudia Safatle - Valor 26/08

Nas 1.549 páginas do e-book "Crise, Estado e Economia Brasileira", o economista José Roberto Afonso percorre integralmente a obra de John Maynard Keynes para discutir o ativismo fiscal que fundamentou a resposta à crise financeira global de 2008/2009, a maior do pós-guerra. Naquele momento, governos do mundo todo acionaram o Estado para salvar suas economias, elevando substancialmente os gastos e o endividamento públicos. Hoje, atolados em dívidas que os mercados suspeitam que não conseguirão pagar e patinando em baixo crescimento, países de cuja solidez ninguém duvidava até muito recentemente beiram a insolvência. O remédio se confundiu com o veneno.

O livro - uma adaptação e atualização da tese de doutorado do autor, apresentada ao Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) - traz também ampla análise da reação do governo brasileiro à devastação que se seguiu à quebra da Lehman Brothers, em setembro de 2008. Afonso conclui que, aqui, a reação fiscal propriamente dita foi tímida se comparada a outros governos. O motor para tirar o Brasil da rápida e profunda recessão foi a expansão do crédito. Esta só foi viável a partir dos pesados repasses do Tesouro Nacional para os bancos públicos, particularmente para o BNDES. O banco de desenvolvimento, desde então e até o mês de junho deste ano, já recebeu R$ 271 bilhões em recursos da União.

O tripé macroeconômico que orientou a política brasileira nos últimos 12 anos, segundo Afonso, transformou-se num "quatrilho". Ao regime de metas para a inflação, câmbio flutuante e geração de superávit fiscal soma-se, agora, o crédito.

Keynes é, certamente, um dos mais famosos e geniais economistas do século passado. Dedicou-se a entender como nasceram as grandes crises e, especialmente, a defender a ação estatal para atenuar seus impactos.

Citado, seguido e reverenciado, nem sempre, porém, foi bem compreendido. Dois de seus principais biógrafos, Robert Skidelsky e Paul Davidson, já alertaram que as chamadas políticas keynesianas muitas vezes abrigam ideias que o economista britânico jamais apregoou.

A defesa que Keynes fez de uma política fiscal expansionista se restringia a situações extraordinárias: uma grave e generalizada crise, como a Grande Depressão dos anos 30. Seria uma intervenção provisória, da qual o Estado deveria desembarcar tão logo a economia reagisse. Ele pouco escreveu, no entanto, sobre como deveria ocorrer essa retirada.

Mais correto, segundo Afonso, é considerar que, para Keynes, a política fiscal deveria assumir papéis diferentes em diferentes conjunturas, "ao contrário de um senso infelizmente comum que costuma associar o economista britânico à defesa de uma expansão permanente dos gastos públicos em qualquer contexto".

E o que marca uma crise, nessa ótica, é a ruptura das convenções (as 'expectativas racionais', conforme entendimento de uma corrente do keynesianismo). Isso é diferente e muito mais grave do que as oscilação cíclicas da economia. "Quando a incerteza chega ao ponto de paralisar as decisões empresariais não apenas de investir, mas até de produzir, se instala a crise que pode levar até mesmo a uma grande depressão, como a experimentada nos anos 30". O Estado, sozinho, não conseguiria reverter a depressão econômica, mas poderia impedir que a situação piorasse.

Pode-se inferir, à luz da Teoria Geral ("A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", principal obra do economista britânico, lançada em 1936), que, para enfrentar a crise tal como entendida, o que importava para Keynes era que o governo gastasse mais, gerasse déficit e o financiasse com o aumento da dívida. A emissão de dívida seria a forma de atender à exacerbada preferência pela liquidez dos agentes econômicos em momento de incerteza radical.

Ficou conhecida sua proposta de o governo gastar ainda que fosse para abrir buracos nas vias públicas. "Chama a atenção que não seria o caso apenas de contratar trabalhadores para abrir buracos. Também seria necessária outra turma de trabalhadores para fechar os buracos", lembra Afonso. Essa foi uma figura simbólica de impacto, à qual Keynes recorreu para deixar claro que, numa situação desesperada, valia tudo, desde que se aumentasse o gasto e a dívida pública para reagir à depressão. E, muito provavelmente, Keynes chegou a uma argumentação extrema por causa da herança liberal dos políticos e governantes da época, que resistiam à ideia de expansão do tamanho do Estado. Eles desaprovavam mais ainda os investimentos públicos, pois estes geravam despesas no presente e no futuro.

Afonso tomou o cuidado de recorrer às próprias palavras e obras de Keynes (cerca de três dezenas de volumes) e não poupou citações do economista britânico, entre muitas outras. O livro traz 32 páginas e 300 títulos de referências. Afonso estima que cerca de 80% destas estão disponíveis na internet. O e-book traz um 'link' que, com um clique, permitirá a abertura do trabalho correspondente.

"A crise financeira global virou uma crise de crédito no Brasil", sintetiza o autor. As reações monetárias tiveram maior dimensão e impacto na economia do que as fiscais, mas um elo comum entre elas passou pelo crédito, cuja expansão foi liderada pelos bancos públicos com recursos do Tesouro Nacional. Este fez o aporte para os bancos com expansão da dívida pública, em grande parte absorvida pelo mercado financeiro, que preferiu concentrar suas aplicações no curtíssimo prazo (através das operações compromissadas).

A dívida bruta do governo geral, calculada conforme metodologia internacional, cresceu sem qualquer limitação. Era de 57,7% do PIB em 2007, chegou a 68,9% em 2009 e este ano deve cair para 66,6%, segundo dados do Monitor Fiscal do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Será que o fato (...) não exige qualquer reflexão, preocupação ou limite?", pergunta o autor.


No Brasil "depara-se com um curioso paradoxo em torno da política fiscal". Se, por um lado, a principal resposta fiscal, que Afonso considerou tímida, foi a renúncia a receitas (com incentivos fiscais localizados), de outro, aumentou o receio em relação à expansão acelerada do gasto público federal depois da crise. Boa parte da elevação da despesa foi de caráter permanente e teve origem em medidas adotadas antes da crise global (aumento da folha salarial e dos benefícios previdenciários). Assim, a política fiscal ajudou a sustentar a demanda doméstica diante da recessão, mas deixou como herança uma pressão permanente sobre o gasto, o déficit e a dívida.

O autor chama a atenção, ainda, para as intrincadas e complexas interconexões entre os instrumentos de política econômica. "As finanças públicas já estavam vinculadas de forma peculiar com a moeda, os juros e o câmbio, e, depois da crise, o crédito também veio a ser somado a essa teia." São 'nós' que estrangulam entre si os diferentes instrumentos de política econômica e que exigiriam a adoção, segundo Afonso, de novas convenções fiscais, como, por exemplo, privilegiando a mensuração da dívida segundo metodologias compatíveis com as adotadas no resto do mundo - caso dos conceitos bruto e estrutural.




O Brasil atravessou a crise seguindo o roteiro traçado por Keynes sete décadas atrás, conclui Afonso. Mas estendeu suas ações para os anos seguintes, mesmo quando a economia crescia de forma acelerada, como em 2010. "Quando empresas optam por privilegiar aplicações financeiras e de curto prazo em lugar de mobilizar recursos próprios para aumentar os investimentos e a produção, e até os bancos ficam com medo de emprestar para outros bancos, restou emprestar cada vez mais para o governo", diz Afonso. Mas esta deveria ser uma solução temporária, até que a confiança fosse restaurada.

No sexto e último capítulo, Afonso faz a defesa de três reformas institucionais no campo fiscal: tornar mais austera a responsabilidade fiscal e concluir a implementação da lei (LRF); inovar e fazer a reforma do orçamento; e adotar um novo sistema tributário. Não basta mexer no atual, que "está tão torto que não tem mais conserto."

Editado pela Agir, o e-book já está disponível na livraria Singular e será distribuído também pela Amazon e Saraiva. A edição impressa será lançada em setembro, na Bienal do Livro no Rio de Janeiro. A receita obtida será doada ao Instituto Refazer.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Arquivo: "Caminho do meio" explica pujança chinesa


Os que ainda supõem que o modelo chinês seja baseado em trabalho escravo não perderiam nada em ler com atenção esse artigo.
Entrevista com o ex-professor Antônio Barros de Castro, um dos maiores economistas desse país, que faleceu ontem de modo trágico
e absurdo aqui no Rio de Janeiro.

Werter de Macêdo

A entrevista abaixo foi publicada no Valor em 7 de outubro de 2005


O economista Antonio Barros de Castro, diretor de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acaba de chegar da China. Sua conclusão sobre o que viu é, no mínimo, inusitada. Para ele, o modelo chinês, que se contrapôs ao Consenso de Washington, é uma mistura “bomba” de mercado e Estado. Um verdadeiro caminho do meio, inspirado por Confúcio, filósofo chinês do século VI antes de Cristo. “O Ocidente passou os últimos 20 a 30 anos discutindo e pregando o recuo do Estado. Eles lá (na China) costuraram Estado e mercado de uma forma completamente original. Isso é o que denomino de híbrido chinês no plano maior. É o que define, a meu ver, a grande peculiaridade do modelo local”, diz.

Executivos de multinacionais, com os quais conversou, não se queixam de terem a rota de seus negócios definidas pelo Estado. Ao contrário, eles comemoram a atuação em um mercado que, dentro de 20 anos, contará com 900 milhões de consumidores. E o Brasil, diz ele, pode se preparar: a China não é um produtor de baixo valor agregado. Tudo que se produz lá é muito avançado. Por isso, avisa, novos setores domésticos podem se preparar para a concorrência chinesa. A seguir, os principais trechos da entrevista de Castro ao Valor:

Valor: Que impressões a China lhe deixou?

Antonio Barros de Castro: Há na praça três abordagens da questão chinesa. Uma é a que se limita a apresentar os fenomenais números chineses. A segunda está centrada no temor provocado pela China. A China é vista como uma nuvem de gafanhotos se aproximando. E isso desperta sentimentos fortes e alimenta certa sinofobia que é evidente em alguns ambientes, sobretudo na América do Norte. A terceira procura contrastar a experiência chinesa com o Consenso de Washington. Existiria um modelo chinês? Quais são as suas vantagens ou eventuais desvantagens comparada com o Consenso de Washington?

Valor: Na sua avaliação, existe um modelo chinês?

Castro: A China é tão heterogênea, tão diferente, tão completa, tão um mundo em si próprio que você não consegue ter esse modelo como referencial na cabeça. É impossível pensar a China sem um pouco de perspectiva histórica.

Valor: Como o passado da China influiu sobre seu presente?

Castro: Tanto a China, quanto a América Latina e diversas outras experiências do mundo caminharam rapidamente em direção ao mercado nos últimos 20 a 25 anos. Mas há de partida uma diferença qualitativa: a América Latina foi em direção aos mercados em resposta a crises econômicas graves, de balanço de pagamento, inflacionárias. É fundamental entender que a China se moveu em relação ao mercado por razões políticas e isso marca toda uma diferença histórica fundamental.

Valor: A China se moveu para se tornar uma grande potência?

Castro: Essas razões políticas podem ser resumidas em dois fatos absolutamente traumáticos da vida chinesa. A Revolução Cultural e o massacre da Praça da Paz Celestial. Um aconteceu entre 1966 e 1976 e outro em 4 de junho de 1989. A Revolução Cultural deixou na memória de grande parte da sociedade e da elite chinesa, muito particularmente, horror ao esquerdismo. Acendeu um medo enorme do caos e de tudo aquilo que historicamente acompanhou o caos na China: guerra civil, miséria e dominação das grandes potências. É bom nunca esquecer que estamos falando de um país no qual, há apenas um século, havia em parques, especialmente na área inglesa, cartazes do tipo “proibido para cachorros e chineses”. Então, o país emerge da revolução cultural com uma fome de ordem, segurança e progresso muito grande. E entra um segundo fator fundamental que é o colapso soviético, exatamente após o massacre da Paz Celestial. E gera insegurança no Partido Comunista Chinês e na cúpula chinesa e uma firme decisão de superar o horroroso destino soviético. Digamos que ao horror ao esquerdismo somou-se uma aversão ao burocratismo e à rigidez soviética. De tudo isso deriva uma enorme fome de rumo, ordem e avanço tranqüilo.

Valor: Mas isso não implicou democracia, liberdades individuais...

Castro: A China não está emergindo de um passado de liberdade, ela está emergindo de um caos, não tem uma Suíça por trás. A questão das liberdades individuais é bastante relativizada por este quadro. Nele, a resultante parece ser uma serena busca daquilo que Confúcio pregava como o correto, o caminho certo, o chamado caminho do meio ou híbrido chinês.

Valor: O que é o híbrido chinês?

Castro: Sob certos ângulos o mercado impera na China. Mas o Partido Comunista Chinês continua presente em tudo e o Estado é extremamente poderoso. Então, há um cruzamento de mercado com Estado e política impensável no Ocidente. O Ocidente passou os últimos 20 a 30 anos discutindo e pregando o recuo do Estado. Lá na China, eles costuraram Estado e mercado de uma forma completamente original. Isso é o que denomino híbrido chinês no plano maior. É o que define, a meu ver, a grande peculiaridade do modelo chinês, uma mistura bomba.

Valor: E como isso funciona na prática?

Castro: A este híbrido no plano macro corresponde um híbrido no plano micro. Total liberdade de gestão para as empresas do país. Mas elas têm de caminhar no rumo definido pelo Estado. O Estado define os objetivos e a empresa se candidata, negocia, entra e ruma naquela direção. O Estado planeja e determina o rumo da economia. Não é um planejamento nem soviético, nem francês, é o estabelecimento do “para onde vamos”. O que quero enfatizar é que este cruzamento entre mercado e Estado está no coração da solução chinesa. Visto por um ângulo, é capitalismo selvagem. Por outro, é uma economia moderadamente planejada, porque o planejamento nunca vai a detalhes, não complica decisões. A gestão da empresa é estritamente privada.

Valor: Como funciona a liberdade de gestão nas empresas?

Castro: Eu visitei algumas empresas e a impressão que ficou foi que eles combinam uma enorme liberdade quanto à gestão capitalista, estritamente guiada pelo mercado e pelas decisões empresariais, a um altíssimo grau de liberdade de demitir, admitir e fazer movimentos que a empresa privada não faria no Ocidente. Não há previdência e os salários são determinados ali, no jogo entre a empresa e os trabalhadores. Os preços flutuam em função da concorrência, estritamente oferta e procura.

Valor: Como é a participação do Partido Comunista no modelo?

Castro: O Partido Comunista está presente dentro das próprias fábricas. Numa empresa que visitei, no refeitório tinha uns cartazes do PC. Eu perguntei qual era a mensagem. Eram informações e instruções do partido para os trabalhadores. Indaguei a um dirigente de fábrica se essa presença tão forte do PC chinês complicava. “De forma nenhuma. Nós convivemos tranqüilamente, pacificamente.”

Valor: Esta é a receita do sucesso chinês?

Castro: Eu diria que isso está dando certo, espetacularmente do ponto de vista dos resultados econômicos. Mas não é uma coisa estática, uma solução definitiva. Umas das sensações fortes que você tem na China é de que tudo lá está sempre mudando. A isso soma-se um sistema educacional ambicioso. As pessoas pagam muito pouco para estudar. O pagamento é quase simbólico, mas todos pagam. Lá nada é de graça. O sistema de saúde é gigantesco e eficiente. O atendimento ao público é com hora marcada. O planejamento habitacional dá uma cobertura bastante ampla para os que estão nas cidades.

Valor: Como funcionam as joint ventures de empresas privadas internacionais com o Estado chinês? Elas são suas sócias minoritárias?

Castro: O sócio privado entra minoritariamente num grande número de empresas, em todas as joint ventures. Mas aos poucos ele pode ir ampliando sua participação na sociedade.

Valor: Como se dá esse aumento da participação privada?

Castro: A iniciativa não é necessariamente governamental. As empresas privadas fazem ofertas. Das 500 maiores multinacionais mais de 400 estão na China e estão caçando oportunidades e fazendo suas ofertas. E os governos locais (prefeituras e províncias) partem para parcerias. Existe uma competição política por poder através do crescimento econômico, aprofundando a natureza híbrida do negócio, algo fascinante.

Valor: O crescimento mira o mercado interno ou o externo?

Castro: Todo mundo sabe que o mercado doméstico chinês é gigantesco, efervescente, ávido por novidades. Uma das maiores surpresas que eu tive foi descobrir o mercado de luxo, nos poucos locais em que me desloquei em Xangai e Pequim.

Valor: Como existe mercado de luxo num país comunista?

Castro: Eu compreendi o fenômeno ao me deparar com a informação de que 1% dos chineses hoje tem um nível de vida muito elevado até para padrões ocidentais. Admitindo que o país tenha entre 300 e 400 milhões de famílias, isso significa que 1% ou seja, 3 a 4 milhões de famílias têm um altíssimo padrão de consumo, demandando grifes e tudo o que há de mais sofisticado no mundo capitalista. A essa camada superior se soma uma gigantesca classe média estimada entre 75 a 150 milhões de habitantes. Haveria ainda mais uns 200 a 300 milhões de pequenos consumidores e a essa totalidade estima-se que vão se juntar ao longo dos próximos 20 anos mais 300 a 400 milhões de consumidores.

Valor: Em 2025 a China terá um mercado interno de 900 milhões?

Castro: Exato. É uma coisa extraordinária. Veja o horizonte que os investidores capitalistas têm à sua frente. Um empresário me falou que é muito difícil ganhar dinheiro na China, mas vale a pena. “Nós temos muitas dores de cabeça aqui, mas o que não temos é o pesadelo de não estar aqui.”

Valor: E por que é difícil ganhar dinheiro na China?

Castro: Uma cabeça ocidental logo pensaria que a dificuldade parte das instituições hostis ao mercado, que é a interferência do Estado, do PC chinês. Não é nada disso. O problema é a bestial competição que existe no mercado doméstico chinês. É a competição que os ingleses chamam de “cortar gargantas”. O executivo que me falou disso chamou essa competição de “cruel”. E me levou a um grande supermercado para eu entender o que se passa. Visitei diferentes andares. Cada produto, tipo refrigerador, aparelho de som, televisor, tinha no mínimo 20 marcas diferentes, as ocidentais que conhecemos e pelo menos dez marcas chinesas que a gente desconhece.

Valor: E tudo produzido lá?

Castro: Tudo é produzido lá à exceção de determinados insumos, sobretudo de eletrônica. A parte mecânica eles fazem tudo. A competição é dramática.

Valor: Este vender a qualquer preço parece ser o grande diferencial chinês. Pode explicar?

Castro: Quando se vê o produto chinês chegar aqui a preços baratíssimos, é preciso lembrar que ele já sobreviveu num clima de cortar gargantas. Essa hipercompetição é estrutural devido à gigantesca capacidade de poupar da China. A poupança está associada a uma taxa de investimento da ordem de 40% do PIB chinês, que é de US$ 1 trilhão ou US$ 1.200 per capita.

Valor: O que estimula essa poupança?

Castro: Em parte porque não tem aposentadoria. O filho mais velho vai ter de cobrir a necessidade dos pais. Há compulsão a poupar, aliada a um sistema bancário frouxo, que oferece juros levemente negativos em termos reais. O que quero dizer é que você tem aí uma alavanca da expansão rápida da capacidade produtiva do país, que não é ancorada só em mão-de-obra barata. Não raro, isso resulta em excesso de capacidade e oferta.

Valor: E como lidam com essa sobreoferta?

Castro: Uma das soluções é vender internamente e exportar as sobras a preços que apenas cobrem os custos variáveis. O que acirra dramaticamente a competição e resulta numa oferta que está permanentemente evoluindo a uma taxa de crescimento espetacular.

Valor: A China é um poço de produção de bens de baixo valor agregado?

Castro: Isso não tem qualquer fundamento. Os eletrodomésticos à venda nos supermercados de Xangai não existem nas prateleiras dos supermercados brasileiros. Lá, os televisores, em regra, são de cristal líquido. Plasma é uma solução superada. É tudo da maior qualidade. Telas enormes, planas, tudo elegantérrimo e vai ver o preço, é no máximo US$ 2 mil. A China produz o que há de mais avançado.

Valor: A indústria brasileira se queixa da concorrência chinesa...

Castro: Não é toda a indústria. São certos ramos que já recuaram na América Latina e no Brasil resistiram bravamente e em muitos casos têm potencial para resistir. Mas, na presente quadra, estão em situação crescentemente difícil.

Valor: Existem produtos chineses que podem vir a se tornar novas dores de cabeça para o empresário brasileiro?

Castro: Tudo, inclusive automóvel. A produção de automóveis cresce explosivamente. A demanda por eles na China cresce 15% ao ano e a oferta cresce mais rapidamente. A China é um novo candidato não só a conquistar o mercado brasileiro, mas a competir lá fora com as nossas exportações. Os chineses já têm os seus carros compactos. Inclusive têm um compacto chinês que é um escândalo internacional, chamado KK (leia-se quê quê), que custa apenas US$ 3 mil. Eles vão entrar nesse mercado por cima, por baixo e pelo meio.

Valor: E sua conclusão sobre o que viu na China, colocadas todas essas peças na mesa?

Castro: Minha conclusão é que nenhum país funciona hoje sem ter um olho cravado na China. As diversas economias estão descobrindo que ninguém previu o despertar do dragão chinês. Todos se programaram para o mundo errado. Agora correm para corrigir a rota e se adaptar ao fenômeno.

Valor: E o Brasil neste contexto China?

Castro: Quanto ao Brasil, há trunfos inegáveis: o agronegócio e a mineração. Imbatíveis num mundo em que economias do porte da China se tornam ávidas por matérias-primas. Isso leva Brasil, Canadá e Austrália à tentação da reprimarização.

Valor: Seria a estratégia para enfrentar a China?

Castro: Esta é uma dimensão do futuro, mas aceita-la é complicado. É preciso descobrir as chances e as brechas do mundo manufatureiro, industrial. Temos de lembrar que o mercado chinês é voraz.

Valor: Então, o que o Brasil teria de fazer?

Castro: Temos mercados manufatureiros certamente se abrindo, onde se encontrará pesadamente a concorrência chinesa, mas não apenas ela. O Brasil tem de desenvolver competências específicas para explorá-los. Eu acho que aqui nós temos de pensar numa política de competências distintas. Mas como o Brasil vai fazer isso é uma enorme incógnita.

Valor: Há chances para o Brasil nesse cenário?

Castro: Até o crescimento chinês é uma fascinante oportunidade para o Brasil, ainda mais na medida em que aumentar a sofisticação da massa chinesa. Cerca de 200 milhões de chineses saíram da fome nos últimos anos. É preciso se preparar para disputar e ganhar esse mercado.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

HISTORIA DO BRASIL


“Terminei de ler os quatro livros do historiador Eduardo Bueno sobre período pouco estudado da história do Brasil.
O primeiro (‘A Viagem do Descobrimento’) detalha como um país pequeno como Portugal adquiriu condições de navegar por todos os oceanos, levando ao descobrimento do Brasil e ao domínio do comércio na Índia.
Já ‘Náufragos, Traficantes e Degredados’ trata do período entre o descobrimento e as capitanias hereditárias: as estórias de Caramuru, o importante papel dos degredados nas ocupações territoriais pelos portugueses e como os náufragos foram decisivos na descoberta das riquezas incas.
‘Capitães do Brasil’ relata a história de cada capitania, o papel dos criminosos deportados no fracasso de várias delas, as tragédias que vitimaram as mais caras expedições de ocupação e como dois naufrágios impediram que o sul do Brasil se tornasse espanhol.
‘A Coroa, a Cruz e a Espada’ relata a formação do governo geral no Brasil, a construção de Salvador como primeira capital e as dificuldades iniciais na consolidação do domínio português no Brasil”.

Márcio Antônio Estrela, Derin, Brasília

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

No meio do caminho havia um muro em Berlim


Num dia de chuva, no Rio de Janeiro da Noruega, em Bergen, conheci três portuguesas. O dia não seria diferente, lá chove cerca de 300 dias por ano, Bergen é uma das cidades mais chuvosas da Europa. Por ser muito caro, a Noruega era um país contra-indicado para mochileiros. Barato, só o caviar, a preço de banana. Mas as bananas tinham preço de caviar.

Num supermercado, as portuguesas resolveram comprar bananas. Compraram umas machucadas, de casca muito madura, as mais baratas. Na saída, ressaltaram o quanto haviam economizado em escudos. As portuguesas reclamavam muito do preço da alimentação na Noruega. De tanto ouvir reclamação, propus: “Vamos a um país comunista, comida lá é quase de graça. Que tal Berlim Oriental?” Duas concordaram de imediato e a terceira previu: “O falhanço do comunismo não tardará. O muro dura no máximo uns cinco anos”.

Terminada a visita a Bergen, pegamos um trem e passamos por Copenhague em direção a Hamburgo, onde compraríamos o bilhete para Berlim Ocidental, que ficava encravada no território da Alemanha Oriental. Nosso passe de trem não era válido no leste europeu. Numa das viagens de trem, eu tinha conhecido um alemão que fugira da Alemanha Oriental. Ele se queixou muito do regime comunista. À época, eu tinha pendores esquerdistas, cheguei até a pensar em tentar convencer o alemão de que ele não deveria ter fugido. Mas eu me basearia apenas no que ouvia nas assembleias do centro acadêmico de engenharia da Universidade Federal do Ceará, formado por moços de classe média que queriam fazer a revolução.

Noutra viagem de trem, um alemão ocidental garantira que, dos países comunistas, a Alemanha Oriental era o mais avançado. “Se você for lá um dia, verá que o mais avançado dos países comunistas ainda está muito atrasado”, assegurou. Com base no que contaram esses dois alemães, a viagem a Berlim Oriental passou a ter importância maior, além de comer barato: verificar se o alemão que fugiu e o que não precisou fugir tinham razão. As portuguesas queriam economizar, juntar escudos, comer quase de graça.

Os trens na Alemanha não costumavam causar surpresas desagradáveis aos viajantes. Pontualmente, chegamos a Hamburgo. No guichê, perguntei quanto custava a passagem e avisei às portuguesas: “Uma senhora disse que o bilhete pode ser comprado no trem. Mas é mais barato se for comprado aqui”. Uma das portuguesas não concordou: “Ouvi dizer que se comprarmos no trem é mais barato”. “Transporte nos países comunistas é mais barato”, afirmou a segunda. A terceira, em sintonia com as amigas, argumentou: “Estão querendo que você compre aqui”. Resolvi confiar na senhora alemã, tivera boa experiência com a alemã honesta no hotel em Munique. Comprei meu bilhete. As portuguesas queriam economizar, juntar escudos, decidiram comprar no trem.

Durante a viagem, as conversas eram sobre nossas expectativas, sobre o que iríamos encontrar no outro lado do muro. Na fronteira entre as duas Alemanhas, lembrei-me da metáfora de Churchill: a cortina de ferro. Uma cerca fortificada, elétrica, de 1.400 quilômetros separava a República Federal da Alemanha da República Democrática Alemã. A comunista não era a federal, era a democrática. Confuso? O nome das moedas era idêntico: marco. De agora em diante, seguindo a denominação oficial dos países, trataremos o marco ocidental de “marco federal”; e o marco oriental, de “marco democrático”.

A polícia entra no trem. Chamavam a atenção a falta de simpatia dos policiais e a cor do uniforme deles: verde-russo. Cães farejadores examinaram nossas bagagens. Chega a vez do cobrador. As portuguesas tomaram um susto quando souberam o preço do bilhete, muito mais caro do que o comprado em Hamburgo. Xingaram o cobrador alemão comunista. Para sorte delas, o xingamento foi em português. Toda a economia que as portuguesas tinham feito ao comprar as bananas estragadas foram muro abaixo.

Surgiu mais uma cerca, a que atravessava o território alemão oriental até o lado ocidental de Berlim. Da janela do corredor do trem, a cerca atrapalhava a vista. A segunda guerra acabara em 1945. Por dezesseis anos, não houve muro em Berlim. O que havia no lado ocidental era trabalho sobrando e falta de trabalhadores. Os alemães orientais queriam também participar da festa e fugiam para o outro lado. Até que, numa madrugada de agosto de 1961, os comunistas construíram um muro que passou a circundar Berlim Ocidental. Eram dois muros, de fato. Entre eles, ficou preso o Portão de Brandemburgo.

Chegamos a Berlim Ocidental. Na Kurfürstendamm, a Champs-Elysées berlinense, as vitrines impressionavam. Era como se estivessem ali para dizer aos alemães do outro lado do muro “vejam como poderia ser, comparem com o que vocês estão fazendo aí”. Mas os russos teriam sido mais sabidos que os americanos na divisão da cidade, eles teriam ficado com a melhor parte dela. Uma visita à praça Gendamenmarkt haveria de confirmar essa hipótese.

Para ver o que havia do outro lado do muro, precisávamos de um visto, válido somente por 24 horas; e os estrangeiros tinham obrigação de comprar sessenta marcos democráticos. Se em Berlim Oriental não mostrássemos comprovante de que os marcos democráticos tinham sido trocados lá, passaríamos dias ou semanas presos. Com essa informação, chegamos ao posto de controle, onde haveria a passagem para o lado oriental. Em Berlim Ocidental, um marco federal valia quatro marcos democráticos. Feito o câmbio, ao pôr na mão uma moeda de um marco democrático, sentimos o quanto ela era leve, parecia de lata. Pesada foi a conta no câmbio paritário, os alemães orientais trocaram um marco federal por um democrático. A sabedoria dos comunistas manifestou-se mais uma vez.

Passamos por várias barreiras de oficiais não muito simpáticos de uniforme verde-russo. Ao sair, tivemos a sensação de ter atravessado um túnel do tempo. Só não sabíamos quantas décadas havíamos retrocedido.

Havia poucas pessoas na rua, pouco movimento de carros, dos fumacentos trabants, o fusca deles. Vimos também carros enormes, pretos, lembravam limusines. Quando uma das portuguesas viu um desses carros, exaltou-se: “Olhaí, o povo anda de trabant e os membros do partido andam nesses carros luxuosos!” Tentei defender a boa intenção dos comunistas. Berlim havia sido dividida por quatro países: EUA, Grã-Bretanha, França e URSS. Cada uma das portuguesas representava uma potência ocidental. Eu tinha uma inclinação soviética por influência das assembleias na faculdade, era um representante informal dos russos.

Entramos numa loja que parecia uma padaria. Os produtos tinham embalagem igual, branca, mas ao contrário do supermercado em Munique, a impressão na embalagem era de baixa qualidade, as letras estavam quase apagadas. As portuguesas reclamaram da embalagem; tentei defender o socialismo, o comunismo (até hoje não sei muito bem a diferença): “O que importa é o conteúdo. Um litro de leite aqui custa um décimo do preço do lado ocidental”. Era o meu viés esquerdista mais uma vez em ação.

Hora do almoço. Foi completo, com toda pompa: entrada, prato principal, bebidas, sobremesa. Quando pedimos a conta, as portuguesas tomaram o segundo susto da viagem, a refeição tinha sido quase de graça. Elas se comoveram, compararam com os preços em Portugal, um dos países mais baratos da Europa. Cheguei a pensar “agora elas aderem à causa socialista”. Mas nem assim se renderam, reclamaram do atendimento do garçom, que demorou muito.

Na avenida Karl Marx, de longe via-se a torre de televisão; de perto, do lado direito, um prédio do partido parecido com um caixote. Num cartaz, viam-se felizes camponesas ordenhando vacas socialistas. Perguntei a um senhor que passava próximo:

– O muro é grande, né? E alto. Por que ele foi construído?

– É uma barreira contra o fascismo, uma proteção para nos separar dos nazistas e dos imperialistas americanos.

O alemão apressou o passo e se despediu. O tempo passou rápido e o visto era válido por apenas um dia. Pouco antes da meia-noite, voltamos para o lado ocidental sem saber o que fazer com os marcos democráticos que sobraram. As portuguesas com suas convicções anticomunistas ainda mais fortes; eu, com minhas crenças, que já não eram firmes, abaladas.

O muro de Berlim não viera para ficar, em novembro de 1989 sua queda foi precipitada por um anúncio improvisado de um comunista não sabido. O posto ficou fora de controle. Ao ver a notícia pela televisão, não me contive, liguei para uma das portuguesas: “Está vendo? Bem que você dizia, o muro não iria durar muito!” A portuguesa, que previra a derrubada do muro, fez outra previsão em 1989: “O país mais capitalista de todos será a China”.

Chovia em Trás-os-Montes.

acoelhof – Fortaleza (acoelhof@gmail.com)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Inside Job



ASSISTA O FILME COM LEGENDAS EM PORTUGUES


ERDANET
Ontem acabei de ver pela segunda vez o excelente documentário Inside Job, de Charles Fergunson (108 minutos), contando a crise de 2008 vista pela perspectiva de cima (diferentemente de Michael Moore, com Capitalism – A Love Story, que conta a mesma história vista de baixo). Fiquei com a impressão de que teria que ser passado na TV Bacen, e que seria obrigatória (no sentido de “altamente recomendável”) para qualquer funcionário que trabalhe num banco central, mas acho isso bem improvável. É didático mas não accessível ao público em geral, é um tanto quanto técnico, mas tranquilo para um baceniano. Narra o nascimento dos derivativos, o trabalho de arquitetura e construção da “cadeia alimentar” dos subprimes, e termina no final de 2010, o que, de certa forma, ajuda a antecipar o que vem pela frente. O documentário mostra claramente que a disputa entre Democratas e Republicanos nos EUA fica restrita ao campo político, porque o staff de protagonistas das últimas crises financeiras globais é praticamente o mesmo desde Bush Pai, depois Clinton, Bush Filho, e agora Obama, o mesmo pessoal está dando as cartas pelos últimos quase 30 anos. Entrevistas com espectadores privilegiados: DSK (ainda no FMI), Lagarde (como ministra de finanças francesa), o primeiro ministro de Singapura, o ministro de finanças chinês, e outros altos coturnos mundiais. Mas o palco é Wall Street. Alguns pontos de destaque: a redução planejada das atribuições e contingentes de fiscalizadores no Fed e na Sec americanos, o estreito relacionamento entre as faculdades de economia top de linha americanas (Harvard, Berkeley, Colúmbia e etc.) + lobistas + os top dogs dos grandes conglomerados financeiros + as gigantes de seguros + as 3 maiores agências de rating americanas e + o “estado mínimo” regulador e fiscalizador americano, a relação íntima entre os wall streeters e a cocaína e outros bichos mais. Os caras que arquitetaram as enormes perdas ficaram bilionários, e nunca serão processados, simplesmente porque continuam ocupando os postos-chave na condução da economia americana no atual governo. Fiquei pensando na validade e alcance dos inúmeros seminários promovidos pelo FED, FMI, GAFI, FATF e Basiléia ao redor do mundo, quando o próprio sistema financeiro americano (de acordo com o documentário) tem atuação marcante na lavagem de dinheiro do narcotráfico mexicano, no financiamento do Irã, Iraque (Estados terroristas?). Existe versão legendada, achei a tradução bem legal. Pode ser facilmente obtido pelos conhecidos meios internéticos. Esse documentário é esclarecedor, não precisei fazer aqui qualquer juízo de valor, apenas tentei fazer uma review desse imperdível relato da história que ainda vivemos e estaremos vivendo no futuro. Muitas coisas são desmistificadas, a verdade é trazida à tela às vezes de forma crua, chocante. É a pela de teatro vista por trás das cortinas do palco. Quase pornográfico.

Rodrigo Loureiro Araujo

FAULT LINES




Outro livro interessante sobre o tema (crise) é “Fault Lines”, do Raghuram Rajan

Marcelo Nuno Carneiro de Sousa

Fault Lines:
How Hidden Fractures Still Threaten the World Economy
Raghuram G. Rajan

Winner of the 2010 Financial Times and Goldman Sachs Business Book of the Year Award

Gold Medal Winner of the 2011 Independent Publisher Book Awards in the Finance/Investment/Economics category

Winner of the 2010 PROSE Award for Excellence in Economics, American Publishers Awards for Professional and Scholarly Excellence

Gold Medal Winner of the 2010 ForeWord Reviews Book of the Year Awards in the Business & Economics Category

Finalist for the 2010 TIAA-CREF Paul A. Samuelson Award

Named one of the 2010 Best Business Books of the Year, strategy+business magazine

Best Crisis Book by an Economist and Named one of the 2010 Top Thirty Business Books of the Year, Bloomberg News (bloomberg.com/news)

Named as one of the 2010 Books of the Year in Nonfiction Round-Up in the Business & Economics list, Financial Times (FT.com)

Finalist of the 2010 ForeWord Reviews Book of the Year Awards, Business and Economics Category

Finalist, 2011 Estoril Global Issues Distinguished Book Prize

Passeio socrático


Por Frei Betto
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da
Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos,
recolhidos em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala
de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares;
mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do
que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas
como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um
apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz
felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e
perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à
tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir
um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...”
“Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura,
piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de
meditação!’”
A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres,
totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados.
Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI
(Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta
ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as
pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem
aulas de meditação!
Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis
livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de
ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas
me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”.
“Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão
da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na
realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo
é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids,
não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu
quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem
nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra!
Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há
compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da
linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos
virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro
lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do
espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é
um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos
um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo,
então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o
apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil
quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue
vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da
soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­
usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é
que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o
desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem
resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus
pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o
direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar
o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O
grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo,
começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento
globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.
Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis:
amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à
Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve
procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de
que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status
construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping
center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas
arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de
qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali
dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de
rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela
musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas
aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por
belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos
céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no
cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar,
certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na
eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o
mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados
de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:
“Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares
espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399
antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o
centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o
assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa
existe de que não preciso para ser feliz.”


* Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, escritor, religioso
dominicano e assessor de movimentos sociais, é autor de "Típicos
Tipos" (A Girafa), Prêmio Jabuti 2005, de “O desafio ético”
(Garamond), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência
da República (2003-2004).

rodrigocmiranda

terça-feira, 16 de agosto de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

As sete maravilhas de Salvador


As sete maravilhas de Salvador
Nelson Cadena - 12.08.2011 | Atualizado em 12.08.2011 - 07:06

Lagoa do Abaeté, Elevador Lacerda e Pelourinho já eram. Esses cartões-postais não mais existem a não ser no imaginário dos turistas. Os baianos estão carecas de saber que o sujeito arrisca-se a encontrar as cabines do elevador em manutenção, ou os funcionários em greve, e o Pelô, quem se atreve a ir hoje em dia? O Pelourinho deixou de ser um atrativo turístico, relegado ao abandono do poder público, assim como a Lagoa do Abaeté que não mais é a lagoa escura arrodeada de areia branca de Caymmi. Está na hora de renovarmos os cartões-postais da cidade e nessa iniciativa sugiro, como Sidon que elencou as Sete Maravilhas do mundo antigo, nomear as Sete Maravilhas de Salvador. Sete monumentos que são extra-ORDINÁRIOS no sentido de diferenciados pelo seu contexto de serviços para lá de inusitado.

A primeira maravilha seria o Metrô que me parece é hoje o maior atrativo turístico da cidade, cartão-postal para a Bahiatursa incluir nos seus roteiros com guias especializados informando aos visitantes como foi possível torrar um bilhão de reais para erguer seis quilômetros de colunas de concreto e estações esquisitas e como tudo isso aconteceu sob o olhar complacente e displicente de autoridades de todos os poderes. E então promover viagens de helicóptero para conferir de perto o eterno canteiro e fotografar as obras sem fim, no clima de trilha sonora da musica ‘Otário’ de Cássia Eller.

A segunda maravilha de Salvador poderia ser o Rio Lucaia, que corre majestoso entre as proximidades da praia do Jardim de Alá e o Rio Vermelho e tem o seu ponto de observação mais nobre, atrativo turístico, na passarela entre a rodoviária e o Iguatemi. Quem vê nunca esquece e, se respira fundo, inalando ar nos pulmões, não esquece mesmo.

A terceira maravilha proponho seja a Praça Cayru com os seus casarões centenários equilibrando-se entre andaimes e estacas (um desafio às leis da engenharia) e a imponência clássica das ruínas do sobrado azulejado que um dia foi ponto de venda de uma rede de supermercados.

A quarta maravilha de Salvador, essa sugestão é de graça, deve ser a Estação da Lapa. Em nenhum lugar do mundo se construiu algo mais sinistro e o roteiro turístico poderia priorizar a observação dos usuários se acotovelando para subir no coletivo e as ferrugens expostas, em registros fotográficos impagáveis.

Cartão-postal da orla de Salvador, a quinta maravilha poderia ser o Aeroclube, também um monumento sem referência em outro lugar do planeta. Na península do Yucatán, no México, os turistas admiram as ruínas das pirâmides Maias; aqui podemos exibir as ruínas de um parque que nunca existiu e do projeto de shopping que cada vez mais se aproxima da proposta original de ser um empreendimento a céu aberto. E bote aberto nisso.
A sexta maravilha sugiro seja a frota do sistema de ferryboats: sucata sujeita a ficar à deriva no mar. Nenhum outro serviço congênere nos oferece a possibilidade de uma aventura com essa dose de adrenalina. Os turistas poderão fotografar as ondas batendo no convés, ou os banheiros sem igual no imaginário do terceiro mundo e ainda se deliciar com os ‘ótimos’ petiscos da cantina. E se tiverem sorte poderão apreciar a queda de um carro na água.

A sétima maravilha, essa deixei para o final de propósito, recomendo seja o Parque de São Bartolomeu com o diferencial de mata atlântica fétida, rios de espuma desaguando próximo de bares ruidosos, com suas putas alegres e malandros bebendo todas e fumando maconha; ‘patrimônio ambiental’ para mostrar ao mundo o tamanho de nossa burrice.

Afinal, somos diferentes. Em nenhum outro lugar o poder público desafia a natureza com tamanha competência. É o limite da irresponsabilidade e essa noção sem limite já é um bom pretexto para exibir o nosso topete

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

SOM E AREIA


ACOELHOF

O sanfoneiro Waldonys contou no programa Som e areia, do canal Multishow, gravado na praia de Jericoacoara no hotel Mosquito Blue e na pousada Casa de Areia. Waldonys voltava de um show, acompanhado de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e do motorista dele.

Nós terminamos um show às duas, três horas da manhã. A gente estava na estrada. Eu, seu Luiz Gonzaga e o Maia, o motorista dele. Na descida da serra, tinha uma barraquinha. A gente estava com fome, paramos na barraquinha e a velhinha da barraquinha foi logo dizendo: “Só tem sopa!”

Rapaz, na primeira colherada da sopa que eu dei... Tava pura a inseticida.

Seu Luiz ficou assim... Eu também...

A velhinha ainda arrudeou a mesa e perguntou:

– E aí, a sopinha tá boa?

– Dona Maria, não vou mentir pra senhora. Tá pura a inseticida!

– É! Quando vem com barata, vocês reclamam. Quando vem com Baygon, reclamam também...

Quando a gente ia saindo, tinha um negocinho de vidro que guarda aqueles

salgadinhos, aquelas coisas. E a gente com fome...

– Dona Maria, essa coxinha é de hoje?

– É de ontem.

– E o pastel?

– De ontem, meu filho.

– Como é que eu faço pra comer uma coisa feita hoje?

– Venha amanhã.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Os Estados Unidos em decadência


Noam Chosmky - La Jornada

É um tema comum que os Estados Unidos, que há apenas alguns anos era visto como um colosso que percorreria o mundo com um poder sem paralelo e um atrativo sem igual (...) estão em decadência, enfrentando atualmente a perspectiva de uma deterioração definitiva, assinala Giacomo Chiozza, no número atual de Political Science Quaterly.

A crença neste tema, efetivamente, está muito difundida. Em com certa razão, se bem que seja o caso de fazer algumas precisões. Para começar, a decadência tem sido constante desde o ponto culminante do poderio dos EUA, logo após a Segunda Guerra Mundial, e o notável triunfalismo dos anos 90, depois da Guerra do Golfo, foi basicamente um autoengano.

Outro temam comum, ao menos entre aqueles que não ficaram cegos deliberadamente, é que a decadência dos EUA, em grande medida, é auto-inflingida. A ópera bufa que vimos este verão em Washington, que desgostou o país e deixou o mundo perplexo, pode não ter comparação nos anais da democracia parlamentar. O espetáculo inclusive está chegando a assustar aos patrocinadores desta paródia. Agora, preocupa ao poder corporativo que os extremistas que ajudou a por no Congresso de fato derrubem o edifício do qual depende sua própria riqueza e seus privilégios, o poderoso estado-babá que atende a seus interesses.

A supremacia do poder corporativo sobre a política e a sociedade – basicamente financeira – chegou ao grau de que as formações políticas, que nesta etapa apenas se parecem com os partidos tradicionais, estão muito mais à direita da população nos principais temas em debate.
Para o povo, a principal preocupação interna é o desemprego. Nas circunstâncias atuais, esta crise pode ser superada só mediante um significativo estímulo do governo, muito mais além do que foi o mais recente, que apenas fez coincidir a deterioração no gasto estatal e local, ainda que essa iniciativa tão limitada provavelmente tenha salvado milhões de empregos.

Mas, para as instituições financeiras, a principal preocupação é o déficit. Assim, só o déficit está em discussão. Uma grande maioria da população está a favor de abordar o problema do déficit taxando os muito ricos (72%, com 27% contra), segundo uma pesquisa do The Washington Post e da ABC News. Fazer cortes nos programas de atenção médica conta com a oposição de uma esmagadora maioria (69% no caso do Medicaid, 78% no caso do Medicare). O resultado provável, porém, é o oposto.

O Programa sobre Atitudes de Política Internacional (PIPA) investigou como a população eliminaria o déficit. Steven Kull, diretor do PIPA, afirma: É evidente que, tanto o governo como a Câmara (de Representantes) dirigida pelos republicanos, estão fora de sintonia com os valores e as prioridades da população no que diz respeito ao orçamento.

A pesquisa ilustra a profunda divisão: a maior diferença no gasto é que o povo apoia cortes profundos no gasto militar, enquanto que o governo e a Câmara de Representantes propõem aumentos modestos. O povo também defende aumentar o gasto na capacitação para o trabalho, na educação e no combate à poluição em maior medida que o governo ou a Câmara.

O acordo final – ou, mais precisamente, a capitulação ante à extrema direita – é o oposto em todos os sentidos, e quase com toda certeza provocará um crescimento mais lento e danos de longo prazo para todos, menos para os ricos e as corporações, que gozam de benefícios sem precedentes.

Nem sequer se discutiu que o déficit poderia ser eliminado se, como demonstrou o economista Dean Baker, se substituísse o sistema disfuncional de atenção médica privada dos EUA por um semelhante ao de outras sociedades industrializadas, que tem a metade do custo per capita e obtém resultados médicos equivalentes ou melhores.

As instituições financeiras e as grandes companhias farmacêuticas são demasiado poderosas para que sequer se analisem tais opções, ainda que a ideia dificilmente pareça utópica. Fora da agenda por razões similares também se encontram outras opções economicamente sensatas, como a do imposto às pequenas transações financeiras.

Entretanto, Wall Street recebe regularmente generosos presentes. O Comitê de Atribuições da Câmara de Representantes cortou o orçamento da Comissão de Títulos e Bolsa, a principal barreira contra a fraude financeira. E é pouco provável que sobreviva intacta a Agência de Proteção ao Consumidor.

O Congresso brande outras armas em sua batalha contra as gerações futuras. Apoiada pela oposição republicana à proteção ambiental, a importante companhia de eletricidade American Eletric Power arquivou o principal esforço do país para captar o dióxido de carbono de uma planta atualmente impulsionada por carvão, o que significou um forte golpe às campanhas para reduzir as emissões causadoras do aquecimento global, informou o The New York Times.

Esses golpes auto-aplicados, ainda que sejam cada vez mais potentes, não são uma inovação recente. Datam dos anos 70, quando a política econômica nacional sofreu importantes transformações, que puseram fim ao que se costuma chamar de “época de ouro” do capitalismo de Estado.

Dois importantes elementos desse processo foram a financeirização (o deslocamento das preferências de investimento, da produção industrial para as finanças, os seguros e os bens imobiliários) e a externalização da produção. O triunfo ideológico das doutrinas de livre mercado, muito seletivo como sempre, desferiu mais alguns golpes, que se traduziram em desregulação, regras de administração corporativa que condicionavam as enormes recompensas aos diretores gerais com os benefícios de curto prazo e outras decisões políticas similares.

A concentração resultante da riqueza produz maior poder político, acelerando um círculo vicioso que aportou uma riqueza extraordinária para 1% da população, basicamente diretores gerais de grandes corporações, gerentes de fundos de garantia e similares, enquanto que a maioria das receitas reais praticamente estancou.

Ao mesmo tempo, o custo das eleições disparou para as nuvens, fazendo com que os dois partidos tivessem que escavar mais fundo os bolsos das corporações. O que restava de democracia política foi solapado ainda mais quando ambos partidos recorreram ao leilão de postos diretivos no Congresso, como apontou o economista Thomas Ferguson, no The Financial Times.

Os principais partidos políticos adotaram uma prática das grandes empresas varejistas, como Walmart, Best Buy e Target, escreve Ferguson. Caso único nas legislaturas do mundo desenvolvido, os partidos estadunidenses no Congresso colocam preço em postos chave no processo legislativo. Os legisladores que conseguem mais fundos ao partido são os que indicam os nomes para esses postos.

O resultado, segundo Ferguson, é que os debates se baseiam fortemente na repetição interminável de um punhado de consignas, aprovadas pelos blocos de investidores e grupos de interesse nacionais, dos quais depende a obtenção de recursos. E o país que se dane.

Antes do crack de 2007, do qual foram responsáveis em grande medida, as instituições financeiras posteriores à época de ouro tinham obtido um surpreendente poder econômico, multiplicando por mais de três sua participação nos lucros corporativos. Depois do crack, numerosos economistas começaram a investigar sua função em termos puramente econômicos. Robert Solow, prêmio Nobel de Economia, concluiu que seu efeito poderia ser negativo. Seu êxito aporta muito pouco ou nada à eficiência da economia real, enquanto seus desastres transferem a riqueza dos contribuintes ricos para o setor financeiro.

Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal...enquanto suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio.

(*) Professor emérito de lingüística e filosofía do Instituto Tecnológico de Massachusetts. Seu livro mais recente é 9-11: Tenth Anniversary.


Uma saída para o balão na praça

Por Luís Fernando Veríssimo

Fora os falsários, só americanos podem imprimir dólar. E o dólar, apesar de combalido, ainda é a moeda padrão do mundo. É por isso que letras do tesouro americano são os títulos preferidos de investidores internacionais. E é por isso que os mais nervosos com a possibilidade de os Estados Unidos darem um balão na praça, inclusive não honrando suas letras do tesouro, não eram os americanos. Eram os chineses, seus maiores credores.

Pode-se até imaginar uma reunião de emergência do comitê central do partido comunista chinês para discutir a crise americana.

– Mas que capitalismo de araque é esse?
(Nota: a palavra usada não foi “araque”.)

– Em que mundo vivemos, se não se pode mais confiar nem no tesouro americano?!

– Foi para isso que fizemos a Longa Marcha com Mao, sacrificamos milhões de chineses, industrializamos o país na marra, invadimos as lojas 1,90 do mundo com os nossos produtos? Para botar nosso dinheiro na mão de irresponsáveis?

– Há uma real possibilidade de nos darem um calote, se não se entenderem. Será nossa ruína. Onde estão a ética nos negócios e a moral cristã quando precisamos dela?

– Temos que nos defender.

– Há uma saída.

– Qual?

– Executamos a dívida. Eles não têm como pagar, portanto não têm como recusar nossa oferta.

– Você quer dizer…

– Sim. Compramos os Estados Unidos.

– Humm. Pode dar certo.

– Substituímos o moreno por um presidente permanente e um comitê central. Acabamos com essa frescura de dois partidos, responsáveis pela lambança atual, e instalamos um partido único com plenos poderes. E damos um jeito na economia deles. Não somos o maior exemplo de economia de mercado bem-sucedida no mundo, hoje? Vamos mostrar a esses americanos como se faz capitalismo de verdade.

– Grande. E teremos outra vantagem, comprando os Estados Unidos.

– Sei o que você vai dizer. A Julia Roberts será nossa.

– Melhor do que isso.

– O que?

– Vamos poder imprimir dólar!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fomos maus alunos


Já faz tempo, li Fomos maus alunos, uma conversa entre Rubem Alves e Gilberto Dimenstein.
Imperdível, aprende-se com esse livro muito mais do que nas escolas. Recomendo ainda mais para quem tem filhos.
seguem trechos do livro:

Rubem – Gilberto, você disse que se formos fazer um teste de química ou física, não saberemos. Então, voltando à questão do vestibular, o fato é o seguinte: se fizermos vestibular, seremos reprovados, os reitores e os professores das nossas universidades serão reprovados; os professores dos cursinhos serão reprovados, porque cada um só passará na sua disciplina. Os que fizeram as questões dos vestibulares serão reprovados, porque eles também só passarão nas suas disciplinas. Se todos serão reprovados, por que os alunos têm de passar no vestibular? Não há a menor razão para que passem no vestibular. Deixe-me retornar o que você disse. Achei legal! O que se aprende não é o resultado; aprende-se no ato de aprender. Isso tem a ver com aquele aforismo do Guimarães Rosa, de que o real não se dispõe nem na saída nem na chegada, mas na travessia...
(...)
Gilberto – E dizer: Olha, isso que você está ensinando não é educação. Você pode até continuar na escola, mas... Eu acho que, nesse nosso papel, talvez a gente nunca consiga mudar a escola. Talvez a escola seja uma instituição para acalmar o medo humano da incógnita. No entanto, a gente pode dizer: "Isso tudo é uma fraude!"
Rubem – Você falou em denunciar a fraude e me fez lembrar de uma história do Andersen, A roupa nova do rei. Você conhece a história?
Gilberto – Como é?
Rubem – Um rei era apaixonado por roupas, adorava roupas. Mas ele era um rei muito simplório. Um dia, dois espertalhões foram falar com o rei e disseram que eram capazes de produzir uma roupa tão maravilhosa, mas tão maravilhosa que somente as pessoas muito inteligentes, as mais bem dotadas seriam capazes de ver. Os espertalhões queriam fazer essa roupa para o rei. Ele ficou encantado. Então os espertalhões foram lá, levaram os teares, e começaram a tecer... Nada. E teciam e teciam, e o rei foi lá. "Majestade, olha que cores lindas!" O rei não viu nada, mas, como sabia que somente as pessoas muito inteligentes veriam a roupa, disse: “Mas que coisa linda!”. Aí ele mandou o ministro da Educação: o rei tinha visto, os homens tinham visto. O ministro da educação viu. O rei foi mandando todos os outros ministros. Todos os ministros viram aquela roupa e acharam-na absolutamente maravilhosa. Então, se anunciou o dia em que o rei iria desfilar em praça pública com a tal roupa maravilhosa. E o rei peladão saiu às ruas. A banda de música tocando, todo mundo olhando e dizendo: “Oh, que roupa maravilhosa do rei!”. E o rei continua, até que, um menininho, trepado no alto de uma árvore, diz: “O rei está pelado!”

acoelhof


Abaixo extraído do blog Meia Palavra

Durante a entrevista que fizemos recentemente com o Professor Rubem Alves, para as 10 perguntas e Meia, surgiu um questionamento fora do roteiro de perguntas:

Meia Palavra – Se você teve a mesma educação que outras crianças da sua época, o que fez você pensar a educação de modo diferente?”

Rubem Alves – É que eu sempre fui um mau aluno. Inclusive, anos atrás, o Gilberto Dimenstein surgiu com uma idéia: “Por que não nos reunimos para conversar informalmente sobre nossa experiência escolar? Gravamos a conversa e ela poderá se transformar em um livro”.

Assim surgiu o livro Fomos Maus Alunos, que é construído literalmente da conversa informal entre dois educadores fantásticos. De um lado o filósofo, terapeuta e professor Rubem Alves. Do outro, o jornalista e comunicador Gilberto Dimenstein. Ambos definem um ao outro como educadores, e é exatamente sobre educação que eles discorrem o diálogo delicioso que compõe esse livro.


O início passa pela experiência mal sucedida na escola. Gilberto tinha déficit de atenção, péssima dicção, sintomas de hiperatividades e babava o que deu a ele o nome de Gil Babão. Rubem Alves não teve vida fácil também, ao se mudar para o Rio de Janeiro foi motivo de chacota por conta das roupas esquisitas e o jeito mineiro de falar marh, carhne. Segundo o professor Rubem: “Parece que essa experiência força a gente a desenvolver recursos pessoais para lidar com a vida”.

A partir da experiência como maus alunos os dois começam a discorrer sobre assuntos diversos sempre com um olhar diferente sobre a educação. A substituição do vestibular pelo sorteio; a escola como uma casa de gestão de curiosidade; a intersecção entre o jornal e a escola e o comunicador e o educador; o papel da escola em um mundo em que o nível de informação que surge é muito rápida; o questionamento das certezas e o prazer da incógnita.

Há uma tentativa de separar o dialogo por capítulos, tentando captar a idéia principal de cada trecho da conversa. Porém Gilberto termina o livro dizendo: “As conversas não tem fim. Assunto puxa assunto. Não há conclusões. Não há amarrações de conhecimento. As linhas ficam soltas…”. O melhor é ignorar os capítulos e deixar a conversa solta dos dois te levar pelas divagações dos dois amigos. Aos poucos vamos percebendo que estamos concordando, e dando nossas próprias opiniões como se de fato estivéssemos dialogando com os dois educadores.

Mesmo que o gosto por não rabiscar livros seja mais forte, é irresistível não anotar alguns trechos ou até mesmo grifar, marcar ou entupir o livro de post-its coloridos. São tantas as passagens intrigantes: “informação só tem relevância se tiver significado para o leitor”; “Os livros devem ser janelas e ao mesmo tempo espelho”; “um dos problemas do aprendizado é que o aluno não vê o professor aprendendo”; “a escola é o antiprazer da incógnita”; “não saber é o inicio da aprendizagem”.

Em uma obra deliciosa que desperta um novo olhar sobre a escola, o professor, o aluno, a vida com o interesse de reinventar a educação para que ela seja parte do cotidiano. Sem dúvida esse livro não termina ao virar da última página, mas ele desperta o início de inúmeras discussões e ações voltadas para educação.

Fomos Maus Alunos
Autor: Gilberto Dimenstein e Rubem Alves
Editora: Papirus
Páginas: 128
Preço sugerido: R$ 32,50

Mostra de cinema -CCBB traz a Brasília mostra de filmes de Pedro Almodóvar


A mostra "El Deseo – O Apaixonante Cinema de Pedro Almodóvar", traz a Brasília a cinematografia do diretor espanhol Pedro Almodóvar.

Serão 18 dias de intensa programação, na qual o espectador poderá prestigiar todos os filmes de Almodóvar, como Maus Hábitos, Que eu Fiz Para Merecer Isto?, Carne Trêmula, Tudo Sobre Minha Mãe, Fale com Ela, Má Educação, Volver e Abraços Partidos.

A mostra irá contar também com longas produzidos por Almodóvar e seu irmão, Agustín, na produtora El Deseo, dentre os quais A Espinha do Diabo, de Guillermo del Toro, Minha Vida Sem Mim, de Isabel Coixet, A Menina Santa, de Lucrécia Martel, e A Vida Secreta das Palavras, de Isabel Coixet.

Também serão exibidos filmes que figuram na lista dos preferidos de Pedro Almodóvar ou tidos como referenciais para seus trabalhos, entre os quais Noites de Cabíria, Horas de Desespero, A Malvada,Janela Indiscreta, No Silêncio da Noite, Sonata de Outono, Pacto de Sangue e Os Olhos Sem Rosto, além dos brasileiros Casa de Areia e Coração Vagabundo.

Para completar a programação, o documentário inglês Tudo Sobre o Desejo – O Apaixonante Cinema de Pedro Almodóvar. Ao todo 36 filmes estarão em cartaz.

Verifique a programação

Local: Centro Cultural do Banco do Brasil Brasília

Endereço: SCES, Trecho 02, lote 22

Quando: De 26/07/2011 a 14/08/2011

Horário: Terça a Domingo, Verifique a programação.

Preço: Entrada franca.

Informações:

(61) 3108-7600


Classificação Indicativa: Verifique a programação.




Fonte Candango