sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Talentos da Maturidade


Amigas e amigos, colegas e colegas, mininas e minus

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Estou concorrendo com um poema. Se gostarem, basta dar uma nota clicando na estrela que porventura achem que mereço.

Vão lá, deixem um comentário. Espero por vocês.

Grande abraço,

Fernando Gurgel Filho

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Jornal da poesia


*Erdanet Via Alfredo Mendonca Condé

No caminho com Maiakóvski, que não é de Maiakóvski, mas teria parentesco com Martin Niemöller, um pastor luterano, mas é de Eduardo Alves da Costa

A primeira vez que li o belo texto de Eduardo Alves da Costa foi numa gramática da língua portuguesa. Gostei. Muito! Copiei-o imediatamente no Jornal de Poesia. O que se conhece de Internet e livros didáticos é apenas um fragmento, mas tão forte, tão belo e independente que pode ser lido escoteiro como se fora um poema independente que, a rigor, é.

Eis o fragmento de Eduardo Alves da Costa:

No caminho com Maiakóvski

"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"

Prometo-lhes publicar o poema inteiro. Minha amiga Maria do Carmo Ferreira, acho que ela o tem. Agora lhes falo de um outro poema, a rigor um trecho de sermão, ou prédica, de um pastor luterano, alemão, da época do nazismo, Martin Niemöller, ao que parece de 1933 (o poema). Encontrei, via google, os seguintes textos:

1º) Zuerst kamen sie für die Kommunisten, und ich war nicht Kommunist, und da hab ich nichts gesagt und nichts getan, und dann kamen sie für die Gewerkschaftler, und ich war kein Gewerkschaftler,und sie kamen für die Sozialdemokraten, und sie kamen für die Katholiken, und sie kamen für die Juden, und ich war keiner von denen, und dann kamen sie für mich, und da war keiner mehr, der schreien konnte.

2º) Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar.

3º) Quand ils sont venus chercher les communistes, je n'ai pas bougé : je ne suis pas communiste. Alors, ils sont venus pour les syndicalistes et je n'étais pas syndicaliste; Et ils vinrent pour les Sociaux-Démocrates, et ils vinrent pour les catholiques, et ils vinrent pour les juifs, je n'étais aucun de ceux-là; Quand ils sont venus pour moi, il n'y avait plus personne pour faire le cercueil.

4º) First they came for the Communists, and I didn't speak up, because I wasn't a Communist. Then they came for the Jews, and I didn't speak up, because I wasn't a Jew. Then they came for the Catholics, and I didn't speak up, because I was a Protestant. Then they came for me, and by that time there was no one left to speak up for me.

Não entendo que o belíssimo poema de Eduardo Alves da Costa seja plágio de maneira alguma. Da mesma forma que A raposa e as uvas, de La Fontaine, não é plágio de Fedro, nem este plagia a Esopo. Todos visitam o tema, inclusive eu, em Psi, a Penúltima.
Como é que diz o velho Esclesiastes? Não há nada de novo sob o Sol, coisa assim. Parece que não há mesmo. O importante, certamente, é a recriação, a re-escritura, atualizando o tema ao hic et nunc - ao aqui e agora.

Consta que Brecht também teria visitado o texto de Niemöller. Maiakóvski, não. Morto Maiakóvski em 1930, é até admissível que seja o contrário, Niemöller é que teria visitado o poeta russo. Mas, a rigor, toda a confusão com o nome de Maiakóvski, no poema de Eduardo Alves da Costa, decorreu, ao que parece, do título do poema - No caminho com Maiakóvski -, que é também o título do livro em que foi publicado. Em suma, nem o russo visitou o alemão, nem o alemão teria visitado o russo. E Brecht? Estou procurando. Quem souber, por favor!

Há este fragmento que guarda um certo parentesco:

"Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam - Isso é natural
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável."

Bastante no rumo, não?
O poeta Eduardo Alves da Costa garante que Maiakóvski nada tem a ver com o tema, assim noticia a Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003, na íntegra:

Um Maiakóvski no caminho

Foi resolvida graças à novela das oito uma confusão de 30 anos. Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, 67, o poema "No Caminho, com Maiakóvski" era (quase) sempre creditado ao russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930).

Em "Mulheres Apaixonadas", Helena (Christiane Torloni) leu um trecho do poema, dando o crédito correto. Foi o suficiente para reavivar a polêmica -resolvida dois capítulos depois, em que a autoria de Costa foi reafirmada- e, de quebra, fazer surgir uma proposta de reeditar o poema, para aproveitar a exposição no horário nobre.
Livro combinado, a noite de autógrafos será na novela. "Pedi que apresse e me mande até o dia 10. Quero lançar aqui", diz Manoel Carlos, autor de "Mulheres". Eduardo Alves da Costa falou à coluna:

Folha - Você se arrepende de ter posto Maiakóvski no título?

Eduardo Alves da Costa - De maneira nenhuma! Tanto que vou usar o mesmo título para o livro que sai agora.

Folha - Durante mais de 30 anos acreditaram que o poema era dele. Isso não o incomoda?

Eduardo Alves da Costa - Era uma enxurrada muito grande. Saiu em jornais com crédito para Maiakóvski. Fizeram até camisetas na época das Diretas-Já. Virou símbolo da luta contra o regime militar.

Folha - Como surgiu o engano?

Eduardo Alves da Costa -O poema saiu em jornais universitários, nos anos 70. O psicanalista Roberto Freire incluiu em um livro dele e deu crédito ao russo e me colocou como tradutor. Mas já encomendei da França a obra completa do Maiakóvski. Quando alguém me questionar, entrego os cinco volumes e mando achar o poema lá.

"Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada"

Trecho do poema de Eduardo Alves da Costa atribuído ao russo Vladimir Maiakóvski.

Clique para mais Eduardo Alves da Costa

Em tempo:

O poema inteiro
[minha amiga Maria do Carmo Ferreira quem mandou. O livro do mesmo nome No caminho com Maiakóvski, está esgotado].

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Nota do editor: em negrito, o "fragmento" que corre o mundo, belíssimo, desse poema de Eduardo Alves da Costa.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Em busca da razão perdida


Por Mauro Santayana

O presente sempre angustiou os homens, desde que há registros históricos, e sempre houve os que temiam o futuro, tanto quanto os que nele punham a esperança da espécie. Da mesma forma, não faltaram, e ainda não faltam, os que sonham com o retorno à improvável Idade do Ouro, que permanece arraigada na alma dos homens, e encontra a sua versão mais radical dentro das fronteiras do paraíso bíblico.

Sofrer e sonhar, esperar e temer, lutar e resistir, são as condições que o ato de viver nos impõe. A vida não é projeto dos deuses, nem condenação cósmica. A vida é feita pelos homens, e só por eles, e a história, com seus acertos e desatinos, não é bruxa, nem fada: ela é decidida, em cada minuto, pela vontade dos homens e pelos fatos que essa vontade determina.

O que torna mais pesada a angústia de nosso tempo é a magnitude dos problemas sociais. O mundo inflou nestes últimos 200 anos, com o consumo exacerbado dos bens não renováveis, pelo menos de acordo com os nossos conhecimentos atuais, e suas consequências. Uma coisa é resultado da outra: as descobertas científicas tornaram mais fácil a exploração da natureza e o aumento da população, mediante o aprimoramento da medicina, melhor nutrição, mais conforto. Infelizmente, tais conquistas da inteligência não se fizeram universais.

O que torna mais pesada a angústia de nosso tempo é a magnitude dos problemas sociais

A fome e as endemias convivem com a ostentação e o luxo dos muito ricos. Embora em certas regiões do mundo a miséria seja estatisticamente maior, não há cidade imune da qual o sofrimento insuportável tenha sido expulso. Enquanto um só ser humano não tiver direito ao pão de seu dia, à dignidade de um teto para a noite, ao respeito de seu semelhante, o mundo continuará sendo inóspito.

Assim como, no século 18, alguns pensadores discutiam o envelhecimento das ideias do Renascimento (embora o termo só viesse a ser criado por Michelet bem depois, em meados do século 19), há algumas décadas que o Iluminismo vem sendo analisado por autores importantes. Alguns pensadores marxistas encontram, em seus postulados, os germes do totalitarismo, ao mesmo tempo em que os nazistas e os fascistas continuam a atribuir à Revolução Francesa (que foi a sua expressão política) a origem das ideias, que consideram desprezíveis, como as da igualdade, da liberdade e da imperfeita democracia moderna.

É provável que a exaustão da inteligência seja responsável pela assustadora crise dos estados contemporâneos

Seria bom que retornássemos ao Iluminismo, e examinássemos seus acertos e suas falhas.

Consequência natural do Renascimento, o Iluminismo foi um dos grandes momentos da inteligência dos homens. Ele se iniciara no século 17, e estava associado ao crescimento da burguesia como classe emergente e aspirante ao domínio político dos estados europeus. Antes que os franceses lhe dessem o grande impulso com a publicação da Enciclopédia, obra titânica do esforço pessoal de Diderot, o Iluminismo já crescia com os ingleses Milton, Locke, Hobbes, que associaram suas inquietações humanísticas aos projetos políticos, sem os quais a filosofia é inútil diversão da mente.

Se fosse possível resumir o sumo da razão do Iluminismo, talvez a encontrássemos ainda no século 17, com a frase linear de Spinoza, quando, em seu Tratactus theologico-politicus, diz que, ao examinar a vida, o comportamento e as crenças humanas, é necessário non ridere, non lugere, neque detestare, sed intelligere. Não devemos rir, nem lamentar ou detestar, mas entender. O Iluminismo, ao separar a inteligência da fé e distinguir a ciência — ou seja, o conhecimento — da religião, foi a busca do entendimento, o retorno à filosofia prática dos grandes gregos.

A inteligência, tanto no Renascimento quanto no Iluminismo, esteve a serviço da política, em seu melhor e em seu pior sentido. É provável que a exaustão da inteligência, que encontrou o momento alto na Idade Moderna com a Enciclopédia e os excelsos pensadores do século 18, seja responsável pela assustadora crise dos estados contemporâneos.

No Renascimento, os príncipes se cercavam de intelectuais, os uomini d’ingegnio, como foram Dante e Da Vinci, da mesma forma que buscavam seus chefes militares, os condottieri, entre eles, Castruccio Castracani, um dos modelos de Maquiavel, e os lendários Sforza. Durante o Iluminismo, os pensadores não estiveram perto do trono, porque eles estavam, como servidores da razão, contra o Estado absolutista, principalmente na França dos últimos Luizes.
Para entender a anemia política dos estados de nosso tempo, é necessário examinar o desengajamento da maioria dos intelectuais de hoje, sem esquecer que a própria inteligência se encontra em crise.

As grandes revoluções humanas não surgem espontaneamente. Elas, de certa forma, existem como possibilidade desde o início da História, mas são contidas pelas forças reacionárias. As ideias que as suscitam permanecem latentes, na obra de um ou outro pensador, seja nos ensaios, no teatro, nas narrativas épicas ou na poesia. Em alguns momentos, ganham força, mediante a discussão e o debate, e triunfam, mesmo que, algumas vezes, de forma efêmera.
As ideias, sem embargo de sua energia própria, dependem da ação. Os intelectuais, dizia, sem muita justiça, um dos precursores do Iluminismo, Erasmo de Rotterdam, são naturalmente medrosos. Isso só é válido para uma minoria, e de menor dimensão. A regra tem sido outra. Foram numerosos os homens de pensamento que tombaram em pleno combate, nas prisões ou nas terríveis condições da clandestinidade.

O século 20 foi exemplar na luta pela autodeterminação e contra o totalitarismo

Sem ir longe no passado, o século 20 foi exemplar nessa necessidade da inteligência em se fazer ação, como ocorreu na memorável resistência contra os nazistas, os fascistas e os franquistas — e na luta pela autodeterminação dos povos contra o totalitarismo imperialista. A política é a práxis da razão, e, sem ela, o pensamento permanece encapsulado na teoria, ou, seja, na contemplação.

O grande motor do século 19, o do fulgor do Iluminismo, foi L’Enciclopédie, dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Tratou-se de uma empresa, que nasceu com o interesse comercial de editores franceses — chefiados pelo maior deles, na época, Le Breton — empenhados na tradução da Cyclopaedia, dicionário universal inglês de Ephraim Chambers. Le Breton convidou D’Alembert e Diderot para a tarefa. Ambos entenderam que não bastava a tradução de um dicionário que, circulando desde 1728, já se encontrava perempto, e se limitava a uma erudição de natureza clássica, distanciada das inquietações práticas de 1747.

Se o dicionário de Chambers tratava das artes e das ciências, Diderot acrescentou, para a sua enciclopédia, os verbetes sobre os ofícios profissionais. Dedicou grande parte às ilustrações, que, sobretudo no caso dos ofícios, contribuíram para que a obra servisse como manual de instruções.

Perseguida pela Igreja, uma vez que era essencialmente materialista, e incluída no Índex; mal vista pela monarquia, por reivindicar as liberdades políticas, a Enciclopédia passou por inúmeras dificuldades e chegou a ser proibida. Diderot foi preso por algum tempo, D’Alembert desistiu de ser o coeditor, a partir do volume oitavo, e os últimos tomos foram impressos e distribuídos clandestinamente.

O custo era altíssimo. Quando relembramos que a composição, tipo por tipo, era manual, e as chapas, armadas uma a uma, em operação demorada, podemos imaginar o dinheiro necessário apenas para o trabalho tipográfico. Mais de 2 mil gráficos trabalharam durante os vinte e um anos de edição, transcorridos entre o primeiro e o último dos 28 volumes, 11 deles só de ilustrações.

A Enciclopédia serviu para derrubar os pilares do poder feudal de uma nobreza ociosa e parasitária

A Enciclopédia foi empreendimento revolucionário, e disso Diderot tinha plena consciência. A publicação serviu para derrubar os pilares do poder feudal de uma nobreza ociosa e parasitária, que consumia a maior parte dos recursos obtidos com o trabalho dos franceses; serviu como fermento da Revolução Francesa e a derrocada da monarquia; combateu a Igreja, que, sócia privilegiada da opressão e monitora do pensamento, ameaçava os intelectuais com os dogmas e mantinha os néscios submissos, mediante a ameaça do inferno. Como as luzes vinham de várias fontes, Diderot escolheu para o subtítulo da obra a trilogia do inglês Francis Bacon, que assim resumia as operações da mente: Memória, Razão e Imaginação.

Diderot foi mais do que seu diretor intelectual. Coube-lhe buscar os subscritores — o que representava para cada um deles a aplicação de uma pequena fortuna — entre os ricos mais esclarecidos, os pioneiros da indústria e do comércio e alguns banqueiros, como o mais eminente financista de Paris, Jacques Necker, que viria a ser a figura chave na Queda da Bastilha. Durante muito tempo, os enciclopedistas foram acolhidos no salão de Madame Necker, onde as novas ideias eram livremente debatidas.

O autor de A religiosa agiu, ao mesmo tempo, como pensador, militante político e ativo empreendedor. Usando recursos que hoje encontramos na internet, como a remissão dos assuntos a outros verbetes, a inclusão das fontes de informação e referências bibliográficas, o que hoje chamamos de hiperlink. O texto incitava à ampliação crítica da informação, com o fantástico resultado que a História registra. E a empreitada fascinou todos os que a ela se associaram. O caso mais notável desse empenho foi o de Louis de Jacourt, um intelectual muito rico e de grande saber, que se formara em teologia, em Genebra, ciências naturais em Cambridge e medicina, em Leiden, na Holanda. Jacourt, sozinho, redigiu um quarto de todos os verbetes da Enciclopédia, sem cobrar um centavo pelo seu trabalho. Ao contrário, contratou vários assessores, que o ajudaram na exaustiva pesquisa daqueles tempos, e lhes pagou com seu próprio dinheiro.

Mesmo quando sua distribuição teve que ser clandestina, a Enciclopédia era discutida em todos os salões. Suas ideias estimularam o aparecimento de novos pensadores, que se somaram à elite da razão daquele tempo, formada por homens muitos deles nobres, como foram Montesquieu, Grimm e Holbach. Eles se somaram a livres pensadores, como Voltaire, D’Alembert, Condorcet, Daubeton, Rousseau, Turgot e Quesnay, e a mulheres como Mme. D’Epinay, Sophie Volland, Mme Necker — e a notável proteção financeira a Diderot, de Catarina, a imperatriz da Rússia, para abrir o caminho do século seguinte.

O Iluminismo conduziu o mundo, durante o século 19 e a maior parte do século 20. A oposição que sofreu, no início dos oitocentos, com o Romantismo, foi débil, e só se manifestou de forma mais forte nas artes, sobretudo na literatura. Hegel e Marx, nas ideias sociais, ou seja, políticas, são dois dos maiores frutos do século 18. Um se seguiu ao outro, e de seu pensamento surgiram os grandes movimentos revolucionários do século passado. Apesar disso, os resultados mais espetaculares das luzes parecem ter ocorrido na ciência e na tecnologia.

O espírito do mundo moderno é o da ruptura de todos os limites, na investigação do Cosmos, na velocidade das comunicações e dos transportes, na duração da vida.

Galileu tem uma frase inquietante: “Muita prudência, muitas vezes, quer dizer muita loucura”. A razão, sendo o uso da mente para a construção da autonomia, já representa, em si mesma, uma violação da natureza instintiva da espécie: talvez nessa intuição, Chesterton tenha afirmado que “louco é aquele que perdeu tudo, menos a razão” – o que significa entender que a aparente loucura pode também significar muita prudência.

O Humanismo é sempre cristão, ainda que se identifique como agnóstico ou ateu

No que se refere à política — que é a mais necessária das atividades humanas — o século passado foi o da exacerbação de um confronto milenar, que está nas glândulas da espécie, e que constitui o eixo das civilizações: o do egoísmo contra o altruísmo, dos ricos contra os pobres, dos fortes contra os débeis. É assim que poderemos ver em São Francisco de Assis a constatação de Chesterton — de resto um de seus grandes devotos — de que o louco é aquele que perdeu tudo, menos a razão. Não havia outra forma para que a sociedade de Assis do século 13 pudesse ver a conduta do jovem Bernardone, ao renunciar à vida confortável que a riqueza lhe permitia, romper com o pai, e lhe devolver as roupas luxuosas que vestia e, com o manto pobre de monge que o bispo de Assis lhe deu para cobrir a nudez, partir para outros atos de aparente loucura, nos quais se escondia a mais pura razão. No século 20 tivemos testemunhos desta conduta, tida como insana, na solidariedade radical, em nome do Humanismo — que é sempre cristão, ainda que se identifique como agnóstico ou ateu — e tanto mais cristão quanto menos acredite na recompensa eterna.

Foi assim que tivemos, entre outros, o forte testemunho de Simone Weil, nascida judia, convertida ao marxismo e, em seguida ao cristianismo, e que ao Vaticano conviria mais fazê-la beata e mártir do que conferir santidade ao espanhol Balaguer. Simone abandonou, ainda menina, as comodidades da família, viveu entre os oprimidos, quis participar da luta na Espanha, um acidente a excluiu da atividade revolucionária, e sua renúncia a viver melhor do que viviam os mais pobres a levou à morte prematura, aos 34 anos, com tuberculose. São loucos, como Francisco e Simone, e muitíssimos outros, anônimos, que, no decorrer da História, perdem tudo, menos a razão.

O Iluminismo, que significara um outro salto da razão, não só trouxe os movimentos de solidariedade, como não conseguiu impedir a evolução industrial, graças à inteligência técnica e a ascensão da burguesia capitalista, e a exacerbação do imperialismo britânico e do colonialismo europeu, e a submissão da maioria da população do mundo aos opressores. Em nome de equivocada interpretação biológica, surgiu o mito da superioridade racial, e levou à estupidez do fascismo e do nacional-socialismo, com as duas grandes guerras mundiais, os milhões de mortos, e os conflitos continuados, sempre conduzidos pelos mais fortes contra os mais débeis.

Entre a invasão da Etiópia pela Itália, em 1935, e recente intervenção militar na Líbia pelos países europeus, não há diferença essencial: é a arrogância dos que se acham superiores e que, por tal razão, se sentem com o direito aos bens naturais do mundo, sobretudo as fontes de energia, como o petróleo.

O novo Liberalismo dos anos 80 conseguiu afastar a inteligência das preocupações políticas

A luta contra o totalitarismo dos anos 30 convocou os intelectuais do mundo inteiro, a partir da Guerra Civil da Espanha. O engajamento da inteligência ainda continuou, na resistência contra os nazistas e, ainda mais dura, contra os capitulacionistas e traidores, como ocorreu na França, nas lutas contra os golpes militares na América Latina, no combate aos crimes cometidos pelos Estados Unidos no Vietnã, no combate contra o novo racismo europeu. Embora muitos ainda permaneçam nas trincheiras da razão, o novo Liberalismo dos anos 80 conseguiu encabrestar a inteligência e afastá-la das preocupações políticas.

É assim que se explica que a França de Clemenceau e Leon Blum, de De Gaulle e Mitterrand, esteja hoje entregue ao pigmeu Sarkozy, e que os Estados Unidos de Roosevelt e Eisenhower, depois da tragédia dos Bush, assista à erosão veloz da grande esperança que foi Obama. Lembre-se a Espanha, condenada a se entregar novamente à direita, saudosista do franquismo, depois da claudicação de Zapatero. Não falemos na Itália, governada por um bufão, e, ainda assim, com a petulância de nos dar lições morais e recorrer ao Tribunal de Haia contra o exercício da soberania brasileira.

Enfim, o mundo, sendo sempre o mesmo, piora — e reclama nova articulação da inteligência para a restauração do compromisso da espécie humana com sua própria sobrevivência, que os materialistas atribuem à razão, e os cristãos radicais identificam na santa loucura do amor solidário, como o do Poverello de Assis.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Arrebanhando o rebanhão



Tenho um amigo que é do contra em todas essas campanhas que ele
chama de "jogar o rebanhão todo no mesmo saco".
    
Assim, no Dia Nacional de Combate ao Fumo, ele, um não fumante
convicto, pede cigarro para os amigos que fumam e sai jogando fumaça
pelos ares, todo satisfeito.
  
 No Dia Nacional da Cachaça só toma água mineral. Sem gás.
 
  No Dia Nacional da Saúde, come apenas alimentos não recomendados
pelos médicos. Os que dão mais prazer.
    
No Dia Mundial sem Carne nem precisa dizer o que acontece. A
churrasqueira pega fogo desde a hora em que ele acorda até à meia noite.
    
E, claro, no Dia Mundial sem Carros, ele, que gosta de andar a pé,
de ônibus e de metrô, tira o carro da garagem e sai por aí fazendo suas
barbeiradas.
    
Assim foi ontem, dia 22/09/2011. E as ruas estavam entupidas de
carros. E de barbeiros. Juro que, ao sair de casa, após esperar o
trânsito diminuir, por volta de nove horas da manhã, quase fui jogado
para fora da estrada umas duas vezes. Uma por carro, outra por um dos
raros ônibus que circulam pela cidade.
    
Como somos os campeões de acidentes e morte no trânsito, aposto que
o recorde no Dia Mundial sem Carros está garantido.
    
Por essas e outras eu também não gosto muito dessas campanhas, não.
Principalmente porque não vejo resultado nenhum. Pior, os organizadores
devem detestar os seres humanos objeto das campanhas, pois, nesses dias,
a qualidade de vida da população piora bastante.
    
Pode até dar certo, principalmente quando se trata de vacinação em
massa, arrecadação de dinheiro às toneladas e eventos sertanejos, de
axé, micarê e outros, grátis ou não.
    
Mas a maioria é um fracasso total. De adesão no dia e de reflexos
nos dias subsequentes. Se diferenciar de zero, juro que ninguém consegue
medir a diferença.
    
Imaginemos, apenas por alguns segundos, um ser humano sem ar para
respirar ou sem água para beber!
    
Pois é, podemos até imaginar, mas a realidade nos permite dizer com
toda a certeza que é uma situação impossível.
    
A mesma coisa se pode dizer, hoje, de um mundo sem queimar
petróleo. A economia de todos os países do hemisfério - repito: todos os
países - ruiriam com mais rapidez do que se o dólar virar purpurina.
    
Então, nas atuais condições de conhecimentos tecnológicos e de
modelo econômico em que o mundo está escorado, um Dia Mundial sem Carros
serve para quê mesmo? Para exercitar nossa santa hipocrisia?
    
Deve ter alguma uma forma de melhorar as coisas sem piorar a vida
das pessoas.

Fernando Gurgel Filho

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Poeira e Batom


Venha conhecer a história da construção de Brasília contada pelo olhar feminino.
Poeira e Batom, o livro e o filme, apresentam 50 mulheres que estiveram aqui desde 1957 e trabalharam ou vivenciaram a construção da capital: algumas das primeiras professoras, a primeira médica, enfermeiras, prostitutas, atrizes e funcionárias públicas que demonstram a grande contribuição da mulher para a nova capital.

Autoras: Tânia Fontenele e Mônica Ferreira Gaspar de Oliveira Livro com 100 folhas, ricamente ilustrado com fotos de época, e filme/DVD de 60 minutos: R$ 50,00

Contato: Mônica - Fones (61): 3206-9663 ou 9239-3043

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tudo sobre petróleo e o mundo à sua volta



“The Quest - Energy, Security
and the Remaking of
the Modern World


Daniel Yergin. Allen Lane. 816 págs., £ 30

"The Prize", de Daniel Yergin, publicado pela primeira vez em 1991, é uma obra- prima, um dos poucos livros que, pode-se afirmar, é leitura essencial para quem queira entender a política internacional.

É um épico, vencedor do Prêmio Pulitzer, sobre a indústria do petróleo, desde o primeiro poço aberto na Pensilvânia, em 1859, até a invasão do Kuwait por Saddam Hussein, em 1990 --, uma história inspiradora em sua abrangência e eletrizante em seu ritmo narrativo. Mais do que simplesmente uma crônica industrial, funciona como uma história oculta do século XX, revelando a frequência com que o petróleo - sua presença ou sua falta - constituiu-se em fator decisivo nos assuntos internacionais.

Mesmo assim, nas duas décadas desde a publicação de "The Prize", uma série de eventos transformou o mundo da energia: o colapso da União Soviética, a ascensão da China, os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e as invasões do Afeganistão e do Iraque, e a emergência das mudanças climáticas como questão política. Vale comemorar o fato de Yergin ter retornado com sua visão de perspectiva em um cenário bastante diferente. "The Quest" não atinge exatamente o mesmo nível de seu antecessor, mas, ainda assim, trata-se de outra obra que exige leitura.

O novo livro cobre um período de tempo mais curto, mas um campo mais amplo. Começa exatamente onde "The Prize" termina, com as forças iraquianas no Kuwait e a desintegração da União Soviética prestes a se tornar visível. As primeiras 341 páginas dão sequência à história do petróleo e do gás até o presente, com referências à reunião de junho de 2011 da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e os levantes da Primavera Árabe.

Daí em diante, a abordagem muda. Yergin volta a fita, recuando para o passado várias vezes para contar histórias sobre outros aspectos do setor de energia: a geração de eletricidade, a discussão sobre mudanças climáticas, a energia renovável e a história acidentada do carro elétrico. O efeito faz "The Quest" parecer quatro ou cinco livros em um, sem a propulsão da narrativa linear de "The Prize". Se o livro anterior era novelístico, "The Quest" é mais parecido com um guia ou livro de instrução para iniciantes.

É impossível pensar em uma introdução melhor a questões essenciais da energia no século XXI. Na prosa lúcida e fácil de Yergin, as 800 páginas fluem livremente. Há alguns esboços intensos de personagens, como Marion King Hubbert, o brilhante e entusiasmado criador da teoria do "peak oil" (pico do petróleo): a ideia de que o mundo está na taxa máxima de produção de petróleo de todos os tempos, ou perto dela.

Há também muitas observações admiravelmente reveladoras, além de relatos curtos, como o que envolve John Prescott, então vice-primeiro-ministro britânico e principal negociador europeu na conferência sobre o clima de Kyoto, em 1997, sendo reprimido por seu colega americano para que aceitasse o "cap-and-trade" como único instrumento global de controle dos gases que produzem o efeito estufa. "Cap-and-trade" é o sistema que limita as emissões desses gases e prevê a comercialização de licenças para essas emissões.

É fascinante descobrir que os primeiros Fords T podiam rodar com etanol e que Thomas Edison apresentou em 1910 uma bateria que prometia movimentar um carro por 95 quilômetros com uma única carga - desempenho que parece admirável, se comparado aos 55 quilômetros oferecidos pelo Chevy Volt (que também possui um gerador de apoio movido a gasolina) nos "show rooms" de hoje.

Acima de tudo, o valor de "The Quest" está na clareza e imparcialidade do pensamento de Yergin. Sobre a invasão do Iraque em 2003, liderada pelos Estados Unidos, ele faz em duas páginas a mais clara e mais convincente avaliação que já vi - certamente mais plausível que qualquer coisa oferecida pelos apologistas da guerra na época - sobre por que ela foi uma necessidade estratégica difícil, mas inevitável. E então, com igual precisão econômica, Yergin exibe a arrogância e a falta de planejamento que condenaram o Iraque à tragédia que se seguiu.

Sobre as mudanças climáticas, Yergin reconhece corretamente a complexidade da ciência, ao mesmo tempo em que deixa o leitor sem dúvidas quanto ao peso das opiniões científicas.

Yergin tem um ponto de vista: admira e apoia a indústria do petróleo e do gás. (Ele também é consultor atuante no setor, com a Cambridge Energy Research Associates, sua muito bem-sucedida consultoria, que hoje faz parte do grupo IHS.) Suas análises frequentemente ecoam o que se pode chamar de opinião esclarecida sobre a indústria do petróleo: ele não acredita na teoria do pico do petróleo e tem certeza de que os combustíveis fósseis terão um papel central em nosso sistema de energia por décadas.

Ele é um eutusiasta do potencial do gás de xisto, produzido a partir de rochas que antes não tinham potencial econômico, por meio da controvertida prática do "fracking" - injeção de água, areia e produtos químicos em rochas enterradas a profundidades de 1,5 quilômetro, para fraturá-las e liberar o gás --, embora reconheça que deverá haver "muita discussão" sobre a segurança e a regulamentação do setor. Recentemente, Yergin participou de um grupo consultivo do governo americano que recomendou a continuidade de aplicação do "fracking", embora com padrões de segurança mais rígidos a serem adotados pelo setor.

Embora suas posições sobre essas questões possam ser contestadas, e sem dúvida serão, é difícil refutar seus julgamentos. Yergin tem sido criticado por ser excessivamente duro com Hugo Chávez, o demagógico e cada vez mais autocrata presidente da Venezuela. No entanto, da perspectiva de um especialista em petróleo, ver os danos que as políticas de Chávez estão provocando à outrora dinâmica indústria petroleira do país deve ser particularmente difícil evitar ficar furioso e entristecido com o governo venezuelano.

Enquanto o livro era impresso, o mundo da energia inevitavelmente se mostrava instável. As consequências das revoltas árabes ainda estão se revelando, a reação contra as regulamentações ambientais e outras nos Estados Unidos está ganhando força, e o compromisso da China de produzir energia "limpa", como a eólica e a solar, e carros elétricos, pode continuar no campo das possibilidades. Yergin termina sua análise de vários tópicos com uma observação honesta, mas frustrante, de que "é muito cedo" para saber como isso vai se desenrolar. Datado já ao chegar às livrarias, "The Quest" é, ainda assim, o guia definitivo para se saber como chegaremos lá.

"The Prize" adquiriu uma condição mística entre aqueles que trabalham no setor de energia e os que o acompanham. Novos jornalistas que estão se iniciando no assunto recebem cópias do livro de colegas mais experientes, como soldados de infantaria sendo presenteados com cópias da Bíblia antes de seguirem para a frente de batalha.

É difícil antever "The Quest" sendo prestigiado da mesma forma. De todo modo, certamente este novo livro de Yergin se mostrará tão valioso quanto o primeiro

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lançamento Poesia?


Estou (enfim) lançando o livro

POESIA? E OUTRAS PERGUNTAS – Textos Críticos

de Francisco K(7 Letras, 2011)

21/setembro/2011 (quarta), a partir das 19 hs.

No Café Corbucci – CLN 203, Bloco D (esquina de fundos)
(já ouviram falar?)

Para mais informações, interessantes e esclarecedoras, clique nas imagens.

Abraços, Kaq

sábado, 17 de setembro de 2011

Convite AAMV - Coquetel Homenagem Cecilia Meireles - 5ª Primavera dos Museus

A ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO MUSEU DE VALORES (AAMV) CONVIDA PARA O EVENTO 5ª PRIMAVERA DOS MUSEUS,

PROMOVIDO PELO MUSEU DE VALORES,  EM HOMENAGEM A  

CECÍLIA MEIRELES - A MULHER RETRATADA NO DINHEIRO BRASILEIRO

PROGRAMAÇÃO:

. SHOW MUSICAL
. RECITAL DE POESIAS
. COQUETEL

DATA: 20 DE SETEMBRO (TERÇA-FEIRA)
HORÁRIO: 18 h
LOCAL: MUSEU DE VALORES - 1º SUBSOLO

O show musical do evento será apresentado pelo

TRIO DA CAPO

Alice Marques - Oboé
Dora Galesso - Piano
Katia Almeida - Violoncelo

Este trio é formado por integrantes da Orquestraz de Senhoritas, professoras e arranjadoras com larga experiência em música popular instrumental.
Reservaram um repertório que percorre a música popular brasileira, incluindo algumas canções que foram inspiradas nas letras de Cecília Meireles.

Prestigiem!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DEUS É BRASILEIRO



Desenvolvimento e implementação de um Programa Corporativo de Gestão de Continuidade dos Negócios passo a passo.

Se você tivesse que abandonar o prédio de sua empresa agora e não pudesse retornar nunca mais, você saberia o que fazer para manter os principais negócios em funcionamento? O que aconteceria com sua equipe? E com o restante de sua organização?

Desenvolver um Programa de Continuidade Corporativo vai muito além da teoria e das normas, requer o conhecimento das ferramentas e da forma mais eficaz de utilizá-las. Cada empresa é única e, por isso, cada plano será único.

Baseando-se na própria experiência, o autor fornece orientações e dicas sobre cada etapa do processo de desenvolvimento e implementação da GCN, utilizando uma abordagem simples e prática, que não informa somente “o que”, mas também “como fazer”.

Sobre o autor
Alexandre Guindani possui formação nas áreas de Engenharia, Segurança da Informação e Gerenciamento de Crises e Desastres. É certificado pelos institutos internacionais DRII (Disaster Recovery Institute International) e BCI (Business Continuity Institute). Atualmente, é responsável pelo Programa de Continuidade dos Negócios de um dos maiores bancos brasileiros. Além disso, é palestrante, articulista, instrutor em cursos de Gestão de Continuidade dos Negócios e Segurança da Informação. É também responsável pelo site www.gcnbrasil.com.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A mídia abaixo da média


Por Luís Nassif - 14/9/2011

Poucas vezes se viu um episódio coletivo de mídia tão nonsense quanto o da divulgação dos resultados do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).


Os resultados foram dentro do esperado: melhoria de 10 pontos na média geral. Em 2009 o ENEM estava em 500 pontos. A meta era chegar ao longo da década em 600 pontos – o que significaria melhorar 10 pontos por ano. Apesar do aumento de inscritos – de 828 mil para 1,011 milhão – chegou-se aos 10 pontos.

De repente, o noticiário online foi invadido por estranhas manchetes: a de que a maioria dos alunos do ENEM tinha ficado “abaixo da média”. O jornal O Globo foi fulminante: “Mais da metade dos estudantes ficou abaixo da média do Enem 2010”. Na UOL, não se deixou por menos: “Enem 'reprova' 63,64% das escolas”. Esse número equivale àquelas que ficaram abaixo da média.

Criou-se um samba do crioulo doido. Na maioria absoluta das estatísticas, a tendência é se ter uma maioria abaixo da média. Se todos melhoram, a média melhora, mas sempre continuará tendo uma parte abaixo da média e outra acima.

Suponha uma classe de 7 pessoas, com 3 notas 5, 2 notas 4 e uma nota 3. A média será 4,28. Logo, 43% (três alunos) estarão acima da média e 57% (4 alunos) abaixo da média. Suponha agora que a classe melhore e fique com 2 notas 10 e 5 notas 7. A média será 7,86. Mas 71% dos alunos estarão abaixo da meta contra 29% acima.

Na entrevista coletiva sobre o ENEM, praticamente todos os jornalistas insistiam na informação de que a maioria das notas tinha sido abaixo da média. O samba endoidou tanto que a presidente Dilma Rousseff chamou o Ministro Fernando Haddad ao Palácio, para saber que loucura era aquela.

O diálogo foi mais ou menos assim:

Dilma: Haddad, como é isso? Eles estão dando que há muitas escolas abaixo da média. Como surgiu essa confusão? Não sabem o que é a média em uma estatística?

Haddad – Presidente, o que posso fazer? Passei a tarde explicando para eles o conceito de média na estatística. Tentei explicar o que era uma distribuição estatística, que em geral forma uma curva, que a média (média aritmética de um conjunto de números) e a mediana (maior frequência de números na amostragem) são muito próximas, mas pareciam não entender. Cheguei a sugerir que ligassem para um matemático, um estatístico para se informarem, porque daqui a vinte, trinta, cinquenta anos, vão fazer a mesma conta (do percentual de notas abaixo da média) e vai dar a mesma coisa.

Foi em vão. Dilma encerrou a conversa dizendo que iriam especular que a convocação de Haddad ao Palácio teria sido para se explicar.

Chamou o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza, presente à reunião, e pediu que desse uma entrevista informando que a presidente tinha ficado satisfeita com o resultado e manifestava sua preocupação com a confusão que a imprensa fizera com o conceito de média.

Pediu ainda que Vacarezza fizesse uma última tentativa de explicar o que era média aritmética.

Vacarezza explicou. Mas a confusão aumentou mais ainda.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A pátria vale o sacrifício


Em toda campanha eleitoral os ouvidos dos eleitores são a principal vítima. Quanto aos candidatos, os intestinos que respondam. Poucos têm coragem de recusar iguarias com sustança, seria afronta aos eleitores.

Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, provou uma legítima buchada de bode no interior de Pernambuco em 1994. Na ocasião, o ex-presidente aprovou e garantiu que a buchada era um prato sofisticado muito apreciado em Paris. O bode à parisiense, a buchadá de bodê, era degustado em restaurantes chic chic, segundo FHC.

Convenhamos, um bucho costurado como se fosse uma trouxa, contendo miúdos, tripas, sangue coalhado, pimenta do reino, cebola roxa, vinagre e outros acessórios exige alguma cautela. Não foram poucos os candidatos do PSDB que ficaram num mato sem tucano. Se bem que muitos devem a eleição a uma buchada. Quem garante que a vitória de FHC em 1994 não se deveu ao bode? À época, o ex-presidente não hesitou, segurou o caprino pelos chifres e demonstrou intimidade diante do eleitorado.

Mas há riscos na degustação. Ainda que os candidatos queiram ficar a qualquer custo por cima da carne seca, todos eles sabem que o cheiro do povo e o da buchada são fortes. É tapar o nariz e seguir adiante, pois se a buchada não for vencida a derrota é certa.

Na eleição do sucessor do general Figueiredo, o candidato Paulo Maluf se recusou a encarar o prato num bairro nordestino da capital paulista. Enquanto isso, no norte de Minas Gerais, Tancredo Neves franzia a testa e se lambuzava. O mineiro ganhou, mas a saúde dele já inspirava cuidados. Aquela eleição foi indireta e a buchada foi direto ao ponto. Azar do país e sorte de Sarney, que se tornou presidente graças a uma buchada de bode.


acoelhof Fortaleza (acoelhof@gmail.com)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

PRIVATAS DO CARIBE



O LEGADO DE FHC, JOSÉ SERRA E SÓCIOS TUCANOS

A fantástica viagem das fortunas tucanas desde os porões da privataria até o paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, é contada pelo jornalista investigativo Amaury Ribeiro Jr., em livro que será lançado entre o final de outubro e o início de novembro. O prefácio, por si só, é devastador…

O Chefe de Redação

PRIVATAS DO CARIBE

Prepare-se: o que está logo adiante não é uma narrativa qualquer.

Você está embarcando em uma grande reportagem que vai devassar os subterrâneos da privatização realizada no Brasil sob FHC.

Os porões da privataria.

É, talvez, a mais profunda e abrangente abordagem jamais feita deste tema.

Mas que não se limita a resgatar a selvageria neoliberal dos anos 1990, que dizimou o patrimônio público nacional, deixando o país mais pobre e os ricos mais ricos.

Se fosse apenas isso, o livro já se justificaria.

Mas vai além ao perseguir a conexão entre a onda privatizante e a abertura de contas sigilosas e de empresas de fachada nos paraísos fiscais da América Central.

Onde se lava mais branco não somente o dinheiro sujo da corrupção, mas também o do narcotráfico, do contrabando de armas e do terrorismo.

Um ervanário que, após a assepsia, retorna limpo ao Brasil.

Resultado de uma busca incansável de mais de dez anos do autor, Amaury Ribeiro Jr. — um dos mais importantes e premiados repórteres investigativos do país, com passagens por IstoÉ, O Globo, Correio Braziliense entre outras redações — o livro registra as relações históricas de altos próceres do tucanato com a realização de depósitos e a abertura de empresas de fachada no exterior.

Devota-se particularmente a perscrutar as atividades do clã do ex-governador paulista José Serra nesse vaivem entre o Brasil e os paraísos caribenhos.

Sempre calcado em documentos oficiais, obtidos em juntas comerciais, cartórios, no ministério público e na Justiça.

Assim, comprova as movimentações da filha do ex-candidato do PSDB à Presidência, Verônica, e as de seu marido, o empresário Alexandre Bourgeois.

Que seguiram, no Caribe, as lições do ex-tesoureiro de Serra e eminência parda das privatizações, Ricardo Sérgio de Oliveira.

Descreve ainda suas ligações perigosas com o banqueiro Daniel Dantas.

Detém-se na impressionante trajetória do primo político de Serra, o empresário Gregório Marin Preciado que, mesmo na bancarrota, conseguiu participar do leilão das estatais.

E arrematar empresas públicas!

Estas páginas também revelarão que o então governador Serra contratou, com o aporte dos cofres paulistas, um renomado araponga antes sediado no setor mais implacável do Serviço Nacional de Informações, o extinto SNI.

E que Verônica Serra foi indiciada sob a acusação de praticar o crime que, na disputa eleitoral de 2010, acusou os adversários políticos de seu pai de terem praticado.

Desvinculado de qualquer filiação partidária, militante do jornalismo, Ribeiro Jr. do mesmo modo como rastreou o dinheiro dos privatas do Caribe, esteve na linha de frente das averiguações sobre o “Mensalão”.

Seu olhar também visitou os bastidores da campanha do PT para averiguar os vazamentos de informações que perturbaram a candidatura presidencial em 2010.

E sustenta que, na luta por ocupar espaço a qualquer preço, companheiros abriram fogo amigo contra companheiros, traficando intrigas para adversários políticos incrustados na mídia mais hostil à Dilma Rousseff.

É isso e muito mais. À leitura.

O Editor

No Vi o Mundo


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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um soldado que não dorme bem à noite


No último sábado, vi o Dossiê Globonews – Segredos de Estado, entrevista do repórter pernambucano Geneton Moraes Neto com o soldado americano Ethan McCord.O que vem a seguir é sobre esse programa. Foi retirado do site G1. É parte de um texto longo, mas a leitura vale a pena. E vale mais ainda ver o vídeo completo da entrevista com o soldado (link no fim). Essa entrevista é chocante.

O programa começa com um vídeo do exército americano, vazado por outro soldado: um pai, que levava dois filhos à escola numa van, vê feridos na rua e tenta socorrê-los. No fim do texto que segue, extraído do site, há dez declarações do soldado Ethan McCord. Eis a sétima: “Eu diria a George Bush que ele nos usou por motivos ilegais e imorais. Espero que ele não durma bem à noite. Tomara que as imagens dos soldados e de suas famílias e dos mortos no Iraque e no Afeganistão o assombrem toda noite. E continuam assombrando-o pelo resto da vida”.

acoelhof Fortaleza
(acoelhof@gmail.com)


A partir de hoje, sábado, 3/9, a Globonews levará ao ar, diariamente, sempre às 20:05 (com reprise à meia-noite e meia), o Dossiê Globonews: Segredos de Estado – uma série de oito entrevistas inéditas com personagens pouco conhecidos do público. Durante três semanas, o locutor-que-vos-fala percorreu os EUA, em companhia do cinegrafista Eduardo Torres, no encalço de espiões, ex-agentes da CIA, pilotos militares, diplomatas. Haverá reprises extras, às 8:30 e às 16:30.

O primeiro personagem a entrar em cena na série Dossiê Globonews: Segredos de Estado é um soldado americano que viveu um drama inesperado na Guerra do Iraque: ao se aproximar de um carro atingido por um bombardeio, ele descobriu que havia duas crianças dentro do carro. O que fazer? Se fosse cumprir rigorosamente os códigos militares, o soldado não teria socorrido as crianças. Afinal, não é papel de um soldado socorrer feridos do “lado inimigo” – ainda que sejam crianças, atingidas “por acaso”.
Mas o sentimento de solidariedade fez com que o soldado tentasse salvar as duas crianças que, por um grande azar, tinham ido parar no meio de um bombardeio. As duas estavam a bordo de uma van dirigida pelo pai. Depois de socorrer as crianças, o soldado passou a ter pesadelos.
Pior: chegou a ser admoestado por seus superiores. Virou motivo de piada entre os colegas. Logo depois, teve de voltar aos EUA, por ter sido ferido numa explosão. De volta para casa, tentou se matar porque não conseguia conviver com o chamado “stress pós-traumático”. A lembrança das crianças feridas o atormentava. Terminou se engajando numa campanha contra a Guerra do Iraque. Nome do soldado que virou pacifista: Ethan McCord.
A história terminaria aí: um veterano de guerra convivendo, em casa, com seus fantasmas. Mas o caso teve uma reviravolta espetacular. Toda a operação militar – que resultou no bombardeio da van que conduzia as crianças – tinha sido gravada pelo Exército americano. Ao ver as imagens, um outro soldado resolveu passar o vídeo, secretamente, para o Wikileaks (a organização que se especializou em divulgar documentos secretos de governos). Tornadas públicas, as imagens provocaram choque, indignação, pavor. São – de fato – impressionantes. Ninguém fica indiferente a elas. Um novo drama começou: o autor do vazamento foi imediatamente identificado pelo Exército. Era um soldado de vinte anos chamado Bradley Manning. Preso, ele foi imediatamente retirado do Iraque, levado ao Kwait e, afinal, “recambiado” para os Estados Unidos, onde chegou a ser submetido a um regime de isolamento numa prisão militar. Agora, aguarda julgamento. É provável que o autor do vazamento vá passar os próximos anos atrás das grades, por ter desobedecido a uma série de códigos militares. Afinal, divulgou imagens e documentos confidenciais das Forças Armadas. Em um e-mail, o soldado dizia que iria vazar o vídeo do bombardeio porque queria provocar um debate planetário sobre abusos cometidos na Guerra do Iraque. Ou seja: a intenção era a melhor possível. O problema é que, no mundo real, boas intenções podem ser passíveis de punição severa.(...)Aqui, trechos da entrevista que a Globonews levará ao ar. O soldado Ethan McCord – que, depois de socorrer crianças, virou pacifista – nos recebeu em casa. O programa exibirá as imagens que Bradley Manning vazou para o Wikileaks. Os dois – McCord e Manning – vivem dramas diferentes. Manning continua numa prisão militar, à espera da hora de ir para o tribunal. McCord convive, em casa, com os fantasmas que o atormentam desde o dia em que descobriu que, dentro da van destroçada por um bombardeio, havia duas crianças:

1) “Os EUA, principalmente nas Forças Armadas, retrataram o país todo como vilão. Fizeram com que a gente visse todos os iraquianos como inimigos. Eu achava que o Iraque era um país cheio de terroristas”;

2) “Arrombávamos portas com máscaras de caveira. Tirávamos moradores de suas casas no meio da noite. Batíamos nas pessoas. Atirávamos em gente inocente. A maioria das pessoas mortas no Iraque eram homens, mulheres e crianças inocentes. Nós é que éramos os terroristas”;

3) “Eu estava animado para ir para o Iraque, porque achava que seria uma espécie de herói. O que eu esperava era levar liberdade e democracia para gente que tinha sido oprimida durante tanto tempo. Eu achava que estava indo para uma guerra justa”;

4) “O surpreendente é que fui para o Iraque para levar a liberdade aos iraquianos. Mas os iraquianos é que me libertaram. Os iraquianos me libertaram de ser um escravo cego do meu governo. Abriram os meus olhos para o mundo à minha volta”;

5) “Soldados riram de mim. Disseram que eu tinha coração mole. Ou que eu parecia uma mulher por me preocupar com crianças. Outros soldados me disseram que, se estivessem lá, teriam atirado na cabeça das crianças, porque elas seriam futuros terroristas. O Exército treina os soldados para acreditarem que as crianças do Iraque ou do Afeganistão vão ser terroristas”;

6) “Depois de voltar do Iraque, tentei me matar, pelo sentimento de culpa de ter participado daquilo. Emocionalmente, é extenuante até hoje. Tenho flashbacks. Sempre que fecho os olhos, vejo corpos. É muito traumatizante”;

7) “Eu diria a George Bush que ele nos usou por motivos ilegais e imorais. Espero que ele não durma bem à noite. Tomara que as imagens dos soldados e de suas famílias e dos mortos no Iraque e no Afeganistão o assombrem toda noite. E continuam assombrando-o pelo resto da vida”;

8) “Não sou dissidente. Sou muito patriota. Amo o meu país. Amo o povo do meu país, mas amo também toda a Humanidade, todas as pessoas do mundo”;

9) “Se me arrependo de ter matado gente no Iraque? Com certeza. As pessoas que matei no Iraque, tivessem elas armas ou não, vão me assombrar pelo resto da minha vida. Vou para a sepultura assombrado pela imagem dos rostos das pessoas que matei”;

10) “A grande mídia dos EUA não dá espaço para veteranos que se opõem à guerra, pois somos vistos como loucos. Mas os que apoiam esta guerra é que são loucos”.

O vídeo completo.