segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O tá bom venha, tá bom vá

Por Acoelhof

Conheci Gerôncio há muitos anos. Ele mudou-se, foi morar fora e perdi o contato. Ainda me lembro de uma frase que Gerôncio costumava dizer: “O homem deve se casar, mas a mulher não”. De início, pensei que ele estivesse incentivando o casamento gay. Depois, percebi que Gerôncio queria dizer que o casamento só era bom mesmo para o homem. Na visão dele, até casamentos ruins eram bons. Embora dissesse que o casamento era bom só para o homem, Gerôncio nunca se casou. Chegava a mudar de calçada quando avistava um cartório ou uma igreja. E, muito pior, chegava ao ponto de desejar a mulher do próximo.

Gerôncio vivia no “tá bom venha, tá bom vá”. Se uma mulher quisesse viver com ele, a resposta já estava pronta: “Tá bom venha”. Direto, nem a vírgula ele dizia. Quando a chama se apagava, a mulher se encarregava de dizer adeus. E ele repetia: “Tá bom vá”. Assim Gerôncio vivia, no “tá bom venha, tá bom vá”, durassem os relacionamentos anos ou meses.

Recentemente, encontrei Jocácio, amigo em comum, e perguntei por Gerôncio:– Da última vez que soube, ele já estava no sétimo “tá bom venha, tá bom vá”, como costuma dizer. Mas parece que agora ele acertou, já tem dois filhos. Está morando no Rio. Tenho o telefone dele. Se quiser ligar...

Liguei. Além de não ver Gerôncio há muito tempo, estava curioso para saber se ele ainda estava no sétimo.

– Como é que vai, Gerôncio?! Faz tempo que a gente não se fala! Encontrei Jocácio, foi ele quem me deu teu telefone.

– Rapaz, estou com saudade de Fortaleza! O Jocácio está casado com a mesma mulher há quase 30 anos e eu já estou no oitavo “tá bom venha, tá bom vá”.

– Não é o sétimo, Gerôncio?

– Era até a semana passada. Quer dizer, ainda são sete. A do terceiro “tá bom venha, tá bom vá” está morando também aqui no Rio. Por acaso, me encontrei com ela à noite no Leblon. Fiquei pensando nos bons tempos... Perguntei se ela queria recomeçar. Ela respondeu: “Tá bom venha.”

– Gerôncio, para com isso! Jocácio me disse que você até filhos já tem.

– Pois é, depois que os meninos nasceram a coisa melhorou por um lado, mas piorou por outro.

A maionese desandou, a tampa da panela saltou e a chama se apagou. Por causa dos meninos, ela não iria sair de casa...

– Gerôncio, pensa nos meninos!

– Peguei a escova de dente, algumas roupas, arrumei a mala. Mas pensei nos meninos. Dei meia-volta, larguei a mala num canto e quis ficar.

Ela apenas disse: “Não, tá bom, vá!”

acoelhof – Fortaleza (acoelhof@gmail.com)

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