sexta-feira, 30 de março de 2012

Entrevista com Fritjof Capra



Austríaco de Viena e crítico da cultura americana, embora more há mais de trinta anos nos Estados Unidos, o físico Fritjof Capra, autor do best-seller "O ponto de mutação" e de "O Tao da Física" acaba de chegar ao Brasil, a convite do Santander, para discutir pilares da sustentabilidade a menos de três meses da realização da Rio+20, Conferência do Clima das Nações Unidas. Em entrevista exclusiva ao Razão Social, hoje no início da tarde, um dos grandes pensadores sobre o desenvolvimento sustentável foi veemente quando disse não acreditar em possibilidade de acordo entre os líderes na conferência. E afirmou também que a sociedade civil e as empresas poderão protagonizar um dos mais importantes fóruns sobre o tema. Capra não virá ao evento. Para ele, o momento é de palestrar e escrever para passar aos jovens o protagonismo nas discussões.

O GLOBO: Poucos líderes confirmaram presença na Rio+20 e a crise econômica está ocupando o protagonismo das discussões mundiais. Frente a isso, o que podemos esperar da conferência?

FRITJOF CAPRA: Infelizmente, não acho que podemos esperar muito da reunião oficial, seria uma ingenuidade ter grandes expectativas, porque nem todos os governantes terão margem para negociar. O grande desafio do planeta são as mudanças climáticas. E as empresas produtoras de combustíveis fósseis têm grande espaço no congresso americano. Elas financiam campanhas de senadores para que eles sequer discutam a legislação climática. Isso faz dos Estados Unidos uma pedra no sapato de um possível acordo climático internacional. O Senado americano está cometendo um crime contra a humanidade, porque milhões de pessoas vão morrer, se não avançarmos na legislação climática.

O GLOBO: O senhor concorda então com a tese de fracasso das negociações climáticas, que vem sendo anunciada?

CAPRA: Não. Há também boas notícias. Hoje, os governos não são os únicos a terem assentos no poder. Há também as empresas, Organizações Não Governamentais e outros representantes da sociedade civil. O Brasil é o único grande país no mundo em que as três esferas colaboram. A Rio+20 será um fórum para sociedade civil, empresas e governos se encontrarem, sentarem à mesa. Pode não haver acordo climático de peso, mas também não podemos ser levados ao discurso do fracasso, porque é isso que querem os que se opõem ao desenvolvimento sustentável. Será um fórum importantíssimo. Há muitas empresas apostando em grandes mudanças. Elas estão vendo que reduzir a dependência de combustíveis fósseis não é bom só para a Terra, mas também para os negócios. Tecnologias renováveis já dão lucro. Mas estamos num momento-chave. Ainda precisamos de muitos esforços para que empresários se mexam. Já os governos podem se tornar irrelevantes nessa discussão.

O GLOBO: Mas como pensar em políticas de sustentabilidade sem os governos?

CAPRA: É possível levá-los a se mexer em última instância. Não estou dizendo que eles não deviam estar liderando o processo. Mas isso não está acontecendo. No Brasil, há muitas ONGs com que colaboro e vi que muitas delas estão no ativismo sério. Vim ao Brasil pela segunda vez em 2003, estive no Fórum Social Mundial e vi no governo pessoas que havia conhecido dez anos antes como ativistas ambientais. Foi o caso de Marina Silva. Embora o Brasil tivesse o foco no desenvolvimento econômico, havia nomes do meio ambiente no governo. Vejo que, hoje, há mais espaço no Brasil para a sociedade civil bater na porta do governo.

O GLOBO: Essa questão da transparência e da relação forte com a sociedade civil nem sempre é vista dessa forma por pensadores brasileiros...

CAPRA: Mas, comparando com outros países, há um movimento muito interessante no Brasil. A relação com empresas é tradicional em quase todos os governos, e nem sempre para boas causas. Mas o assento da sociedade civil é mais raro, e isso está acontecendo aqui. Tente bater na porta de Washington como representante de uma ONG para discutir de igual para igual, aí você entenderá que o Brasil vive um momento de abertura. Nos Estados Unidos, há um bloqueio total.

O GLOBO: Mas, mesmo com o movimento de ONGs, no Brasil e no mundo, vinte anos depois da ECO-92, o desenvolvimento sustentável ainda não está entre as prioridades. O que falta para a sociedade ter conhecimento da seriedade do tema?

CAPRA: Educação. As pessoas não sabem direito o que é sustentabilidade, ficam à mercê de informações contraditórias. As indústrias dominantes, falando principalmente da perspectiva dos Estados Unidos, onde moro, têm uma influência imensa nisso. As multinacionais têm valores muito opostos à sustentabilidade, e divulgam informações deturpadas, ou escondem alguns dados sobre o impacto que causam. Ou seja, não é só um problema educacional, é um problema de valores. Temos que trabalhar nas duas frentes, em mais transparência, e na preparação da sociedade para o questionamento, enfrentamento. Os americanos, por exemplo, estão passando por uma recessão, e elevado desemprego. Não é só o sistema financeiro. Nos últimos 20 anos, tem havido uma transferência de renda dos pobres para os ricos. Lá, os 20% mais ricos respondem por 85% da riqueza. E a vasta maioria, 80% da população, têm apenas 15%. Ou seja, o Brasil tem que valorizar o sucesso de algumas políticas.

O GLOBO: O senhor se refere às políticas de transferência de renda, como o Bolsa-Família?

CAPRA: Exatamente. As mudanças aqui começaram com o Plano Real, um plano complexo implantado por Fernando Henrique Cardoso que funcionou bem. E Lula foi inteligente o suficiente não só para manter o plano como para começar outros investimentos no campo social, como o Fome Zero e o Bolsa-Família. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, mas se você olhar os dados históricos, pode perceber que o nível de desigualdade está caindo. O Brasil pode ser um grande exemplo para o desenvolvimento sustentável. Talvez o maior.

O GLOBO: O Brasil sempre é citado como possível exemplo, mas para o futuro. O que o país precisa fazer para, de fato, buscar o desenvolvimento sustentável?

CAPRA: O Brasil pode ser um grande exemplo, tem potencial. Há biodiversidade preservada em larga escala ainda, é uma cultura criativa e há boa relação entre empresas, sociedade civil e governo, mais do que na maioria dos países que conheço. Mas a agricultura, por exemplo, precisa fazer grandes mudanças. O Brasil está baseado na exportação de grãos, em monoculturas. Já se concluiu que esse modelo é insustentável. Uma agricultura orgânica, cultivada por pequenas comunidades e em pequena escala, não é melhor só para fazer bem ao meio ambiente. Ela demanda menos energia, é mais viável. Com o desafio das mudanças climáticas, é preciso ter um cultivo diverso. As monoculturas não vão sobreviver. Cerca de 20% do petróleo consumido nos Estados Unidos são usados pela cadeia produtiva da agricultura no modelo do agronegócio.

O GLOBO: Uma de suas principais teses é a de que todos os problemas no mundo hoje estão interconectados. Há como se resolver a crise financeira, sem resolver outras questões no mundo de hoje?

CAPRA: Não. Não vamos resolver a crise financeira isoladamente. Não podemos resolver o problema da energia isoladamente, o da pobreza, ou da segurança alimentar. Estão todos conectados. E as soluções também precisam ser. A agroecologia, por exemplo, traz várias vantagens em geral. Usa menos energia, ajuda na redução de produção de combustíveis fósseis. Ajuda também no sistema público de saúde, já que, nos Estados Unidos, diabetes, doenças do coração e 40% dos cânceres estão relacionados com a dieta alimentar. Por fim, um solo orgânico é rico em carbono e evita a emissão de gases de efeito estufa. É uma solução sistêmica.

O GLOBO: Então há como buscarmos o desenvolvimento sustentável, a partir de iniciativas, sem haver uma grande transição no capitalismo vigente?

CAPRA: Sim, porque o capitalismo existe em diferentes contextos sociais. Alguns exemplos: na Alemanha, nos anos 1950, o capitalismo foi tratado como um milagre econômico. O modelo era de colaboração de sindicatos com empresas, foi chamado de Economia de Mercado Social. No Japão, há também um modelo de cooperação entre as empresas, keiretsu, em vez de competição. Acho que o maior problema hoje é o mercado global que envolve especuladores jogando o tempo todo. Há um grande grupo de especuladores jogando, como num grande cassino. O que está faltando é ética. Mas podemos ter cooperação global, só é preciso pensar em direcionar o capitalismo para atingir outros objetivos. O capitalismo pode ser reestruturado, mas precisará ser diverso, com nuances locais.



quinta-feira, 15 de março de 2012

Obra de Drummond ganha vida nova - Caderno G - Gazeta do Povo

Parte da obra de Carlos Drum­­­­mond de Andrade (1902-1987) foi relançada ontem pela Companhia das Letras. A Rosa do Povo, Claro Enigma, Contos de Aprendiz e Fala, Amendoeira são os primeiros dos cerca de 40 livros que a nova editora do poeta pretende publicar nos próximos quatro anos. O jornalista e escritor Leandro Sarmatz está organizando as reedições feitas pela Companhia das Letras – até o ano passado, a obra de Drummond era publicada pela Record. “Procuramos formar um conselho editorial de peso. A partir daí, escolhemos a sequência de livros a serem publicados e quem seriam os autores dos posfácios”, conta. Drummond, que completaria 110 anos em 31 de outubro, também será o homenageado deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).






Obra de Drummond ganha vida nova - Caderno G - Gazeta do Povo

terça-feira, 13 de março de 2012

Formação da América vista pela literatura - Caderno G - Gazeta do Povo


O historiador espanhol, radicado em São Paulo, Rafael Ruiz resolveu, em O Espelho da América – De Thomas More a Jorge Luis Borges, livro recém-publicado pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), discutir aspectos fundamentais da história do continente americano nos séculos 17 e 18 por meio da literatura.



Formação da América vista pela literatura - Caderno G - Gazeta do Povo

segunda-feira, 12 de março de 2012

As garotas por trás das músicas - Caderno G - Gazeta do Povo

Quem é a célebre Diana, que dá título à canção mais famosa de Paul Anka? E a femme fatale eternizada na música de Lou Reed com sua banda The Velvet Underground? A “garota com os cabelos sem vida”, descrita em “Life on Mars”, de David Bowie, tinha mesmo um penteado esquisito? E quem é a sedutora Suzanne, que inspirou umas das canções mais célebres do poeta canadense Leonard Cohen?

As histórias pessoais que deram origem a 50 composições mundialmente famosas, ou melhor, quem são as mulheres que as inspiraram e por que, são reveladas detalhadamente em Músicas & Musas: A Verdadeira História por Trás de 50 Clássicos Pop, livro lançado em 2010 e que há poucos meses chegou ao mercado brasileiro pela Editora Gutenberg.


As garotas por trás das músicas - Caderno G - Gazeta do Povo

Festival de Teatro de Curitiba 2012 - Gazeta do Povo

No ano passado, uma mostra cheia de palhaços deu o que falar na cidade durante os dias de Festival. Era a Mostra Seu Nariz, realizada pela Cia. dos Palhaços de Curitiba, que reuniu diversos espetáculos de clown dentro e fora do espaço cultural da companhia, com a proposta de levar o personagem a públicos de todas as idades. Com peças concorridas, a mostra fez sucesso entre crianças e adultos e, neste ano, retorna ao Festival com 17 montagens de companhias do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Quatro apresentações gratuitas ganham espaço no pátio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR).


Festival de Teatro de Curitiba 2012 - Gazeta do Povo

sexta-feira, 9 de março de 2012

A morte na era do iLuto

Por Amir Labaki

Bem-vindos à era do velório virtual. A noção se cristalizou racionalmente apenas horas depois de ir e vir de minhas emoções diante da morte precoce, na semana passada, aos 66 anos, de Davy Jones, o vocalista tampinha, de cabelo em forma de cuia e incerto gingado da telebanda The Monkees, cujo seriado embalou inúmeros fins de dia de minha infância na segunda metade dos anos 1960.

Com a informação instantânea, recebi a notícia minutos depois de o flash pela agência Reuters correr nosso mundo encolhido. Mal li o obituário, parei o que estava fazendo e corri para rever no YouTube alguns clipes que descobrira no fim do ano passado. Em minutos, compartilhei no Facebook e no Twitter tanto a breve notícia como um dos últimos registros de Jones no palco, num reencontro de três dos quatro Monkees originais nos Estados Unidos em 2011.

Logo encontrei postagens semelhantes e alguns contemporâneos curtindo as minhas. Senti-me menos só, numa espécie de iLuto. Incapazes de nos unir a algumas homenagens de corpo presente, criamos uma despedida on-line, instantânea, mas nada menos dolorida.

A primeira vez que vivi semelhante experiência foi há quase três anos, na estúpida morte de Michael Jackson. Em paralelo à avalanche midiática que logo se iniciou, estendendo-se por semanas, irmanamo-nos pelo computador. Antes mesmo de colaborar aqui mesmo nesta coluna com o tsunami de obituários, memórias e celebrações, fui apenas mais um das centenas de "facefriends" a partilhar por meio da onipresente mídia social um clipe de minha cinemateca emocional localizado no YouTube, com o garoto Michael entoando "Ben".

Algo similar aconteceu em outubro com a morte de Steve Jobs. Nesse caso, mais do que nunca, o meio era a mensagem. Nada mais adequado do que celebrar o gênio da Apple no universo que mais do que ninguém ajudou a formatar.

A internet mudou a maneira de vivermos o luto não apenas de ídolos distantes, mas sobretudo o de próximos, como, apenas no último ano, testemunhei com o adeus a Mário Chamie, Gustavo Dahl, Leon Cakoff, Linduarte Noronha e Thomas Farkas - e é bom que pare por aqui. A dor de perdas como essas não depende de formas de mediação, mas sua sociabilização virtual, sem sequer chegar perto de substituir os pêsames pessoais e intransferíveis, acrescentou uma nova forma de apaziguamento.

Os dois mais impressionantes lutos coletivos, vividos em praça pública no Brasil recente, foram bem recuperados por documentários do ano passado: "Senna", de Asif Kapadia, tolamente esnobado pelo último Oscar - mas não pelo Bafta -, e "Tancredo, a Travessia", de Sílvio Tendler. Lá estão as imagens ainda acachapantes das multidões que acompanharam pelas ruas a passagem do féretro, em 1994, do então maior ídolo esportivo nacional e, em 1985, do líder político que protagonizara o último capítulo da lenta transição para o pleno retorno à democracia.

Não sei, se as duas tragédias acontecessem hoje, se destacaríamos no Facebook via YouTube um discurso de Tancredo, mas talvez fosse irresistível escolher nossa manobra preferida de Senna. Nenhum desrespeito na diferenciação, apenas o reconhecimento do estatuto distinto da admiração política, da esfera cívica, e da idolatria esportiva, mais afeita à estética.

Não fomos e creio que tampouco iríamos às portas dos novos edifícios Dakota em Nova York (John Lennon, 1980) ou aos portões de outros Palácios de Buckingham em Londres (Diana, 1997) para depositar arranjos de flores, bilhetes, fotos ou cartazes. Estabelecemos, ou nos apropriamos, de um novo templo pagão, acessível a um clicar de mouse, mais privado, mas ainda assim eminentemente público. Eis a nossa nova forma de reza.

É incrível que sejam necessários episódios como esses, fortuitos e fugazes, a morte de um desconhecido tão íntimo, para compreender como ainda, apesar de tudo, de alguma forma, "I'm a believer".


Amir Labaki é diretor-fundador do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários.



E-mail: labaki@etudoverdade.com.br



Site do festival: www.etudoverdade.com.br

quarta-feira, 7 de março de 2012

Terror e morte na URSS de Stálin



Os expurgos políticos dirigidos por Stálin na União Soviética, na década de 1930 (a partir de 1934), e continuados, em escala menor, até a morte do seu mentor (1953), permanecem uma incógnita histórica. Estudos de vários tipos e tendências apareceram sobre o tema, porém vitimadas, em sua maioria sem saber a causa da punição. A análise sociológica define algumas motivações desse sacrifício humano, mas estaca nos limites da racionalidade a desvendar.

Hoje tem-se a idéia aproximada da dimensão do acontecimento, apesar da inacessibilidade dos arquivos da polícia secreta russa – sucessivamente chamada Cheka, GPU, NKVD e KGB. Declarações de líderes, memórias de sobreviventes, comentários oficiosos e documentos oficiais são as melhores fontes. Deve-se cotejá-las, para fins de equilíbrio com relatos de comunistas hostis à liderança de Moscou, dando-se destaque aos trotsquistas e aos iugoslavos. As estimativas variam, naturalmente; apenas o Estado soviético poderia estabilizá-las, o que se recusa a fazer, não indo além das vagas referências de Kruschev a “muitos milhares de vítimas”, no chamado Informe Secreto ao XX Congresso do Partido, em 1956. Depois de 1962, o Governo da URSS vetou discussões do assunto, e uma discreta campanha de reabilitação do nome de Stálin e do seu tempo teve curso. Essa campanha continua em vigor.

No mais baixo índice de cálculo, todavia, as mortes e prisões desafiam a nossa imaginação e sensibilidade. É-nos impossível percebê-las como coisa viva, no alcance da experiência individual, pois possuem a magnetude das catástrofes da natureza, ou daquelas pragas que Deus criava contra os inimigos dos hebreus. E, permeando o horror e o sofrimentos indizíveis de um povo, ainda ecoa a pergunta do ex-Comissário Executivo do Povo Lakov Livhtis, em 30 de janeiro de 1937, antes de ser executado: “Zachto”? Por quê?

Nem Hitler se compara a Stálin na qualidade da fúria assassina e persecutória. Na qualidade, supera-o. Hitler matava e prendia inimigos do nazismo. Os próprios judeus, no caso, desempenharam o papel dos capitalistas no comunismo. Nenhuma ideologia, idealista ou materialista, ganha impulso sem demônios – todo São Jorge precisa de um dragão para afirmar-se. Hitler mandou fuzilar alguns adeptos, como o Capitão Rohm e o resto da liderança das tropas de choque nazistas, em 1934, mas eles eram um obstáculo comprovado à união de governo civil e exército, indispensável ao sucesso da política externa do ditador. No mais, Hitler foi de uma indulgência a toda prova diante da corrupção, dos vícios e das gafes de seus asseclas.

Já Stálin ordenou de pronto o fuzilamento do comandante do front noroeste da URSS, General Rygachov, porque partes de sua Força Aérea foram destroçadas no solo, nas primeiras horas da invasão nazista, em 22 de junho de 1941. Note-se que a pasmaceira militar do país, cujas armas não estavam sequer de prontidão, era da responsabilidade de Stálin, que recebera avisos da iminente ofensiva de Hitler, via Stafford Cripps, embaixador inglês em Moscou, e Richard Sorge, o principal agente da NKVD no estrangeiro, sediado em Tóquio. Nem por isso (ou talvez, por isso), Stálin deixou de condenar à morte, além de Rygachov, o General Pavlovo (comandante do front oeste), seu chefe do Estado-Maior, Klimovsky, e Korobkov, comandante do IV Exército, jogando sobre eles a culpa das pesadas derrotas e perdas nos primeiros meses de luta.

É possível contra-argumentar que esses infelizes oficiais não pertenciam ao circulo íntimo de Stálin ao contrário de Goering em relação a Hitler. Certo, mas Stálin também fez liquidar companheiros, amigos e parentes. Preferiu perder um filho prisioneiro dos alemães, a trocá-lo por um nazista importante. Essa atitude é aceitável para alguns, como demonstração de heroísmo (à custa da vida do próximo), desumano embora, ou, na melhor das hipóteses, sobre humano, Stálin, porém, pôs na cadeia a mulher de Molotov, seu mais chegado colaborador. Mandou matar o irmão de sua mulher, Nadezhda Alliluyeva, a quem levara ao suicídio, em 1932. Dos 1966 delegados ao “Congresso dos Vitoriosos” (o XVII Congresso do Partido, em janeiro de 1934), 1108 foram fuzilados nos anos seguintes.


Começam as matanças Stálin é igualado a Gengis Khan
http://www.gentedanossaterra.com.br/stalin.html

A ilha-laboratório

Três anos depois de um colapso financeiro devastador, a Islândia é tida como exemplo por manifestantes europeus, economistas reputados e organismos internacionais. Na iminência da derrocada do projeto europeu, o país tem mesmo algo a ensinar?


por João Moreira Salles


http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-65/carta-da-islandia/a-ilha-laboratorio

quinta-feira, 1 de março de 2012

O casal do quarto ao lado pagou um quarto a menos



Por ACOELHOF


Sou do tempo em não havia internet. Antigamente, o sujeito para reservar um hotel recorria a uma agência de viagem, telefonava para a recepção, ou arriscava e resolvia tudo quando chegava ao hotel, se ainda houvesse vaga.

Hoje, num voo, o sujeito que viaja na poltrona ao lado pode ter pago metade do valor que você pagou por uma poltrona igualzinha. Com os hotéis está ocorrendo o mesmo. O casal do quarto ao lado pode ter pago um quarto a menos do que você pagou por um quarto igualzinho.

Com a internet, ficou muito fácil reservar hotéis. Costumamos usar o booking.com, o hotéis.com, o próprio site dos hotéis ou o tripadvisor. E ainda podemos passar uma borracha e cancelar tudo, desde que com alguma antecedência.

O TripAdvisor tem uma desvantagem: nem todos os comentários são de pessoas que de fato se hospedaram. O hotéis.com costuma cobrar antecipadamente pela reserva; se bem que há previsão de reembolso. Preferimos o booking.com: só hóspedes comentam e, geralmente, não há pagamento antecipado pela reserva.

Fora Natal, Réveillon, feriadões ou períodos de alta estação, há barbadas inacreditáveis (principalmente no exterior, aqui pousadas têm preços de resorts). Há tarifas com grandes descontos, mas para essas exige-se débito imediato do total da estada. Algumas são não reembolsáveis. Na maioria das vezes, é melhor pagar um pouco mais e ter a opção de cancelar a reserva.

O principal critério nosso na escolha do hotel é a localização. Pagamos um pouco mais por um bem localizado, não economizamos num hotel lá onde o vento faz a curva. Principalmente, se a estada for curta. Definida a localização, filtramos as opiniões por categorias no booking.com: famílias com filhos, casais maduros, grupos de amigos, viajantes individuais, casais jovens. Depois, é só ordenar pelas notas dos comentaristas.

Dá para confiar nos comentários dos hóspedes? Os comentaristas de hotéis às vezes agem como os esportivos, deixam a razão de lado. Haja emoção. Se uma mulher encontra uma barata no quarto... Às vezes, o hotel é ótimo, mas o sujeito implica com o atendente, que não teria sido muito simpático. Ou naquele exato dia, faltou água. Por isso, caprichamos no filtro, no pente-fino.

Feita a reserva, voltamos ao booking.com algum tempo depois e pesquisamos o mesmo hotel, na mesma data. Foi o que se passou conosco nesta semana. Já tínhamos feito uma reserva há mais de um mês. Ao pesquisarmos novamente o mesmo quarto, no mesmo hotel, na mesma data, vimos que estava 25% mais barato. Desta vez, seremos o casal do quarto ao lado que pagou um quarto a menos.

Por fim, um mea culpa nosso. Muitos comentaristas de hotéis já nos ajudaram, mas não temos ajudado outros viajantes. Raramente fazemos comentários sobre os hotéis depois que nos hospedamos. Foi o caso de uma viagem, em maio de 2011, a uma ilha grega. Reservamos pela internet o hotel do seu Panos, o Aeolos, por recomendação de brasileiros. Seu Panos vai buscá-lo no aeroporto, carregar sua mala, tratá-lo como filho. Assistimos juntos, pela TV, à final da Liga dos Campeões entre Barcelona e Manchester United. Naquele dia, seu Panos trabalhou de garçom, sentou no pior lugar e não deixou ninguém se levantar da poltrona.

No ano passado, logo depois da viagem, recebemos um e-mail do booking.com, mas não fizemos nenhum comentário sobre o hotel do seu Panos. Ele tinha um pecado: a localização. Os brasileiros elogiavam tanto o hotel que não levamos muito em conta logo o principal critério. Por não poder dar uma ótima nota no quesito localização, preferimos não responder ao e-mail. Se no booking.com houvesse o quesito “gente boa”, seu Panos mereceria um dez.

Nossa próxima meta é outra ilha: Fernando de Noronha. Seu Panos nos contou que já foi lá. E, pelo jeito, é melhor que a ilha dele.