sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Vaca amarela



Por Oscar Fortunato


"Quando os indios cansados dos banquetes de carnes de macacos, cobras, jacarés e portugueses avistaram aqueles "montes de carne", mal conseguiram dormir direito naquela noite. Chegavam de Cabo Verde os primeiros ruminantes que, em pouco tempo, tomariam conta da paisagem. Mas a fila dos fast-food anda, literalmente cronometrada e dependente das descendentes daquelas caboverdianas que fascinaram nossos silvícolas na aurora dessa tosca República.


E as vacas foram se multiplicando, obedecendo com rigor o preceito biblíco, a ponto de existirem mais delas do que nós, nessa terra varonil; embora a maioria delas terminará em uma mesa perto de você.

Caluniadas e difamadas, essas senhoras cornudas cansadas de seus trágicos finais invadiram nosso mundo lúdico com suas caras simpáticas e orelhas imensas. Existem ainda aqueles que se divertem com seus sofrimentos, mas como diria meu amigo maestro "você pode tirar o homem de Mozarlândia, mas não pode tirar Mozarlândia do homem".

Como vegetariano, tenho as vacas da mesma maneira que um elefante, pois não vejo neles o pão que sacia a minha fome. E sempre tive carinho com elas. Sempre as achei simpáticas, sejam pretas, brancas, azuis ou até mesmo a saltadora pasoliniana que dá nome a este festival.

Em todo o meu trabalho, tenho o dito do maestro como guia. Não quero fugir da minha Mozarlândia, pode ser que meus buritis tenham poucos sabiás e que as aves nem gorjeiem como as de lá, mas lhe entendo seus cantos e suas lamúrias e elas fazem sentido ao coração, pois o que vai pela cabeça nem o faz. Nessa lógica, me apropriei das máscaras de chifres ornados que colorem as Cavalhadas, evento de origem pagã que incrivelmente resistiu ao tempo nesse lugar em que as ruínas são mais velozes.

Juntei um pouco de rock e arte de rua para chegar na imagem que, na minha concepção iconográfica, somasse todo o meu discurso. E acredito ter alcançado o meu intento. Repetindo mais uma vez meu amigo regente: "Fugir de Mozarlândia é besteira..."

    Artista goiano, Oscar Fortunato [http://www.oscarfortunato.com/], autor de "campanhas" que colorem as ruas da capital de Goiás como o "Carnes Exóticas" e o "Pessoas Soltas".

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