terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Montevidéu, soprando e mordendo

 
 
Por acoelhof
 
Se você pensa em um dia ir a Montevidéu, guarde o que segue, pode ser útil. Caso contrário, não leia, não perca seu tempo.
 
Vou soprar e morder, comentar os pontos positivos e negativos da viagem.
 
Soprando: no Guia de Montevidéu (www.viajenaviagem.com.br), mestre Ricardo Freire foi muito feliz ao escolher as quatro fotos para o “quando ir”,“como chegar”, “onde ficar?” e “o que fazer”: a praça Independência, o teatro Solis, a orla de Pocitos e o Mercado del Puerto, na cidade velha. São esses os pontos obrigatórios de visita (para quem for fanático por futebol, acrescentaria o estádio Centenário).
 
Mordendo: Montevidéu tem poucas atrações, não há muito o que fazer. Dois dias inteiros bastam. Ricardo Freire foi muito gentil quando chamou Pocitos, o melhor bairro para se hospedar, de “Ipanema-Leblon”. Pocitos é uma Ipanema-Leblon com cara de Copacabana dos anos 70, mas sem atrativos.
 
Soprando – Se você combinar o passeio com Punta del Leste, vá em janeiro ou fevereiro.
Mordendo – Se você for somente a Montevidéu, evite janeiro, é muito quente, vá em março ou abril.
 
Soprando: Montevidéu é extremamente arborizada, com muitos parques, e tem uma orla gigante com mais de 20 quilômetros – começa no porto, na cidade velha, e vai até próximo do aeroporto, em Carrasco. Em grande parte da orla, pode-se caminhar, andar de bicicleta, praticar esportes. Não há no Brasil uma cidade que proporcione no quesito parques-orla tanta qualidade de vida. Ponto para quem mora lá.
 
Mordendo: parte da cidade parece abandonada, há muitos edifícios mal conservados, até mesmo em áreas nobres da orla. Fico imaginando a Montevidéu dos anos 30 aos 60, quando quase tudo aquilo já existia, a cidade era uma das mais prósperas da América Latina. Cheiro de tinta, coisa nova, só no bairro dos engomados, Carrasco. Edifícios modernos, uns três, na avenida Dr. Luis de Herrera. Montevidéu parou no tempo.
 
Soprando: a cidade transmite segurança, você pode andar tranquilo pelas ruas, nos melhores bairros, mesmo à noite. Os uruguaios são um povo simples, gentil, que trata bem o turista. Eles ainda têm o bem mais valioso de todos, segurança, um bem que não tem preço e que nós, brasileiros, nunca vamos desfrutar dele.
Mordendo: as ruas não são bem iluminadas, mesmo as próximas da orla, em áreas consideradas nobres. Nos cruzamentos, há jovens limpadores de para-brisas como no Brasil e malabaristas no sinal fechado.
 
Soprando: você pode pagar suas contas em quatro moedas – peso uruguaio, peso argentino, dólar ou real.
 
Mordendo: Montevidéu é uma cidade cara. Li nos jornais de lá que o Uruguai perdeu competitividade no turismo. Os argentinos têm optado pelo Caribe e por Miami. Em Punta del Este é pior, os preços são novaiorquinos. Vi muitos brasileiros pagando em real, mas isso não é vantajoso. Com a cotação que os uruguaios usam para o real, a conta aumenta uns 10%.
Soprando: táxi é barato. A maioria das corridas, partindo de Pocitos, não passa de 15 reais.
 
Mordendo: os taxistas uruguaios não são tão desonestos quanto os argentinos, mas é bom ficar atento. Usam uma tabela para converter o valor da corrida em pesos. Cuidado na conversão e com o trajeto. Alguns dão um jeito de esticar a corrida. Uma saída é se familiarizar um pouco com a cidade, ver bem o mapa antes, e indicar uma avenida principal que o taxista deve pegar. Na volta, de Pocitos, na corrida para o aeroporto o taxímetro marcou 440 pesos. Eles cobram 640. Em reais, é só cortar o zero.
 
Soprando: “Pepe” Mujica, presidente do Uruguai, está dando um desconto de quase 20% para pagamentos no cartão de crédito. É a devolução do imposto, o IVA, para os estrangeiros. Ela é automática, você não precisa pedir depois.
 
Mordendo: o desconto acaba agora em março de 2013.
 
Soprando – Hotel: Cala di Volpi. Fica na Rambla Gandhi, em Pocitos. É muito bem localizado. O hotel fornece bicicletas para passeios na orla. A suíte corner, só um pouco mais cara, é bem ampla e tem uma bela vista da orla. Da para ir a pé aos melhores restaurantes de Montevidéu e ao shopping Punta Carretas.
 
Mordendo: bem que a diária poderia ser mais barata, saiu por 170 dólares. A bicicleta é grátis apenas na primeira hora. O hotel só informa isso depois que você pega a bicicleta. Punta Carretas é o melhor shopping de Montevidéu, mas deixa a desejar, comparado aos brasileiros. E não é bom para compras, é caro.
 
Soprando: recomendamos os quatro restaurantes que seguem, pela ordem de preferência. Com exceção do Garcia, que fica longe, em Carrasco, os outros três ficam próximo da Rambla Gandhi. Os melhores restaurantes e bares de Montevidéu ficam em esquinas. Curioso.
Francis (Luis de la Torre esquina com Montero). Ambiente aprumado, atendimento de primeira, um dos mais caros, por óbvio.
Garcia (Av. Arocena, em Carrasco, próximo ao hotel Casino Carrasco). Aqui comemos a melhor carne da viagem.
La Perdiz (Guipúzcoa esquina com Baliñas, do outro lado da praça do Sheraton).
Tabaré (José Zorrilla de San Martin esquina com Tabaré).
 
Mordendo: os poucos bons restaurantes de Montevidéu são caros. Uma conta-casal, sem vinho, na base de água e uma cerveja, sem sobremesa, beira uns 150 reais. Há o cubierto, uma entrada que eles sempre cobram. Então, pelo menos prove um pouquinho. Para não ficar tão caro, arrisque o “para compartir” em alguns pratos. A gorjeta não está incluída. Não se esqueça dos 10% dos garçons.
 
Soprando – Bares: recomendo apenas o Bar 62 (Miguel Barreiro esquina com Alejandro Chucarro) e o Bar Tranquilo (21 de Setiembre esquina com Roque Graceras). Sempre em esquinas, lembram? Ambos são frequentados por nativos. Na orla, na Rambla Gandhi, o Che Montevideo. Para um programa bem turístico, sem nativos, o Fun Fun.
 
Mordendo: o atendimento do Bar Tranquilo foi muito lento. O garçom demorou a trazer o cardápio, demorou a trazer o prato, demorou a trazer a conta. Só não demorou na hora de receber a propina, a gorjeta. O Che Montevideo está precisando de uma boa reforma. O ambiente está bastante caído. O Fun Fun é um pega-turista. Toda cidade tem pega-turistas. São aqueles lugares que os nativos não frequentam porque sabem que não valem a pena. Por falta de opção, você vai acabar indo ao Fun Fun numa sexta ou num sábado. Muito provavelmente, suas expectativas não serão atendidas.
 
Há três tipos de cidades: as que você nunca deve ir; as que você deve ir apenas uma vez na vida; e as que você deve ir, e sempre que puder, voltar. Exemplo de três, pela ordem: Assunção, Montevidéu e Buenos Aires.
 
Só volto a Montevidéu, se um dia o Fortaleza decidir a Taça Libertadores com o Peñarol. Tá bom, se for o Ceará, também vou lá apoiar os conterrâneos.
 
Abraços
acoelhof

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