terça-feira, 22 de junho de 2010

A VANTAGEM ACADÊMICA DE CUBA

(colaboração nildson.avila)

Por Martin Carnoy.

A respeito de um estudo comparativo do desempenho de alunos da escola fundamental em Cuba, Brasil e Chile, na tentativa de descobrir que fatores eram relevantes para o desempenho dos alunos em matemática e interpretação de textos..

Um dos fatores apontados seria que os professores não seriam supervisionados, sendo senhores independentes e absolutos da sala de aula..

Pg 154:

“No caso das principais variáveis que ligam a construção curricular ao ensino do currículo — capacidade docente adquirida através da formação, indução do novo docente e supervisão da prática do ensino e desenvolvimento profissional em serviço —, o Brasil e o Chile realizam um trabalho que nem chega perto do de Cuba e esta parece ser a razão de grande parte da diferença do desempenho dos alunos entre esses países.
Os professores cubanos saem do ensino médio com melhor conhecimento dos conteúdos deste nível de ensino, obtêm uma formação para o magistério centrada nos métodos práticos de ensino, com foco no currículo nacional e são supervisionados e capacitados nos primeiros anos de suas carreiras por gestores escolares e professores orientadores. Quase todas as escolas são organizadas em torno das práticas de ensino, um foco que difere do da maioria das escolas brasileiras e chilenas.

Os principais efeitos dos sistemas de supervisão de baixa qualidade do Brasil e do Chile são que muitos professores nunca aprendem a ensinar eficazmente e são incapazes de realizar um bom trabalho de ensino do currículo obrigatório. Por conseguinte, grande quantidade do conteúdo curricular nunca é oferecida a muitos alunos, e eles e seus pais muitas vezes não sabem quão pouco eles aprenderam, em comparação ao que poderiam ter aprendido, se lhes fosse dada a oportunidade.

O pior resultado da supervisão de baixa qualidade nesses países é o absenteísmo docente. Com base em nossas observações e entrevistas, o sistema brasileiro, entre os três, é particularmente vulnerável ao absenteísmo, embora não tenhamos nenhum estudo abrangente para sustentar essa assertiva. Nesse caso, os estudantes recebem um volume menor de conteúdo e ficam marginalizados da sociedade moderna. Ao contrário da baixa qualidade “oculta” onde o professor comparece, mas oferece educação de baixa qualidade, quando os professores se ausentam os pais aparentemente compreendem que a qualidade é baixa e reagem reduzindo a pressão sobre seus filhos para freqüentar a escola.

Serão essas diferenças inerentes aos contextos sociopolíticos? Em parte, sim. É impossível estudar esses sistemas e observar a maneira pela qual as escolas funcionam dentro deles sem concluir que grandes diferenças existem no ambiente que cerca a educação e transmissão de conhecimentos em cada um. É muito mais fácil para um professor oferecer educação de qualidade em uma sociedade onde basicamente todas as crianças vão para a escola na idade correta e estão bem alimentadas (???), onde o sucesso educacional é importante para a maioria das famílias e onde as famílias reconhecem a dedicação dos professores e das escolas a uma educação de qualidade para seus filhos.

Mas, em parte, não. Muitas empresas brasileiras e chilenas atuam com eficiência, competindo nos mercados mundiais, supervisionando seus funcionários e gestores, ajudando-os a aumentar a produtividade, monitorando o produto e os lucros, prestando informações aos funcionários que ajudam as empresas a incrementar os lucros. Por que o sistema educacional não poderia empregar as mesmas técnicas nas suas escolas, como as utilizadas pelas empresas privadas da mesma sociedade? Isso deveria ser especialmente verdade no Chile, onde mais de 45% dos estudantes freqüentam escolas privadas. No entanto, as escolas brasileiras e chilenas não copiam as empresas privadas, enquanto em Cuba, ironicamente, as escolas dirigidas pelo governo são organizadas para funcionar como muitas empresas privadas tradicionais das sociedades capitalistas. Elas supervisionam seus “funcionários-gerentes’ ajudando-os a aumentar a produtividade, a conhecer melhor seus clientes e a monitorar o produto escolar com cuidado. Os municípios (e estados), no Brasil e no Chile, podem adotar esses métodos — ao menos alguns deles — mesmo dentro do atual contexto sociopolítico. Eles também podem certificar os professores recém-formados e intervir de diversas maneiras para tentar melhorar a freqüência docente nas escolas rurais.

O Brasil e o Chile podem começar a focalizar seus esforços nos fatores que funcionam em Cuba sem se tornar Estados autoritários ou incorporar completamente a ideologia (revolucionária) da sociedade cubana. Vamos explorar as implicações deste ponto no último capítulo.”

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