sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Arrebanhando o rebanhão



Tenho um amigo que é do contra em todas essas campanhas que ele
chama de "jogar o rebanhão todo no mesmo saco".
    
Assim, no Dia Nacional de Combate ao Fumo, ele, um não fumante
convicto, pede cigarro para os amigos que fumam e sai jogando fumaça
pelos ares, todo satisfeito.
  
 No Dia Nacional da Cachaça só toma água mineral. Sem gás.
 
  No Dia Nacional da Saúde, come apenas alimentos não recomendados
pelos médicos. Os que dão mais prazer.
    
No Dia Mundial sem Carne nem precisa dizer o que acontece. A
churrasqueira pega fogo desde a hora em que ele acorda até à meia noite.
    
E, claro, no Dia Mundial sem Carros, ele, que gosta de andar a pé,
de ônibus e de metrô, tira o carro da garagem e sai por aí fazendo suas
barbeiradas.
    
Assim foi ontem, dia 22/09/2011. E as ruas estavam entupidas de
carros. E de barbeiros. Juro que, ao sair de casa, após esperar o
trânsito diminuir, por volta de nove horas da manhã, quase fui jogado
para fora da estrada umas duas vezes. Uma por carro, outra por um dos
raros ônibus que circulam pela cidade.
    
Como somos os campeões de acidentes e morte no trânsito, aposto que
o recorde no Dia Mundial sem Carros está garantido.
    
Por essas e outras eu também não gosto muito dessas campanhas, não.
Principalmente porque não vejo resultado nenhum. Pior, os organizadores
devem detestar os seres humanos objeto das campanhas, pois, nesses dias,
a qualidade de vida da população piora bastante.
    
Pode até dar certo, principalmente quando se trata de vacinação em
massa, arrecadação de dinheiro às toneladas e eventos sertanejos, de
axé, micarê e outros, grátis ou não.
    
Mas a maioria é um fracasso total. De adesão no dia e de reflexos
nos dias subsequentes. Se diferenciar de zero, juro que ninguém consegue
medir a diferença.
    
Imaginemos, apenas por alguns segundos, um ser humano sem ar para
respirar ou sem água para beber!
    
Pois é, podemos até imaginar, mas a realidade nos permite dizer com
toda a certeza que é uma situação impossível.
    
A mesma coisa se pode dizer, hoje, de um mundo sem queimar
petróleo. A economia de todos os países do hemisfério - repito: todos os
países - ruiriam com mais rapidez do que se o dólar virar purpurina.
    
Então, nas atuais condições de conhecimentos tecnológicos e de
modelo econômico em que o mundo está escorado, um Dia Mundial sem Carros
serve para quê mesmo? Para exercitar nossa santa hipocrisia?
    
Deve ter alguma uma forma de melhorar as coisas sem piorar a vida
das pessoas.

Fernando Gurgel Filho

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