sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A pátria vale o sacrifício


Em toda campanha eleitoral os ouvidos dos eleitores são a principal vítima. Quanto aos candidatos, os intestinos que respondam. Poucos têm coragem de recusar iguarias com sustança, seria afronta aos eleitores.

Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, provou uma legítima buchada de bode no interior de Pernambuco em 1994. Na ocasião, o ex-presidente aprovou e garantiu que a buchada era um prato sofisticado muito apreciado em Paris. O bode à parisiense, a buchadá de bodê, era degustado em restaurantes chic chic, segundo FHC.

Convenhamos, um bucho costurado como se fosse uma trouxa, contendo miúdos, tripas, sangue coalhado, pimenta do reino, cebola roxa, vinagre e outros acessórios exige alguma cautela. Não foram poucos os candidatos do PSDB que ficaram num mato sem tucano. Se bem que muitos devem a eleição a uma buchada. Quem garante que a vitória de FHC em 1994 não se deveu ao bode? À época, o ex-presidente não hesitou, segurou o caprino pelos chifres e demonstrou intimidade diante do eleitorado.

Mas há riscos na degustação. Ainda que os candidatos queiram ficar a qualquer custo por cima da carne seca, todos eles sabem que o cheiro do povo e o da buchada são fortes. É tapar o nariz e seguir adiante, pois se a buchada não for vencida a derrota é certa.

Na eleição do sucessor do general Figueiredo, o candidato Paulo Maluf se recusou a encarar o prato num bairro nordestino da capital paulista. Enquanto isso, no norte de Minas Gerais, Tancredo Neves franzia a testa e se lambuzava. O mineiro ganhou, mas a saúde dele já inspirava cuidados. Aquela eleição foi indireta e a buchada foi direto ao ponto. Azar do país e sorte de Sarney, que se tornou presidente graças a uma buchada de bode.


acoelhof Fortaleza (acoelhof@gmail.com)

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