quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Uma combinação do Mal: Excesso de Informações & Pressa




Por J. Augusto V. Camera - Rionet

“O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.” (Fernando Pessoa).

Nicholas Carr, norte-americano pesquisador, jornalista e autor da obra The Shallows: What the Internet is doing to our Brains, mostra como a web afeta a mente.

O escritor detalha como o cérebro se ajusta às fontes de informação e descreve como a leitura na internet modifica a mente e melhora a capacidade de tomar decisões rápidas.
Hoje, as pessoas leem menos livros e evitam os textos longos. Isso faz com que se reduza a concentração, a introspecção e a contemplação. O uso da web torna o indivíduo capaz de localizar informações com rapidez e permite selecionar textos, porém, tudo em detrimento da forma acadêmica de análise e de interpretação.
A ausência de foco trava a memória de longo prazo e causa desconcentração. "Nós não nos envolvemos com as funções de interpretação de nossos cérebros", diz o autor. Os livros ajudam a proteger o cérebro da desatenção, ao fazer a mente focar um tema de cada vez.
As novas tecnologias, v.g., Kindle e iPad, transformam os livros. Escritores cada vez mais evitam frases de sentido complicado, redigem menos e de modo mais conciso.
Muitos acreditam que fazer diversas coisas simultaneamente incrementa a produtividade; contudo, as pesquisas demonstram o oposto. Multitarefas dificultam a concentração e a seleção, necessários para ignorarmos informações não relevantes. Pior: mesmo após a pessoa se desligar, o pensamento ainda permanece fragmentado.
Claude Shanon, autor da obra “A Mathematical Theory of Communication”, revela que informação é tudo que reduz incerteza, mas o que se vê hoje é uma explosão de dados e de fatos que, isoladamente, não possuem significado nem produzem compreensão. Por isso, funcionam como “não-informação”.
Se o indivíduo não consegue coletar e transformar os dados e os fatos em informação, de nada vale ter acesso a milhares de dados. Ao contrário, é possível que essa avalanche de “não-informação” dificulte a tarefa de transformar isso, primeiro em informação útil, e depois em conhecimento aplicado.
As crianças atuais nascem sabendo programar o forno micro-ondas e mexer nas configurações da TV. No entanto, ao crescerem, terão menor senso crítico e independência que as de outras gerações. Infelizmente, estarão acostumadas a terem tudo pronto, mastigado.
A música é capaz de induzir mudanças no cérebro. Cientistas conduziram uma pesquisa sobre um grupo de ratos com o escopo de descobrir neles os efeitos da música estilo rock. Os roedores, ao som do rock, foram ficando progressivamente desorientados. Por fim, tornaram-se incapazes de completar o labirinto.
Depois que os cientistas dissecaram os cérebros dos ratos, constatou-se que foram submetidos a mudanças estruturais anormais. Os neurônios haviam crescido de forma descontrolada em todos os sentidos. Foram verificados também aumentos consideráveis no RNA mensageiro, que está envolvido na formação da memória.
Posteriormente, outros cientistas repetiram o experimento e chegaram a conclusões parecidas. Contudo, não se pode ir adiante, pois os ratos que ouviam o rock mataram-se uns aos outros. O estudo demonstrou que se os ratos forem expostos à música desarmônica, desenvolvem danos nos nervos cerebrais e têm "degradação do comportamento".
O cérebro humano poderá mudar se crianças estiverem expostas a ruídos desarmônicos. No Brasil e nos USA 20% das crianças sofrem de alguma espécie de distúrbio mental. Pelo menos 5 milhões de crianças e adolescentes norte-americanas sofrem de distúrbio mental GRAVE.
Numa sociedade em que se prestigiam valores como rapidez e pressa, o tempo se torna artigo de luxo. Ainda assim, corremos e tiramos de nós qualquer possibilidade de ter tempo livre ou menos apressado.
É verdade que a tecnologia da informação traz benefícios. Acessar, em tempo real, informações sobre quase tudo no mundo e poder estabelecer contato direto com as fontes de informações, representa considerável mudança de paradigma. Há informação demais e tempo de menos.
Informações em quantidade sob a forma de textos, análises, interpretações superficiais, críticas, opiniões, ao invés de embasar o conhecimento e auxiliar a tomada de decisão, acaba causando a dispersão do conteúdo informacional que pode gerar conclusões mal fundamentadas e decisões equivocadas.
André Azevedo, jornalista, acredita que o excesso de informação na mídia causa um relativismo absoluto nas concepções humanas ou um “sentimento de impotência, que costuma levar o indivíduo à apatia, ao conformismo, ao cinismo ou mesmo niilismo - pois a constelação de informações inviabiliza a hierarquia de valores do receptor, impossibilitando-o de avaliar o que é de fato fundamental e o que é supérfluo”.
O canadense Carl Honoré, autor do livro Devagar, propõe a desaceleração para se viver melhor. Não quer dizer voltar ao passado ou adotar o ritmo da lesma ou do caracol, mas ter pressa quando fizer sentido.
Na cultura fast forward, ‘lento’ e ‘devagar’ são palavras banidas. Em Londres, há uma academia que oferece cursos de speed yoga! Nos USA já há funeral drive-through, em estilo McDonald’s: você para e, sem descer do carro, dá uma olhada no caixão.”
Carl Honoré era um viciado em correria. A ficha caiu quando ele foi comprar um livro com histórias de um minuto para crianças: “Achei que iria economizar tempo com meu filho de dois anos, que gosta de ouvir histórias antes de dormir, e obteria com isso mais meia hora para ler o jornal, responder e-mails etc. Só que aí me dei conta do absurdo da situação”.
Começou a pesquisar a cultura da pressa e mudou o ritmo de vida. Lembra que a primeira coisa que se faz ao acordar é olhar a hora. A partir daí, não paramos de correr contra o relógio. A doença da pressa, segundo ele, além de levar à exaustão, estimula a raiva.
Vivemos irritados e esbravejando contra o congestionamento no trânsito, a fila, o computador lento, pessoas lentas, o elevador que para em todos os andares, a dieta que ainda não deu resultado e o táxi que não chega. Tudo é “para ontem”.
Dois comportamentos estão difíceis de encontrar: fazer uma coisa de cada vez e nada fazer. Ficar à toa nos aflige. Só ouvir música, só responder e-mails ou só conversar com alguém parece ser uma perda de tempo — importa “otimizar” a vida e fazer várias coisas ao mesmo tempo, ainda que nada saia bem feito ou que não se encontre prazer em nada.
Carl Honoré escreveria um epitáfio para si quando vivia correndo e outro agora que sabe pisar no freio. O primeiro seria “Viveu e morreu com pressa”. O segundo, “O tempo foi seu aliado”.
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J. Augusto V. Camera é Advogado Especialista e Analista na Adrja

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